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Onda de protestos

Revolta reflete crise espanhola

Insatisfeitos com o desemprego e as políticas sociais do governo, manifestantes tomam as praças das principais cidades da Espanha

Milhares de manifestantes se reuniram na Praça Porta do Sol, em Madri, para pedir “democracia de verdade”, moradias e empregos, segurando cartazes com dizeres como “Deixem a minha aposentadoria em paz” | Javier Soriano/AFP
Milhares de manifestantes se reuniram na Praça Porta do Sol, em Madri, para pedir “democracia de verdade”, moradias e empregos, segurando cartazes com dizeres como “Deixem a minha aposentadoria em paz” (Foto: Javier Soriano/AFP)

Madri - A Espanha enfrenta uma crise social sem precedentes na "era do euro". Desde o dia 15 de maio, milhares de pessoas organizadas em grandes manifestações lotam as praças públicas de todo o país. As paredes em torno da Praça Porta do Sol (ou Puerta del Sol, em espanhol), em Madri, foram tomadas por cartazes que pedem uma revolução democrática. Faixas trazem apelos como "Deixem a minha aposentadoria em paz" e "Violência é ter duas faculdades, um mestrado e ganhar 600 euros. Sem contrato".

Revoltados com a crescente taxa de desemprego, que afeta principalmente os jovens, os espanhóis aproveitaram as eleições locais de 22 de maio e se organizaram para sair às ruas e mostrar sua insatisfação. "Não votem neles", "Eles não nos representam" e "Meu salário não é digno" são alguns dos principais motes dos manifestantes, que exigem mudanças e uma democracia mais participativa.

Em um país profundamente arraigado por uma política bipartidária, claramente dividida entre direita e esquerda, a população – que enfrenta uma taxa de desemprego superior a 20% – se mobilizou por meio da internet para sair às ruas e pedir à sociedade que não votasse nem no Partido Popular (PP), nem no Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que controlam o país.

"Não votem neles"

Os blogueiros e tuiteiros mais influentes do país lançaram essa fagulha, que unida ao momento econômico do país, aos recortes sociais cada vez mais comuns no governo socialista de José Luiz Rodriguez Zapatero e a falta de propostas da direita, uniu a força virtual de "Não votem neles" com os grupos "Juventude sem Fu­­turo" e "Real Democracia Já".

Juntos, esses movimentos apartidários trabalharam durante dois meses para organizar a manifestação do dia 15 de maio, batizada de 15M pelos meios de comunicação espanhóis, com o lema "Dominem as Ruas".

A manifestação mobilizou milhares de pessoas em Madri e em outras 50 cidades espanholas, reunindo empresários, aposentados, professores universitários, estudantes e desempregados. A idade dos manifestantes está em torno de 30 a 40 anos, ainda considerados jovens para os padrões europeus. Esse grupo encontra muitas dificuldades para entrar no mercado laboral e prefere atrasar a saída das universidades para evitar a realidade do mercado.

Enrique Dans, professor do MBA do Instituto de Empresas em Madri e um dos blogueiros mais lidos e influentes do país, foi um dos organizadores do movimento "Não votem neles": "Na primeira manifestação reunimos milhares de pessoas de maneira totalmente organizada e pacífica. Encontrei empresários, professores do Instituto de Empresas e ex-alunos, gente de todas as idades durante a passeata", conta.

A maior concentração na Porta do Sol ocorreu na sexta-feira que antecedeu as eleições do dia 22 de maio. Foram 28 mil cidadãos desafiando a "jornada de reflexão", que dura as 24 horas que antecedem às eleições e proíbe atos eleitorais. Apesar da proibição, a polícia não interferiu.

A vitória do Partido Popular nas urnas refletiu a insatisfação popular com o PSOE, que governa o país, mas não acabou com o movimento. Mesmo depois das eleições, os manifestantes não abandonaram o acampamento. Um dos porta-vozes do movimento, que prefere não se identificar, disse que eles não têm previsão de voltar às suas casas. "Estamos aqui reunidos em assembleias, buscando uma saída social à crise e debatendo temas importantes. Somos organizados pelas nossas próprias comissões e não temos data para terminar."

Os próximos passos dos acampados na Porta do Sol são replicar os modelos de assembleias e grupos de discussão em cada bairro da cidade de Madri.

Onda de protestos

Outras cidades europeias começaram a se movimentar em pe­­quenas ou médias mobilizações pacíficas, pedindo mudanças democráticas em seus países. Itália, Grécia e Portugal são os principais exemplos. Todo o fluxo de informação entre esses grupos se dá por meio das redes sociais, de maneira aberta, principalmente no Twitter e em blogs.

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