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Milhares de manifestantes se reuniram na Praça Porta do Sol, em Madri, para pedir “democracia de verdade”, moradias e empregos, segurando cartazes com dizeres como “Deixem a minha aposentadoria em paz” | Javier Soriano/AFP
Milhares de manifestantes se reuniram na Praça Porta do Sol, em Madri, para pedir “democracia de verdade”, moradias e empregos, segurando cartazes com dizeres como “Deixem a minha aposentadoria em paz”| Foto: Javier Soriano/AFP

O que vem depois das megamanifestações?

Após as grandes manifestações, a questão que fica é se haverá resultados concretos para as populações . Em 2001, diante da crise econômica na Argen­tina, milhões de manifestantes protestaram com o lema "¡Que se vayan todos!" ("Que saiam todos!"), com a reivindicação de que o presidente Fernando de la Rúa renunciasse e que o sistema político mu­­dasse. O presidente renunciou, mas o sistema não mudou tanto e, até hoje, a economia do país continua tropeçando nas altas taxas de inflação.

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O que querem

Principais reivindicações dos protestos em 2011:

Espanha

- Mudanças na lei eleitoral

- Moradia

- Empregos

- Democracia real, sem polarização entre dois partidos (PP e PSOE)

- Contra à corrupção

- Denúncia à irresponsabilidade da gestão econômica do país

- Contra os aumentos dos impostos

- Contra privatizações

Grécia

- Contra medidas de austeridade (congelamento dos salários, aumento de impostos, cortes nos fundos de pensão)

Egito

- Democracia

- Empregos

- Pela suspensão da lei de emergência (que restringe liberdades civis)

- Pela saída do ministro do Interior

- Adoção de um limite de tempo ao mandato presidencial - o que poderia levar ao fim do governo

- Pela renúncia de Mubarak

Tunísia

- Democracia

- Queda do ditador Zine el Abidine Ben Ali

- Empregos

Líbia

- Democracia

- Fim do regime de Kadafi

Síria

- Democracia

- Fim do estado de emergência

- Libertação de todos os presos políticos

- Fim das prisões arbitrárias

Madri - A Espanha enfrenta uma crise social sem precedentes na "era do euro". Desde o dia 15 de maio, milhares de pessoas organizadas em grandes manifestações lotam as praças públicas de todo o país. As paredes em torno da Praça Porta do Sol (ou Puerta del Sol, em espanhol), em Madri, foram tomadas por cartazes que pedem uma revolução democrática. Faixas trazem apelos como "Deixem a minha aposentadoria em paz" e "Violência é ter duas faculdades, um mestrado e ganhar 600 euros. Sem contrato".

Revoltados com a crescente taxa de desemprego, que afeta principalmente os jovens, os espanhóis aproveitaram as eleições locais de 22 de maio e se organizaram para sair às ruas e mostrar sua insatisfação. "Não votem neles", "Eles não nos representam" e "Meu salário não é digno" são alguns dos principais motes dos manifestantes, que exigem mudanças e uma democracia mais participativa.

Em um país profundamente arraigado por uma política bipartidária, claramente dividida entre direita e esquerda, a população – que enfrenta uma taxa de desemprego superior a 20% – se mobilizou por meio da internet para sair às ruas e pedir à sociedade que não votasse nem no Partido Popular (PP), nem no Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que controlam o país.

"Não votem neles"

Os blogueiros e tuiteiros mais influentes do país lançaram essa fagulha, que unida ao momento econômico do país, aos recortes sociais cada vez mais comuns no governo socialista de José Luiz Rodriguez Zapatero e a falta de propostas da direita, uniu a força virtual de "Não votem neles" com os grupos "Juventude sem Fu­­turo" e "Real Democracia Já".

Juntos, esses movimentos apartidários trabalharam durante dois meses para organizar a manifestação do dia 15 de maio, batizada de 15M pelos meios de comunicação espanhóis, com o lema "Dominem as Ruas".

A manifestação mobilizou milhares de pessoas em Madri e em outras 50 cidades espanholas, reunindo empresários, aposentados, professores universitários, estudantes e desempregados. A idade dos manifestantes está em torno de 30 a 40 anos, ainda considerados jovens para os padrões europeus. Esse grupo encontra muitas dificuldades para entrar no mercado laboral e prefere atrasar a saída das universidades para evitar a realidade do mercado.

Enrique Dans, professor do MBA do Instituto de Empresas em Madri e um dos blogueiros mais lidos e influentes do país, foi um dos organizadores do movimento "Não votem neles": "Na primeira manifestação reunimos milhares de pessoas de maneira totalmente organizada e pacífica. Encontrei empresários, professores do Instituto de Empresas e ex-alunos, gente de todas as idades durante a passeata", conta.

A maior concentração na Porta do Sol ocorreu na sexta-feira que antecedeu as eleições do dia 22 de maio. Foram 28 mil cidadãos desafiando a "jornada de reflexão", que dura as 24 horas que antecedem às eleições e proíbe atos eleitorais. Apesar da proibição, a polícia não interferiu.

A vitória do Partido Popular nas urnas refletiu a insatisfação popular com o PSOE, que governa o país, mas não acabou com o movimento. Mesmo depois das eleições, os manifestantes não abandonaram o acampamento. Um dos porta-vozes do movimento, que prefere não se identificar, disse que eles não têm previsão de voltar às suas casas. "Estamos aqui reunidos em assembleias, buscando uma saída social à crise e debatendo temas importantes. Somos organizados pelas nossas próprias comissões e não temos data para terminar."

Os próximos passos dos acampados na Porta do Sol são replicar os modelos de assembleias e grupos de discussão em cada bairro da cidade de Madri.

Onda de protestos

Outras cidades europeias começaram a se movimentar em pe­­quenas ou médias mobilizações pacíficas, pedindo mudanças democráticas em seus países. Itália, Grécia e Portugal são os principais exemplos. Todo o fluxo de informação entre esses grupos se dá por meio das redes sociais, de maneira aberta, principalmente no Twitter e em blogs.

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