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Ary Graça vai comandar a Federação Internacional de Vôlei | FIVB
Ary Graça vai comandar a Federação Internacional de Vôlei| Foto: FIVB

Paraná

Comunidade islâmica de Foz do Iguaçu faz passeata

Denise Paro, da Sucursal

A comunidade mulçumana de Foz do Iguaçu saiu às ruas ontem em protesto pacífico contra o filme anti-Islã "Inocência dos Muçulmanos", produzido nos Estados Unidos. Cerca de 300 pessoas participaram de uma passeata, iniciada na Avenida Brasil, que terminou com um ato na Praça das Nações, centro da cidade.

Com faixas e bandeiras, homens, mulheres e jovens clamavam por liberdade religiosa e respeito ao islamismo. "Nós, enquanto a segunda maior colônia mulçumana do Brasil não poderíamos deixar isso (as manifestações contra o filme) passar em branco", disse o presidente do Centro Cultural Beneficente Islâmico e membro do comitê organizador do movimento, Faisal Ismail.

Documentos

Mulçumanas pedem liberdade para fazer foto com véu islâmico

Vereadores de Foz do Iguaçu aprovaram requerimento para garantir às mulheres mulçumanas o direito de usar o véu islâmico (hijab) para fazer fotos usadas em documentos. A proposição foi enviada ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PR), Instituto de Identificação do Paraná e ao Ministério da Justiça, mas para ser colocada em prática depende da aprovação de cada órgão. Foz do Iguaçu tem a segunda maior colônia árabe-libanesa do Brasil, depois da localizada em São Paulo, com cerca de 22 mil imigrantes e descendentes. A maioria segue o islamismo.

Hoje as mulçumanas não encontram barreiras na emissão do passaporte porque é permitido fazer a foto com o véu. No entanto, os constrangimentos aparecem quando é necessário renovar ou tirar a primeira via da carteira de motorista e de identidade.

Habituada a receber mulçumanas na repartição, a chefe interina da 16ª Ciretran, de Foz do Iguaçu, Marta Matkievicz, diz que quando é necessário fotografar uma mulher de véu uma funcionária mulher é quem faz o atendimento. No entanto, a obrigação de usar o acessório permanece porque tem base em uma resolução de 2006 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) na qual está claro que o candidato ou condutor não pode tirar a foto com óculos, boné, gorros, chapéus ou qualquer outro item ou acessório que cubra parte do rosto ou da cabeça.

Os órgãos têm 30 dias para se posicionar a respeito do requerimento dos vereadores, aprovado dia 13 de setembro.

Pela paz

Em São Paulo, islâmicos fazem manifestação pacífica

Sob chuva fina, a comunidade islâmica em São Paulo protestou ontem contra o filme norte-americano "Inocência dos Muçulmanos". Segundo cálculo da Polícia Militar, o evento reuniu cerca de 600 pessoas.

Com um carro de som à frente, o grupo se concentrou na mesquita do Brás, ganhando, depois, as ruas Oriente e Maria Marcolino. O trajeto foi percorrido em cerca de meia hora. Ao longo da passeata, os manifestantes carregavam diversas placas e gritavam palavras de ordem em árabe, em uníssono. Crianças levavam bandeiras do Brasil.

Os discursos se alternaram entre o árabe em português: "O islã vem da paz, somos contra o terrorismo". Em uma das faixas em português, lia-se: "Será que ofender um profeta e um bilhão e 600 milhões de pessoas é liberdade de expressão?".

A morte de 19 pessoas no Paquistão fez do dia de ontem o mais sangrento desde o início de protestos no mundo muçulmano contra um vídeo contrário ao Islã.

A sexta-feira, dia de rezas para os islâmicos, costuma concentrar manifestações políticas. Desde a semana passada, o alvo é o filme "Inocência dos Muçulmanos", que satiriza o profeta Maomé.

No Paquistão, o governo declarou ontem como feriado para "o amor pelo profeta", para encorajar atos pacíficos. Além das mortes, o país teve 160 feridos. Em Peshawar, a polícia atirou contra a multidão que tentava incendiar um cinema.

Manifestantes munidos de pedras também entraram em conflito com autoridades nas cidades de Lahore, Karachi, a maior do país, e na capital, Islamabad.

As autoridades bloquearam serviços de celular em 15 grandes centros urbanos, para evitar o acionamento remoto de bombas.

Mundo

Cerca de 10 mil muçulmanos também se reuniram em Dacca, na capital de Bangladesh, após as orações. Eles queimaram bandeiras dos EUA e da França – esta última, pela publicação de charges de Maomé no semanário humorístico parisiense Charlie Hebdo.

A tensão na França aumentou após um pedido da­­ líder de extrema-direita Ma­­rine Le Pen para proibir o véu muçulmano e a quipá judaica em todos os espaços públicos do país.

A embaixada francesa ainda foi alvo de um protesto pacífico em Teerã, com cem pessoas, aproximadamente, e que durou duas horas.

Seguidores de grupos xiitas ainda tomaram as ruas de Basra, no Iraque, carregando bandeiras do país e pôsteres do supremo líder iraniano, o aiatolá Khamenei. Os atos foram contra os EUA, França e Israel.

No Egito, as autoridades religiosas clamaram por demonstrações não violentas. O governo tunisiano, islâmico, seguindo o exemplo da França, decidiu proibir qualquer tipo de manifestação.

Nigéria, Uganda e a região indiana da Cachemira também foram palco de atos.

Brasil

A Embaixada do Brasil no Paquistão não abriu suas portas hoje. A mesma decisão foi tomada por outros países, como a França e os Estados Unidos, que temiam que suas representações diplomáticas sofressem ataques devido aos protestos, que já duram dez dias, contra um filme anti-islã produzido nos EUA e divulgado pela internet.

O Itamaraty afirma que o posto brasileiro volta a funcionar normalmente na próxima semana. De acordo com relatório da pasta de abril deste ano, a embaixada conta com dois diplomatas e cinco servidores.

OpiniãoOs desafios para o Islã do século 21

Roger Cohen, colunista do jornal The New York Times

O mundo muçulmano não pode ficar em cima do muro. Ele não pode pôr o Islã no centro de sua vida política – e, em casos extremos, de violência política – e, ao mesmo tempo, declarar que a religião está fora dos limites da contestação e ridicularização.

O Islã é uma das três grandes religiões monoteístas. Das três, é a mais jovem por vários séculos e, talvez por isso, é a mais fervorosa e turbulenta. E é também, em diversas formas, um movimento, uma referência e uma inspiração política.

A política é como um jogo de luta corporal. Se os partidos emergentes das nações em transição – como a Irmandade Muçulmana no Egito e o Ennahda na Tunísia – quiserem honrar os termos do governo democrático, terão de conceder que não têm monopólio sobre a verdade, que as prescrições do Islã são maleáveis e discutíveis, e que correntes significativas em suas sociedades têm convicções, e até mesmo fé, muito diferentes.

As últimas semanas têm sido desanimadoras. Ninguém espera que essas sociedades adotem – ou até mesmo compreendam plenamente – um padrão de liberdade de expressão ao estilo norte-americano; elas terão que deitar suas bases políticas e culturais inspiradas pelo desejo ainda fervente de escapar do despotismo, seja secular ou teocrático, e pela posição central da fé.

Mas os fracassos na Tunísia, na Líbia e no Egito em controlar as multidões violentas de salafistas enfurecidos com a ridicularização do Islã e do profeta Maomé pela América e Europa sugerem uma ambivalência inaceitável: o governo da lei terrena deverá prevalecer sobre a indignação divina.

O mundo já tentou ter repúblicas muçulmanas e descobriu que elas são contraditórias. Como ilustra o Irã, elas não funcionam: instituições republicanas, moldadas pelos desejos de homens e mulheres, caem vitimizadas pela superestrutura muçulmana.

O grande desafio da Primavera Árabe é provar que, como na Turquia, partidos de inspiração muçulmana são capazes de adotar um pluralismo moderno e, assim, tirar suas sociedades de uma cultura de sofrimento e vitimização, rumo a uma cultura de criatividade e agentividade.

Tradução: Adriano Scandolara.

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