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General Pancho Villa (o terceiro da dir. para a esq.) junto a outros rebeldes revolucionários: homem que apoiou Francisco Madero no combate contra a ditadura de Porfirio Díaz | Wikimedia Commons
General Pancho Villa (o terceiro da dir. para a esq.) junto a outros rebeldes revolucionários: homem que apoiou Francisco Madero no combate contra a ditadura de Porfirio Díaz| Foto: Wikimedia Commons

Herança

Levante guarda legitimidade

O legado deixado pelo levante de 1910 no México deixou marcas profundas na história política e social do país. "A Revolução Mexicana resultou na adoção de uma Constituição progressista, a de 1910. Também incluiu trabalhadores urbanos e do campo no processo político do país", explica o professor Carlos Vidigal, da UnB.

Mas nem tudo são vantagens quando se fala na herança deixada pelo levante mexicano. O Partido da Revolução Nacional (PRN), que surge no México em 1929, acabou por se perpetuar no poder até o ano 2000, tornando-se a organização política que exerceu maior influência junto à vida pública na história mexicana.

Carlos Barbosa, da Unesp, ainda afirma que, ao contrário de outras revoluções, o levante mexicano – mesmo sendo muito questionado por historiadores e acadêmicos – ainda consegue guardar um pouco da sua legitimidade. "Ela vai marcar a América Latina durante toda a primeira metade do século 20, até a Revolução Cubana. Por isso, vale dizer que a Revolução Mexicana foi um grande modelo de revolução social não apenas para a América Latina, mas também para todo o mundo", conclui o professor.

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A Revolução Mexicana foi o primeiro grande levante social ocorrido no século 20 e, como tal, in­­fluenciou outros movimentos populares ao redor do mundo, como as revoluções Cubana e Sandinista (na Ni­­carágua). Iniciada em 20 de novembro de 1910, a Revolução completará este ano o primeiro centenário e – a despeito do tempo – se mantém viva tanto na me­­­­mória quanto no ideário do povo mexicano.

Porfirio Díaz (1830-1915), um mestiço de Oaxaca que havia se destacado nos exércitos liberais que lutaram contra grupos conservadores durante a intervenção francesa no México, assumiu a Pre­­si­­dência em 1876 e permaneceu por 35 anos no poder – período que os historiadores costumam chamar de Porfiriato. Durante o tempo que governou o país, Por­­firio incentivou o avanço do capitalismo no México, graças principalmente a recursos norte-americanos.

"Além do fato relacionado à capitalização do Estado, ou­­tras questões motivaram a revolução. Os operários tinham uma carga de trabalho enorme e chegavam a trabalhar sem folgas, até mesmo aos domingos", afirma Vi­­viane Maria Zeni, professora do curso de História da Univer­­si­­da­­de Tuiuti do Paraná UTP).

No que diz respeito ao modo de governo, o ditador Porfirio Díaz realizou a centralização po­­lítica e passou a eliminar líderes locais que dominavam regiões ou estados no interior do país. Em resposta à tática centralizadora do general, vários inimigos se revoltaram. Entre eles estava Francisco Indalecio Madero (1873-1913), um rico fazendeiro e detentor de grande poder local. Ele era membro do clã que praticamente mo­­nopolizava a produção de carvão no país àquela época. A relação entre a família Madero e Porfirio – que já vinha sendo prejudicada pelas atitudes centralizadoras do governante – se agravou ainda mais quando o ditador decidiu abrir o mercado carvoeiro para o capital americano.

Os indígenas – que possuíam grandes extensões de terras e reservas naturais em todo o país – vinham sendo pressionados a vender seus puedos (terras indígenas) a grandes fazendeiros americanos que tinham interesse na exploração econômica do solo, sobretudo no que diz respeito à agricultura. "Essa entrada de capital externo e a ameaça à soberania trouxeram uma consciência nacionalista ao povo, aos trabalhadores mexicanos. E foram essas condições que propiciaram a revolta", explica Carlos Alberto Sampaio Barbosa, professor de História da América na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Em 1911, desgastado pela Re­­volta, Porfirio Díaz não teve ou­­tra saída senão renunciar.

Sem o apoio das classes oligárquicas ou mesmo da população, ele se exilou em Paris. Em seu lugar, entrou Francisco Madero, um dos principais no­­mes do levante mexicano ao lado do célebre general Pancho Villa, que também era contra Porfirio. "Mas os camponeses não tiveram muito lugar na gestão de Madero", afirma Edméia Ribeiro, professora de História da Amé­­rica na Univer­­sidade Estadual de Londrina (UEL). Por causa disso, Emiliano Zapata (1879-1919) – representante da parcela camponesa participante da revolta e também uma das figuras mais celebradas da Revolução – continuou armado, com seu grupo, no sul do país.

Mesmo com a participação de camponeses, indígenas e de di­­versos setores da população na Revolução Mexicana, não se po­­de caracterizar o movimento como um levante eminentemente po­­pular. "Trata-se de uma revolução burguesa e, como tal, apresentou elementos progressistas e elementos conservadores. Os avanços se deram em termos jurídicos e institucionais, mas por trás desse verniz liberal havia uma estrutura oligárquica de poder", analisa Carlos Eduardo Vidigal, doutor em Relações In­­ternacionais e professor de His­­tória da América na Universidade de Brasília (UnB).

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