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Curitiba – A dificuldade em conter o avanço da gripe aviária entre as aves, e inclusive em seres humanos, preocupa cada vez mais os especialistas do mundo todo. Esta semana, centenas deles estiveram presentes em San Francisco, nos Estados Unidos, para a 46.ª Conferência Internacional de Infectologia e Quimioterapia (Icaac, sigla em inglês), promovido pela Sociedade Americana de Microbiologia, maior evento mundial de infectologia. Nas discussões, estiveram questões como as medidas a serem tomadas pelos governos para enfrentar uma possível pandemia. Luiz Jacintho, infectologista da Unicamp e coordenador do Grupo Regional de Observação da Gripe/São Paulo, esteve no evento e conversou por telefone com a Gazeta do Povo. Confira os principais trechos da entrevista.

Gazeta do Povo – Quais foram as questões sobre a gripe aviária discutidas no congresso?Luiz Jacintho – As grandes preocupações quanto a evolução da gripe aviária neste Congresso foram duas. Primeiro, foi discutido como os hospitais serão preparados para enfrentar uma possível pandemia da gripe aviária. Há dois anos, quando houve a epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), a presença do vírus nos hospitais, particularmente no Canadá, foi um desastre. Esse episódio serviu de lição para nos preocuparmos para que isso não se repita em uma eventual epidemia de gripe aviária. Outro ponto é o tratamento dos pacientes, não tanto sobre o aspecto da saúde pública, mas do ponto de vista individual, do uso de antivirais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os países compartilhem as amostras do vírus H5N1 para pesquisas. O que o senhor acha disso?A China, por exemplo, não estava compartilhando o material (vírus) retirado dos pacientes. Este é um problema sério porque se os pesquisadores não tiverem acesso a esse material não se pode ter novos estudos para o avanço em vacinas e medicamentos. Por isso, a OMS recomenda que os países e os laboratórios troquem este tipo de informação. Em São Paulo, o Grupo Regional de Observação da Gripe tem parcerias com a Secretaria Estadual de Saúde e empresas como Roche, Sanofi Pasteur e outras. Nesse tipo de parceria é preciso compartilhar e trabalhar em cooperação para se obter avanços em relação à gripe aviária.

A ONU fez um alerta na semana passada quanto ao risco de a gripe aviária na América Latina. O que o senhor acha disso?Países em desenvolvimento estão particularmente vulneráveis. Acredito que não seja o caso do Brasil. Em caso de uma pandemia, o Brasil já está preparado para enfrentá-la e as medidas iniciais já foram tomadas. Sem dúvida, países mais pobres na América Latina, como Paraguai, Bolívia e Equador estarão altamente suscetíveis tanto do ponto de vista da disseminação da doença entre as aves como em humanos. Infelizmente, alguns desses países podem representar um risco para o Brasil, devido a fronteira. É preciso reforçar a vigilância e educar a população. A eventualidade de uma pandemia de gripe aviária é uma caixa preta. É algo extremamente difícil de se prever, por isso devemos estar preparados para o pior.

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