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Reator experimental no Centro Atômico de Bariloche, na Argentina: cientistas alertam que é preciso mais proteção aos centros nucleares | Pieck Dario/Wikimedia Commons
Reator experimental no Centro Atômico de Bariloche, na Argentina: cientistas alertam que é preciso mais proteção aos centros nucleares| Foto: Pieck Dario/Wikimedia Commons

Em Cambridge, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um reator nuclear emite um es­­tranho brilho azul 24 horas por dia, 7 dias por semana. Seu combustível é 93% urânio 235 – o urâ­­nio de alta pureza necessário para a fabricação de uma bomba atômica, exatamente o que o Oci­­dente teme que o Irã queira produzir.

O aparelho do MIT é apenas um dos 130 reatores civis de pesquisa do mundo que usam urânio altamente enriquecido. Especia­­listas nucleares afirmam que ad­­ministrá-los exige toneladas de combustível, o suficiente para construir centenas de ogivas nu­­cleares. E a maioria está apenas levemente protegida.

Esse é um dos desafios com o qual o presidente americano Barack Obama e dezenas de líderes mundiais lidaram durante uma reunião de cúpula sobre se­­gurança nuclear, realizada em Washington, no começo do mês.

Ataques terroristas

Os reatores de pesquisa são vistos por Obama como particularmente vulneráveis a ataques terroristas, e, portanto, especialmente difíceis de proteger. Normal­­men­­te, os locais civis empregam poucas proteções militares que são padrão, como arame farpado, postos de controle, camuflagem, guardas fortemente armados e canhões antiaéreos.

Mesmo sem proteção dos reatores, as instituições tendem a motivar o uso por parte de universidades, indústrias e outros pesquisadores. O Laboratório de Reator Nuclear do MIT, por exemplo, recebe estudantes universitários e do ensino médio e realiza tours ao grande público.

Reatores de pesquisa que funcionam com urânio altamente enriquecido são, em parte, um legado das ambições da Guerra Fria de Washington e Moscou pa­­ra promover átomos para a paz. Eles eram oferecidos pelas duas superpotências como prêmios para atrair aliados. Hoje, os países estão tentando controlar e diminuir a ameaça de roubo terrorista ao aumentar a segurança, desativando reatores antigos e substituindo o combustível por variedades menos enriquecidas.

No começo deste ano, por exemplo, especialistas da Ad­­mi­­nistração Nacional de Segurança Nuclear em Washington conduziram uma operação delicada no Chile para remover combustível altamente enriquecido de dois reatores de pesquisa. Mas o forte terremoto que atingiu i país em março ocorreu no meio da operação delicada, colocando o Chile no caos e forçando as equipes nu­­cleares a improvisar na remoção do combustível.

Proteção

Melhorias de segurança relativamente fáceis em locais de reatores incluem câmaras de combustível, detectores de movimento, câmeras de segurança, portas de aço, fechaduras magnéticas e alarmes centrais. O processo de passar para um combustível de reator com pouco ou nenhum uso possível em bombas é difícil, custoso e consome tempo. Mas, no fim das contas, oferece uma solução mais fundamental, praticamente eliminando o risco de desviar o combustível de reatores para a fabricação de bombas.

O reator do MIT ilustra a dificuldade potencial de adotar um novo combustível. Durante décadas, autoridades federais falaram sobre a substituição de seu combustível capaz de ser usado em bombas por uma variedade mais segura. Porém, até recentemente, o processo custoso nunca recebeu muita atenção ou financiamento.

David Moncton, diretor do la­­boratório do MIT, diz que a mu­­dança planejada para combustível pouco enriquecido tinha passado recentemente de 2014 para 2015. Mas isso não era um perigo real, ele acrescentou, pois o risco de terrorismo era praticamente zero. "Eles não poderiam fazer uma bomba" a partir da oferta limitada de combustível do reator, afirma. "Mas acreditamos na questão global e queremos fazer nossa parte para tirá-lo do setor civil."

Uma explicação comum para a fraca segurança em reatores de pesquisa é que a quantidade de combustível é muitas vezes pe­­quena demais para produção de bomba. No entanto, especialistas nucleares temem que dois ou três roubos possam produzir uma quantidade suficiente e que al­­guns locais têm material mais que suficiente para fabricação de ar­­ma nuclear.

Funcionamento

Reatores de pesquisa funcionam principalmente como fábricas para a produção das partículas subatômicas chamadas de nêutrons, que são usadas por experimentos científicos e vários tipos de produção nuclear. Em contraste, reatores de energia tendem a ser muito maiores e seu alto calor é normalmente usado para girar turbinas e produzir eletricidade.

O centro de reatores de pesquisa emite um brilho azulado co­­nhecido como radiação Cheren­­kov, em homenagem ao cientista russo que explicou sua origem pela primeira vez. Ele ocorre quan­­do partículas carregadas passam rapidamente por água em resfriamento, emitindo explosões de luz inofensiva.

Matthew Bunn, especialista nu­­clear do Centro Belfer de Ciên­­cia e Relações Internacionais de Harvad, observou, na edição mais recente de seu relatório anual, "Securing the Bomb" (Protegendo a Bomba), publicado na semana passada, que arranjos de segurança para reatores de pesquisa tendem a ser "notavelmente mo­­destos". Entre os problemas tí­­picos estão: nenhum guarda armado, nenhuma checagem de antecedentes, nenhuma exigência de segurança nem cercas com alarme.

No ano passado, investigadores do congresso relataram outro problema: a resistência estrangeira em relação a melhorias em se­­­gurança. Um país não identificado, como eles observaram, tinha recusado diversas ofertas federais por nove anos.

Alguns especialistas nucleares acusaram o governo norte-americano de lentidão em relação à conversão do combustível em reatores nacionais. No começo de 2008, o Natural Resources Defense Coun­­cil (Conselho de Defesa dos Recursos Naturais), grupo am­­biental que monitora questões nucleares, solicitou à Comissão Regulatória Nuclear que estabelecesse uma data-limite para não mais licenciar o uso civil de urânio enriquecido. "Os altos riscos para a segurança nacional", argumentou o grupo, "claramente superam os benefícios".

Entre outras coisas, o grupo argumentou que uma mudança dessa estabeleceria um bom exemplo para outros países. No começo do ano, a comissão negou a solicitação.

"É imprescindível que o presidente Obama busque uma proibição global sobre o uso comercial de urânio enriquecido", apela Thomas B. Cochran, especialista nuclear do conselho. "Até então, assegurar e reduzir os estoques globais desse material deve ser uma prioridade para os líderes mundiais – e para esta cúpula."

Localização

A maioria dos reatores de pesquisa do mundo que são abastecidos com urânio enriquecido capaz de ser usado em bombas está localizada na Rússia e, de acordo com especialistas, Moscou tem resistido à pressão de Washing­ton de adotar combustível de baixo enriquecimento. Na verdade, fora de São Petersburgo, um novo reator de pesquisa está sendo construído para funcionar com urânio enriquecido.

"Ninguém jamais fala sobre isso", reclama Alexander Glaser, especialista nuclear da Univer­­sidade Princeton. "É um reator bastante significativo, muito urânio". Glaser classifica a situação de "forte golpe contra os esforços de conversão".

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