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Berlim – Um clima de Guerra Fria voltou à Europa recentemente, desde que o presidente russo, Vladimir Putin, criticou duramente os EUA. Primeiro, acusou Washington de tentar impor sua vontade e tornar o mundo um lugar mais perigoso. Uma semana depois, numa viagem à Alemanha, reagiu a um projeto controvertido dos EUA de construção de um escudo antimísseis em Polônia e República Tcheca – Putin ameaçou até romper um tratado nuclear com os Estados Unidos.

A retórica é claramente uma demonstração de força, com o objetivo de passar à população russa um pouco da autoconfiança de superpotência do passado. Mas também é um recado para o exterior. "Os EUA não são mais a única superpotência mundial, e a Rússia precisa de uma nova política externa", afirma Dimitri Danilov, da Academia de Ciências de Moscou.

Com o aumento do preço do petróleo e do gás, a Rússia tem os cofres cheios, já superou em PIB a Itália e está a caminho de superar o PIB da França em cerca de dois anos, calculam analistas. Com o aumento da força econômica, surgiu entre os russos uma certa nostalgia da época de superpotência.

Pouco depois do discurso em Munique, Putin deu mais uma vez provas de que a mudança na política externa já começou. Ao visitar a Arábia Saudita, semana passada, ofereceu ao governo saudita ajuda na construção de um programa nuclear. Antes disso, Putin havia causado irritação nos EUA ao fornecer mísseis de defesa antiaérea ao Irã.

Para Viktor Oserow, presidente do conselho de defesa da Federação Russa, não há ainda um "clima glacial" entre Rússia e EUA, mas uma nova postura de exigência russa devido, em parte, ao aumento do poder econômico. "Os americanos dizem que querem proteção contra mísseis dos países do eixo do mal, mas os mísseis desses países não têm alcance suficiente para atingir os Estados Unidos ou a Europa."

Andrew Denison, cientista politico da Transatlantic Network, ONG norte-americana na Alemanha, vê exagero no uso da expressão "Guerra Fria" para definir a nova postura russa, embora os EUA assistam com certa preocupação ao aumento dos investimentos do país em armamento. Segundo ele, os russos esbanjam dinheiro na modernização de armas, embora saibam que não precisam contar com perigo vindo dos EUA. "Falar em reinício da Guerra Fria é absurdo. Mesmo que o discurso russo tenha endurecido, não devemos esquecer que a Rússia não é a União Soviética", disse Denison.

Segundo o norte-americano, o grande erro dos EUA foi não ter conversado com a Rússia sobre o projeto, já que o receio não é de um perigo vindo de Moscou. "Precisamos estar preparados se um terrorista lançar um dia um míssil de um navio no Mar Mediterrâneo", lembrou.

Na Rússia, porém, o plano é visto com bastante preocupação, principalmente com o fato de Polônia e a República Tcheca serem países da antiga "cortina de ferro". Os norte-americanos alegam que o objetivo do programa é a defesa contra possíveis ataques de Irã e Coréia do Norte, mas ao ser instalado praticamente na fronteira com a Rússia, os russos vêem o risco de passarem, um dia, a ser o alvo.

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