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Os sagüis-de-Wied (Callithrix kuhlii), uma simpática espécie de macaquinho brasileiro, aparentemente levam a expressão "tudo em família" um bocado a sério. Entre eles, não é incomum que um tio cuide dos sobrinhos como se eles fossem seus próprios filhos, e uma nova pesquisa acaba de explicar o porquê: muitas vezes, do ponto de vista genético, o tio é mesmo o pai do sobrinho.

A maluquice reprodutiva, que parece ter um impacto direto na vida social dos sagüis, foi desvendada pela equipe liderada por Corinna Ross, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas (Estados Unidos). Em resumo, o que acontece é que os macaquinhos normalmente constituem uma mistura genética de dois indivíduos desde o nascimento.

Quando uma fêmea da espécie fica grávida, a regra é que ela conceba um par de gêmeos bivitelinos (ou seja, não-idênticos, oriundos de dois óvulos fecundados, e não de um só). No entanto, quando as placentas dos gêmeos se formam, elas não ficam totalmente separadas, permitindo a passagem de células de um irmão (ou irmã) para o outro. Assim, a tendência é que ambos os sagüis possuam uma mistura de células próprias e de seu irmão gêmeo.

Já se sabia há muito que essa mistura aparecia nas células do sangue. O que os pesquisadores não imaginavam, e que Ross e seus colegas descobriram agora, é que as células sexuais dos bichos -- seus óvulos e espermatozóides -- também são misturadas. A descoberta veio de análises de DNA, capazes de revelar as sutis diferenças genéticas entre irmãos.

Uma das conseqüências mais malucas do fato é o caso de uma fêmea que tinha um macho como irmão gêmeo. Ela passou para seus filhotes os genes do irmão, e não os seus. Em tese, isso poderia significar que um de seus óvulos carregava o cromossomo Y, a marca genética da masculinidade. Se isso for verdade -- os pesquisadores ainda não conseguiram comprovar a hipótese --, cairia por terra um dos principais dogmas da reprodução de mamíferos, segundo o qual as fêmeas só produzem óvulos com cromossomo X.

Segundo os pesquisadores, a descoberta pode explicar o funcionamento curioso da sociedade dos sagüis, na qual é comum uma espécie de criação compartilhada dos filhotes por parte do grupo familiar mais amplo. Normalmente, raciocinam os cientistas, um parente mais distante não teria razões para investir na criação de bebês que não são seus filhos, já que ele carrega menos genes seus para a posteridade. No entanto, a mistura genética entre irmão faz com que essa chance aumente automaticamente, possibilitando, por exemplo, que um tio seja geneticamente pai dos próprios sobrinhos. Dessa forma, aumenta o interesse dos parentes na criação dos bebês.

O estudo sobre os sagüis está na edição desta semana da revista científica americana "PNAS".

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