• Carregando...
Segundo relatório do Senado, táticas antiterrorismo da CIA se revelaram ineficazes | Larry Downing/Reuters
Segundo relatório do Senado, táticas antiterrorismo da CIA se revelaram ineficazes| Foto: Larry Downing/Reuters

Técnicas incluíam sessões de afogamento

O programa de detenções e interrogatórios foi iniciado durante o governo do presidente George W. Bush. Na época, o Departamento de Justiça dos EUA aprovou dez técnicas de interrogatório para a CIA, inclusive o "waterboarding", que muitos críticos, entre eles o presidente Barack Obama, consideram uma forma de tortura.

Em muitos casos, prisioneiros foram levados de avião para outros países onde há menos restrições ao uso de tortura, para serem interrogados. O relatório não especifica quais países entraram nesse programa, conhecido como "rendição extraordinária".

Embora a CIA tenha citado 20 casos de sucesso relacionados aos "métodos aumentados de interrogatório", os senadores concluíram que cada um daqueles exemplos estava "errado em seus aspectos fundamentais".

O relatório também diz que o programa foi mal administrado desde o início. O texto cita a morte de um detido, aparentemente por hipotermia (exposição ao frio), em 2002. O caso teria acontecido em uma instalação nos arredores de Cabul, no Afeganistão, chamada por alguns membros do governo dos EUA como o "poço de sal". O relatório se refere a essa instalação com o nome "Cobalto".

O texto também diz que a CIA mentiu ao Departamento de Justiça sobre a severidade da aplicação do "waterboarding" a Abu Zubaydah, suposto recrutador da rede terrorista Al Qaeda capturado em março de 2002, e a Khalid Sheikh Mohammed, considerado o planejador dos ataques de 11 de setembro de 2001. Segundo o relatório, em determinado momento Abu Zubaydah perdeu a consciência e "estava completamente sem resposta, com bolhas saindo de sua boca". As sessões de "waterboarding" aplicadas a Mohammed foram "uma série de quase afogamentos". Abu Zubaidah teria sido submetido ao afogamento simulado 83 vezes e Mohammed, 183 vezes.

O relatório também constatou que pelo menos cinco detidos foram submetidos a "hidratação retal" sem haver qualquer documentação indicando que havia necessidade médica para esse tratamento. O texto sugere que o "waterboarding" pode ter sido usado em um número maior de casos do que os admitidos pela CIA.

  • Para Obama, métodos prejudicaram imagem dos EUA no mundo

A presidente do Comitê de Inteligência do Senado dos EUA, Dianne Feinstein (Partido Democrata, Califórnia) divulgou ontem partes de um relatório de 6,3 mil páginas sobre o programa de detenções e interrogatórios implementado pela CIA (Agência Central de Inteligência) depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O relatório diz que o programa foi "muito mais brutal" do que havia sido divulgado e que a CIA deu informações erradas ao Legislativo e ao público sobre sua execução.

"Este documento examina a detenção secreta de pelo menos 119 indivíduos e o uso de técnicas coercivas de interrogatório, que em alguns casos equivaliam a tortura", disse a senadora ao apresentar o relatório. A investigação do Comitê de Inteligência do Senado durou cinco anos. A Casa Branca e a própria CIA eram contra sua divulgação, ainda que parcial, e o Corpo de Fuzileiros Navais e as embaixadas dos EUA em todo o mundo foram colocadas ontem em alerta de segurança.

O sumário apresentado por Feinstein, de 500 páginas, traz 20 conclusões, entre elas as de que o programa era "profundamente falho", que a CIA chegou a perder conhecimento do paradeiro de alguns suspeitos e que pelo menos um prisioneiro foi submetido ao "waterboarding" (afogamento simulado) até perder a consciência, o que não constava em nenhum relatório divulgado anteriormente.

Na sede da CIA em Langley (Virgínia), o diretor da agência John Brennan, reconheceu erros, mas contestou a acusação de que o programa foi ineficaz. "Nem sempre mantivemos os altos padrões que estabelecemos para nós mesmos e que o povo americano espera de nós Aprendemos com aqueles erros", disse Brenner.

Em sua resposta oficial ao relatório do Senado, que foi submetido em junho de 2013, a CIA disse que "a soma total de informações fornecidas por detidos sob custódia da CIA fizeram avançar substancialmente a compreensão estratégica e tática da agência sobre o inimigo, de maneiras que continuam a informar os esforços antiterrorismo até hoje". Mas o relatório diz que o tratamento brutal dos detidos não levou a informações importantes que chegassem a impedir um único ato terrorista.

Omissão

A investigação feita pelos senadores também determinou que em 2003 altos funcionários da Casa Branca decidiram não dar informações a integrantes do primeiro escalão do governo. De acordo com um advogado da CIA citado nos documentos, aquela decisão aparentemente era um esforço para evitar o envio das informações ao então secretário de Estado, o ex-general Colin Powell. "A CIA forneceu informações erradas para a Casa Branca, o Congresso, o Departamento de Justiça, o inspetor-geral da própria CIA e o público americano", diz o documento.

Depois da divulgação do relatório, o presidente Obama disse que seus detalhes são "perturbadores". "Essas técnicas causaram um dano significativo à posição dos EUA no mundo e tornaram mais difícil defender nossos interesses com parceiros e aliados. É por isso que continuarei a usar minha autoridade como presidente para assegurar que nunca recorreremos a esses métodos novamente", afirmou em comunicado divulgado pela Casa Branca.

A existência do programa de detenções e interrogatórios foi tornada pública em 2005, por uma reportagem do Washington Post; o governo Bush só reconheceu sua existência em 2006.

Detenções e interrogatórios

Desenvolvido por dois psicólogos, o programa de detenções e interrogatórios da CIA foi baseado em um treinamento da Escola de Sobrevivência, Evasão, Resistência e Escapada da Força Aérea (Sere) para ensinar os militares norte-americanos a resistirem a torturas em caso de captura.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]