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O Senado francês votará nesta segunda-feira (23) o projeto de lei que criminaliza a negação do genocídio armênio pelo Império Otomano em 1915 e as tensões voltam a abalar os laços diplomáticos entre França e Turquia, já deterioradas em dezembro, quando o texto foi aprovado pela Assembleia Nacional (câmara baixa).

Ancara ameaça novos atritos com Paris, depois de congelar as relações diplomáticas após os deputados franceses adotarem no último dia 22 o texto que prevê um ano de prisão e 45 mil euros de multa a quem negar a ocorrência do genocídio de 1915 por parte do Império Otomano - atual República da Turquia.

Tudo indica que os senadores aprovarão o texto, que conta com o respaldo de todos os partidos políticos e que, a três meses das eleições presidenciais, só desperta oposição entre alguns parlamentares isolados.

Não parece que o Senado vá ceder às pressões da Turquia, que ameaça privar o acesso das empresas francesas aos contratos públicos no país.

A França é o segundo maior investidor na Turquia, onde atuam 400 empresas francesas. Os intercâmbios comerciais entre os dois países chegaram a 12 bilhões de euros em 2011, mais da metade deles de exportações francesas. Algumas grandes empresas, como a nuclear Areva e a fabricante de aviões Airbus ainda esperam fechar importantes contratos na Turquia.

As consequências são tão graves que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, escreveu na sexta-feira passada ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, para pedir-lhe parcimônia e para manter o diálogo entre os dois países.

Mas o diálogo já se rompeu no final de 2011, quando Ancara chamou para consultas seu embaixador em Paris e suspendeu os contatos diplomáticos e militares, embora os dois países façam parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A medida afetou as visitas bilaterais previstas e os programas de cooperação europeus, como o de formação de gendarmes para a vigilância de fronteiras que agentes franceses pretendiam efetuar na Turquia.

Até as relações culturais podem ser afetadas, como evidencia a carta enviada a Sarkozy pela Universidade Francófona de Galatasaray e seu conselho de estudantes. A mensagem pede que a França volte atrás e abandone o projeto de lei.

O texto que tramita no Senado francês retoma as tensões diplomáticas que eclodiram em 2001, quando a França reconheceu o genocídio armênio, algo que até o momento somente 21 países fizeram. À época, houve inúmeros pedidos de boicote de produtos franceses, mas o impacto foi mais simbólico que prático.

Em 2007, a animosidade bilateral voltou a disparar, quando França liderou a oposição à entrada da Turquia na União Europeia (UE).

Posteriormente, as autoridades francesas buscaram retomar a calma, mas a lei sobre o genocídio pode colocar por terra os esforços.

Segundo alguns historiadores, entre 500 mil e 1,5 milhão de armênios morreram numa campanha de extermínio organizada pelo partido dos Jovens Turcos, embrião da legenda que levou Mustafa Ataturk a fundar a atual Turquia.

As autoridades turcas reconhecem que houve massacres, mas os classificam no contexto da Primeira Guerra Mundial, reduzem o número de vítimas a 500 mil entre as duas partes em conflito e não o consideram genocídio porque não houve um extermínio planejado pelo Estado.

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