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Curitiba – Nos corredores do prédio das Nações Unidas (ONU), em Turtle Bay, no lado leste de Manhattan, a política está correndo solta. Diplomatas, ministros de relações exteriores e representantes dos 192 Estados-Membros discutem, negociam e procuram uma resposta de consenso: quem vai suceder o Kofi Annan?

O novo secretário-geral deve ser escolhido até 31 de dezembro, quando termina o segundo mandato de cinco anos do ganense Annan. Se mantida a tradição de eleger o secretário-geral por região, esta é a vez de um asiático assumir o posto. Os africanos ficaram no poder por 15 anos, fato inédito, mas porque o egípcio Boutros Boutros-Ghali, em 1996, teve seu segundo termo vetado pelos EUA, quando Annan assumiu o cargo e, tendo agradado no primeiro mandato, foi "reeleito" em 2001.

Há quase 40 anos longe do posto mais importante da ONU – o último foi U Thant, de Burma –, os asiáticos, liderados pela China, já deixaram clara a posição defendida pelo grupo em relação à escolha do oitavo secretário-geral: será um asiático ou outro asiático. Dos sete candidatos oficiais, seis são de países da Ásia e somente um, na verdade uma, é do Leste Europeu.

A última votação informal realizada pelo Conselho de Segurança (veja números ao lado), na quinta-feira, consolidou a candidatura de Ban Ki-Moon, de 62 anos, como favorita. Moon, atual Ministro das Relações Exteriores da Coréia do Sul, recebeu 13 votos a favor, um contra e um indeciso. Shasi Tharoor, da Índia, ficou em segundo, mas perdeu dois votos a favor para os indecisos, se comparada à votação anterior. Para os analistas, Vaira Vike-Freiberga, presidente da Letônia, foi a grande surpresa da votação, por ser a única candidata não-asiática e ter sido a terceira mais bem votada. Ela é carta fora do baralho, porém, porque dificilmente a Rússia aceitaria um secretário-geral do Leste Europeu.

Amanhã, quando uma nova votação informal será feita, pela primeira vez os membros permanentes do CS receberão uma cédula de cor diferente da dos outros países. A votação, portanto, será importante para saber se os votos "contra" recebidos pelos candidatos, são de um país com poder de veto ou não. Se for necessário, novos candidatos ainda podem entrar na disputa.

"É muito difícil dizer (quem é favorito), por causa dos acontecimentos dos últimos dias. Até a semana passada, eu diria que Ban era o candidato com maiores chances. Mas houve algumas discussões e negociações mostrando que o Reino Unido não está feliz com os candidatos", explica Tony Fleming, autor do "Who Will Be The Next Secretary-General?", um site sobre a eleição na ONU.

Quem quer que assuma o cargo, terá de ser um conciliador e dificilmente conseguirá fazer grandes reformas, como ampliar o número de membros permanentes no Conselho de Segurança, uma das principais reivindicações dos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, que pleiteia uma vaga fixa.

"(O eleito) terá de fazer grandes compromissos, pois o cargo exige que ele seja flexível, discreto, politicamente correto, que preserve os ‘"interesses adquiridos" e que se exima de mudanças bruscas. Grandes burocracias, como a ONU, são como grandes dinossauros, daqueles paquidermes herbívoros, que se movem lentamente, muito lentamente, e que não conseguem se adaptar facilmente em novos ambientes", afirma o sociólogo e diplomata Paulo Roberto de Almeida, que trabalha no núcleo de assuntos estratégicos da Presidência da República.

O trabalho do secretário-geral, de qualquer forma, estará sempre subordinado aos interesses dos países, ricos ou pobres, como mostram a guerra do Iraque, em 2003, e o atual conflito humanitário no Sudão. "A ONU, sozinha, não pode fazer nada, como se vê pela atual matança em Darfur. Ela só pode fazer aquilo que os países permitam que ela faça", diz Almeida.

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