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O comerciante Namer Assad mantém contato com os irmãos na Síria e, segundo eles, as informações das agências internacionais são exageradas. | Fotos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
O comerciante Namer Assad mantém contato com os irmãos na Síria e, segundo eles, as informações das agências internacionais são exageradas.| Foto: Fotos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Conselho de Direitos Humanos

Brasil tende a negar apoio à Síria na ONU

O Brasil tende a não apoiar a entrada da Síria no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas por conta da repressão às manifestações contra o presidente Bashar Assad. A votação que decidirá o ingresso da Síria no Conselho está marcada para 20 de maio e o regime de Assad busca votos sobretudo entre os países sul-americanos.

A questão foi discutida ainda no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não houve decisão. Houve apenas "uma promessa de apoio futuro". Fontes no Itamaraty confirmaram que o governo está discutindo o assunto para "evitar uma saia-justa", e dentro de um novo parâmetro.

A decisão brasileira sobre a Síria ainda não foi tomada porque, disse ontem o ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, "ainda há muito tempo para se analisar a situação".

O Itamaraty precisa consultar a presidente Dilma Rousseff e a ordem, afirmou o chanceler em audiência pública no Senado, é "liderar pelo exemplo" nas áreas de direitos humanos, questões de gênero, combate à pobreza e promoção da igualdade. A intenção é de ouvir também a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Desconforto

A inclinação, no entanto, é de não votar a favor dos sírios. Apesar de, em tese, a presença do país no Conselho aumentar o compromisso com as decisões tomadas ali, o governo sírio também pode usar sua nova posição para articular o impedimento de votações contra si. Entre as ações que o CDH pode tomar estão as visitas de relatores especiais para analisar a situação dos países, o que coloca os governos citados em uma situação desconfortável.

Agência Estado

  • Youssef Youssef, comerciante

Notícias a respeito da Síria sublinham a violência crescente do presidente Bashar Assad contra manifestantes contrários ao go­­verno e o Observatório de Direitos Humanos, ONG atuante em vá­­rias partes do mundo, afirmou ontem que o número de civis mortos é de 453 em seis semanas.

A reportagem procurou sírios radicados em Curitiba – existem 3 mil na cidade – ainda vinculados ao país árabe, para saber da apreensão que sentem diante das informações e o que dizem os seus familiares. É razoável supor que estivessem apreensivos. Razoável e errado.

Para o comerciante Namer As­­sad, as agências internacionais – principais fornecedoras de textos a respeito da crise árabe – não são confiáveis ou pior: defendem in­­teresses políticos ocultos ligados a Israel e aos norte-americanos (por associação). A aliança com o Irã e a relutância em se curvar ao poderio israelense fazem da Síria um inimigo virtual.

Apesar do sobrenome, Namer Assad não tem parentesco com o presidente Bashar, embora se as­­suma como um nacionalista or­­gulhoso da terra natal, para onde viaja todos os anos. Ele conta que, na semana passada, ao ver no jornal que os conflitos chegaram muito perto da casa do irmão, na região de Homs, ligou para ele na mesma hora.

"Perguntei o que estava acontecendo e ele me respondeu: ‘Na­­da’", diz Namer. O irmão relatou que as manifestações são orquestradas por estrangeiros e não por sírios. As agências exageram ao reportar as manifestações, feitas por "meia dúzia de pessoas", e ig­­noram a maioria da população que aprova o regime e a intervenção contra os oposicionistas. "O povo sírio está 95% com Bashar Assad. Se não estivesse, ele já teria caído", argumenta, e cita o temperamento sírio de não ser condescendente com nada.

Youssef Youssef decorou sua loja no Centro de Curitiba com bandeiras sírias e mantém contato com parentes no Oriente Mé­­dio, viajando para lá com frequência – a última vez foi em 2009. Ele também ouviu o irmão, que mora em Homs (a 250 km de De­­raa, epicentro dos emba­­tes), desmentir as notícias e dizer que ninguém lá está com medo ou sofreu qualquer tipo de conse­­quên­­cia relacionada aos protestos por democracia. "A Síria é um país on­­de as pessoas vivem sem medo. Você pode andar nas ruas à noite, é seguro", diz Youssef, que virou "Seu Zé" no Brasil.

"É difícil acreditar que a Síria que aparece nos jornais é a minha Síria", diz outra comerciante radicada no Paraná há 15 anos – alegando timidez, ela pediu para não ser identificada. "Fui para lá no último verão e não havia nada disso." Por "isso", ela se refere às tensões entre o povo e o regime, refletindo afirmações feitas por Namer e Youssef. Ambos se mostraram muito bem informados sobre o mundo árabe e falaram de Assad com admiração genuína e não com medo – como é comum em ditaduras opressoras.

Para o cônsul honorário da Sí­­ria no Paraná e Santa Catarina, Ab­­do Dib Abage, a crise pela qual pas­­sa o país é movida por interesses externos políticos e econômicos.

Abage destaca que, em uma república parlamentar como a Síria, o presidente é eleito de forma indireta pelo Legislativo e de­­pois confirmado pela população, por meio de plebiscito. "Não se trata de um governo autoritário, mas de autoridade, em que o presidente tem de manter a segurança e a estabilidade nacional", diz.

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