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O atual vice-presidente de Taiwan, William Lai Ching-te, integrante do Partido Democrático Progressista (DPP), do governo, é o favorito na disputa.
O atual vice-presidente de Taiwan, William Lai Ching-te, integrante do Partido Democrático Progressista (DPP), do governo, é o favorito na disputa.| Foto: EFE/EPA/RITCHIE B. TONGO

É em meio a um contexto de tensão, que envolveu a presença de um balão espião em seu espaço aéreo e a intensificação da pressão militar chinesa perto de sua fronteira, que Taiwan realiza suas eleições presidenciais e legislativas que irão definir o novo chefe de Estado da ilha pelos próximos quatro anos.

As eleições, que já estão em curso em Taiwan, onde já é sábado (13), poderão também definir uma nova visão para a política externa do país asiático. A população taiwanesa deverá escolher entre a continuação do atual governo, que adotou uma política mais dura em relação a aproximação com Pequim, ou mudar o comando do país, escolhendo um dos candidatos da oposição, que são mais favoráveis a conversar com o regime comunista continental.

A China, que considera Taiwan como uma “província rebelde” e deseja anexar o pequeno país ao seu já enorme território, acompanha as eleições locais com ansiedade. Com 35% das intenções de voto nas últimas pesquisas, William Lai Ching-te, de 64 anos, atual vice-presidente de Taiwan e integrante do Partido Democrático Progressista (DPP), do governo, é o favorito na disputa.

O vice-presidente por diversas vezes já adotou um discurso forte contra a influência e o desejo do regime de Pequim de anexar seu país. Inclusive, a China considera Lai e o DPP como “separatistas” políticos e disse aos eleitores que “votar no partido é semelhante a votar a favor da guerra” no Estreito de Taiwan.

Apesar de sua conhecida posição, Lai não falou muito sobre independência ao longo da campanha política. Durante seus comícios e entrevistas, o candidato prometeu manter a paz na região e retomar o “diálogo” com os chineses, seguindo o “caminho” traçado pela atual presidente, Tsai Ing-wen. Sua vice na chapa é Hsiao Bi-khim, representante de Taiwan nos EUA e que conta com uma grande popularidade entre os jovens taiwaneses.

A oposição, composta pelo Partido Nacionalista (KMT) e o Partido Popular de Taiwan (TPP), terá cada um o seu candidato próprio. Os partidos não chegaram a um acordo para lançar um candidato único, por discordância em certos pontos.

O TPP, cujo presidenciável é Ko Wen-je, de 64 anos, ex-prefeito da capital de Taiwan, Taipei, quer manter o diálogo da ilha com a China e defende políticas para ajudar a juventude de seu país. Sua vice na chapa é Cynthia Wu, filha de um empresário local reconhecido. O KMT, que é o segundo maior partido do Parlamento taiwanês, tem como candidato à presidência Hou Yu-ih, de 66 anos, que se "opõe à independência de Taiwan" e é apontado pela mídia local como o principal adversário de Lai nestas eleições.

Hou adota uma linha mais amigável em relação a Pequim e defende que o aumento no intercâmbio diplomático e comercial com os chineses continentais ajuda a garantir a paz e o status quo da ilha. Apesar disso, ele disse que fortalecerá a defesa nacional e permitirá que todos "vivam em paz" em Taiwan. Seu candidato a vice, Jaw Shaw-Kong, é filho de pais chineses e já foi descrito como "um fundamentalista da unificação".

Os pontos de votação já estão abertos no país desde às 8h da manhã no horário local (21h desta sexta [12] pelo horário de Brasília) e funcionarão até às 16h da tarde (5h da manhã de sábado [13] pelo horário de Brasília). Os eleitores votarão em cédulas de papel que serão contadas à mão.

Segundo informações da Al Jazeera, no processo, as pessoas votarão três vezes: a primeira para selecionar o presidente e o vice-presidente, a segunda para escolher seu parlamentar local e a terceira para selecionar a sua "lista partidária" favorita - uma lista de parlamentares em geral que recebem assentos com base na proporção de votos de seu partido. Essa lista serve como uma medida da popularidade e reputação de um partido.

O Parlamento de Taiwan é composto por 113 deputados eleitos para mandatos de quatro anos. Destes, 73 são eleitos diretamente por circunscrições geográficas, assegurando que cada região de Taiwan tenha sua voz na casa. Além disso, 34 deputados são escolhidos através das listas partidárias, o sistema que permite aos partidos políticos ter representação proporcional à sua popularidade em todo o país. Os demais assentos, seis, são reservados para representantes dos povos indígenas da ilha.

As autoridades esperam que mais de 19 milhões de pessoas participem do pleito, os resultados devem sair até o final do dia de votação. Quem vencer as eleições tomará posse no dia 20 de maio.

A eleição em Taiwan tem atraído a atenção internacional, especialmente dos Estados Unidos, que mantêm laços não oficiais com a ilha e estão comprometidos por lei a fornecer os meios para o país se defender. O presidente Joe Biden já chegou a prometer que enviaria forças militares dos EUA para Taiwan caso ocorresse um ataque chinês.

No discurso de ano novo, o ditador Xi Jinping afirmou que a reunificação da China continental com Taiwan é "inevitável".

"Todos os chineses de ambos os lados devem estar vinculados a um senso comum de propósito", disse o líder do regime comunista.

Segundo informações da mídia americana, em dezembro, Xi teria dito a Biden que deseja reunificar Taiwan “preferencialmente de forma pacífica". Nos últimos dias, o governo taiwanês acusou Pequim de enviar balões espiões para a ilha e de lançar um satélite sobre seu espaço aéreo.

Durante o ano passado, a inteligência de Taiwan acusou o regime chinês de tentar interferir nas eleições locais que estão sendo realizadas agora de diversas formas. Taipei afirma que Pequim intimidou membros de grupos políticos do país que passaram pelo seu território, disparou diversas notícias falsas a respeito de candidatos e intensificou suas atividades militares, inclusive com disparos de foguetes próximo da costa da ilha.

Nesta semana, dezenas de parlamentares dos EUA assinaram uma resolução elogiando a democracia em Taiwan e reafirmando o compromisso de apoiar a ilha “com todos os elementos do poder dos EUA”. Taiwan é um importante parceiro comercial e tecnológico dos EUA, especialmente no setor de semicondutores, que é vital para várias indústrias. O país também é um ponto de apoio estratégico para os americanos na região, que poderia ser ameaçado caso haja uma expansão da influência e da presença militar da China.

"Devido ao status contestado de Taiwan e à incerteza que isso traz não apenas para a região, mas para o mundo também, todos estão realmente curiosos para saber quem vai ser o novo responsável por ‘comandar o navio’, por assim dizer, porque isso terá muitas implicações não apenas para a segurança, mas também para o risco e o potencial econômico", disse à Al Jazeera Lev Nachman, um especialista em política taiwanesa e professor assistente na Universidade Nacional Chengchi de Taipei.

Por sua vez, a mídia americana tem destacado a importância crítica do resultado das eleições para os Estados Unidos.

"O resultado da eleição será significativo para os EUA, pois Taiwan [...] é uma parte importante da política externa americana. Elbridge Colby, autor da Estratégia de Segurança Nacional do Departamento de Defesa dos EUA de 2018, argumenta até que Taiwan é o ponto de apoio estratégico da América", aponta um artigo escrito pelo editor de economia do City Journal, Jordan McGillis.

"O que significará para Washington se Hou Yu-ih vencer? Por um lado, a atitude de Hou poderia, como ele promete, diminuir as tensões e reduzir o risco de uma guerra que envolveria as forças americanas. Por outro lado, isso poderia aumentar o apetite de Pequim por influência, um vínculo mais estreito entre os estreitos de Taiwan e China poderia até inclinar gradualmente o equilíbrio de poder na região contra os EUA. Se Taiwan algum dia entrar para o campo da China, Colby acredita que a hegemonia global da América - e os benefícios de segurança e econômicos que ela entrega ao povo americano - seriam extintos", observa McGillis.

Uma análise feita pela agência Bloomberg mostrou que um eventual conflito envolvendo Taiwan teria consequências econômicas massivas não apenas para a ilha, mas também para a economia global, devido à interconexão e a dependência que o mundo tem em relação ao país.

A Bloomberg mostrou que o Produto Interno Bruto (PIB) de Taiwan poderia sofrer significativamente, com estimativas de redução de 40%. China e EUA também experimentariam perdas substanciais no PIB.

Amanda Hsiao, analista sênior da China no Crisis Group, destacou em suas observações ao The Japan Times que todos os três principais candidatos na eleição de Taiwan “estão comprometidos com a manutenção do status quo da região”. Segundo ela, cada candidato afirma ser o “mais capacitado” para assegurar a segurança e a estabilidade de Taiwan.

"Em um mundo ideal, as eleições nacionais de Taiwan não teriam nada a ver com a China ou os Estados Unidos. Elas seriam simplesmente uma oportunidade para os 24 milhões de habitantes da ilha autônoma escolherem os políticos e políticas que melhor atendam às suas aspirações", escreveu Ben Bland, em um artigo para o think tank Chatham House.

"Embora a China possa ou não gostar do resultado, ao escolherem seus próprios líderes em um concurso justo e transparente, o povo taiwanês está enviando uma forte mensagem sobre o tipo de mundo em que deseja viver”, pontua o autor.

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