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Em meio ao som dos disparos que escutou no meio da noite, o equatoriano Freeddy Lala se recorda da odisseia que viveu para escapar do pior massacre cometido em território mexicano por grupos do crime organizado.

Lala - um jovem equatoriano oriundo de uma localidade pobre na zona andina do país - foi um dos dois únicos sobreviventes da chacina, junto com um hondurenho. Pelo menos 72 imigrantes, inclusive dois brasileiros, morreram na chacina ocorrida na semana passada no norte do México, perto da fronteira com os EUA.

"Escutei o ruído que atiravam. Pensei que atiravam ao lado, mas não. Escutei que atiravam nos meus amigos, e depois chegou atirando em mim (...), acabaram de atirar e foram embora, mataram todos", relatou Lala num vídeo divulgado na quinta-feira pelo canal público Gama TV.

O rapaz está de volta ao Equador, sob proteção do governo. Ele havia deixado sua aldeia para tentar chegar aos EUA, buscando melhores condições de vida.

Mas, após uma viagem de quase duas semanas até o México, passando por Honduras e Guatemala, ele teve de enfrentar uma odisseia de mais de dez horas até conseguir ajuda em um posto de fuzileiros navais na estrada.

"Caminhei com dor, pedindo auxílio, ninguém quis me ajudar. Ficou de dia (...), vi os fuzileiros que estavam dormindo, a eles pedi ajuda", lembra Lala, que está refugiado num local não-revelado, junto com a esposa e familiares.

Na entrevista apareceu apenas a imagem desfocada de Lala. O governo havia pedido à imprensa que não o procurasse, para preservar sua segurança.

Lala acusou o grupo paramilitar chamado Zetas, um dos maiores do México, pelo massacre de 58 homens e 14 mulheres. "Digo aos equatorianos que não viajem mais, porque os Zetas estão matando muita gente."

A chacina também gerou uma crise diplomática entre Honduras e Equador, por causa das informações divulgadas sobre o outro sobrevivente.

O presidente do Equador, Rafael Correa, revelou na noite de terça-feira que um hondurenho também havia sobrevivido à chacina, o que foi confirmado por autoridades mexicanas.

O chanceler de Honduras, Mario Canahuati, lamentou "a irresponsabilidade com que essa notícia foi ao ar, particularmente porque um alto dignitário deveria perceber quando deve falar, quando deve ser prudente, e quando suas palavras põem em risco a vida das pessoas".

Em resposta, a chancelaria equatoriana criticou "os inaceitáveis qualificativos do ilegítimo governo de Honduras", numa alusão ao fato de que Quito não reconhece o atual presidente hondurenho, Porfirio Lobo, por ter sido eleito num pleito organizado após um golpe de Estado no ano passado.

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