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Davis Anderson, 23 anos, sobrevivente do massacre no Borderline Bar & Grill e do tiroteio no festival de música em Las Vegas | Philip Cheung / The Washington Post
Davis Anderson, 23 anos, sobrevivente do massacre no Borderline Bar & Grill e do tiroteio no festival de música em Las Vegas| Foto: Philip Cheung / The Washington Post

Era noite universitária no Borderline Bar & Grill, bar de música country na cidade de Thousand Oaks, Califórnia, na quarta-feira (7). Um homem, identificado como Ian David Long, atirou no segurança que estava fora da casa, e nos minutos seguintes, atirou e matou outras 11 pessoas, incluindo um policial. 

O atirador foi encontrado morto dentro da casa noturna. 

Thousand Oaks, considerada uma das cidades mais seguras dos EUA, entrou na longa lista de cidades americanas que já passaram por tiroteios que deixaram múltiplos mortos. A recente tragédia aconteceu menos de duas semanas depois de um massacre que deixou 11 mortos em uma sinagoga em Pittsburgh. 

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Duas vezes sobreviventes 

Quando os primeiros tiros foram dados no Borderline Bar & Grill, em Thousand Oaks (Califórnia), David Anderson sabia imediatamente que estava no meio de um tiroteio em massa. Ele havia sobrevivido ao massacre de Las Vegas que aconteceu durante um festival de música country em outubro de 2017, que deixou 58 pessoas mortas. Nesta quarta-feira (7), ele mais uma vez sobreviveu a um homem atirando indiscriminadamente em pessoas que se divertiam ouvindo música country. 

Várias pessoas que frequentavam o Borderline estiveram no massacre de Las Vegas 13 meses atrás. 

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Molly Maurer compartilhou no Facebook seus sentimentos sobre ser duas vezes sobrevivente: “Eu não acredito que estou dizendo isso novamente. Eu estou viva e segura em casa”. 

Susan Orfanos disse em entrevista à televisão que o filho dela, Telemachus, foi morto no Borderline depois de ter sobrevivido em Las Vegas. 

“Meu filho estava em Las Vegas com vários amigos, e ele voltou para casa. Ele não voltou para casa ontem à noite”, ela disse. “Eu não quero preces; eu não quero pensamentos; eu quero controle de armas, e eu espero em Deus que ninguém me mande mais preces. Eu quero controle de armas. Chega de armas”. 

Telemachus tinha 27 anos e morava com os pais. Ele era um veterano da Marinha. Ele sofria de estresse pós-traumático após o massacre de Las Vegas e estava em terapia. 

“É cruel sobreviver ao pior tiroteio do país em tempos modernos, e então ser morto em outro um pouco mais de um ano depois”, disse o seu pai, Marc, ao Washington Post. “Isso desafia a lógica”. 

Telemachus ajudou os paramédicos a remover os feridos em Las Vegas para levá-los a local seguro. “Ele certamente salvou centenas de vidas”, disse Brendan Hoolihan, 21 anos, que conheceu Orfanos na tragédia e também ajudou no resgate dos feridos. Ao fim da noite, os dois estavam cobertos de sangue. 

David Anderson disse que mudou após o massacre de Las Vegas, e que agora está muito mais consciente dos seus arredores. Ele também está mais determinado em sua crença de que um atirador bem treinado poderia fazer a diferença em situações como essa. Anderson cresceu com armas é gosta de caçar. Ele acha que as armas, se usadas com responsabilidade, podem ajudar. 

O atirador teve vários encontros com a polícia nos últimos anos 

Em abril deste ano, policiais de Thousand Oaks foram chamados para uma ocorrência na casa de Ian David Long, o homem que entrou no Borderline Bar & Grill e matou a tiros 12 pessoas. 

Os vizinhos chamaram a polícia, naquela ocasião, porque ouviram barulhos e gritos alarmantes vindos de dentro da casa no meio da noite. Quando as autoridades chegaram, entraram em confronto com o homem furioso, que estava dentro da casa. Em dado momento, sacaram armas e rifles e os apontaram para a casa, um vizinho contou. 

Por fim, o homem saiu e falou com as autoridades, que concluíram que ele não era uma ameaça. 

Long era um veterano do exército. O Corpo de Fuzileiros Navais informou que ele serviu entre agosto de 2008 e março de 2013, incluindo um período de cinco meses como operador de metralhadora no Afeganistão. 

Um primo dele disse à CBS News que Long voltou diferente de suas missões militares. Seus familiares se perguntavam se ele estaria sofrendo de estresse pós-traumático. 

Long e sua mãe moravam na mesma casa desde 2006. Os vizinhos disseram que a mãe era amigável. Mas eles usaram palavras fortes para descrever o comportamento perturbado e furioso do rapaz. 

Uma vizinha de rua disse que um amigo dela já foi várias vezes até a casa para “acalmá-lo”. Depois do tiroteio, essa vizinha disse que seu filho escreveu em uma mensagem a ela: “Aposto que foi aquele cara”. 

Os policiais que atenderam a ocorrência meses atrás disseram que Long estava enfurecido e agindo irracionalmente. Uma equipe de intervenção, incluindo especialista em saúde mental, se encontrou com Long. As pessoas que o avaliaram discutiram a possibilidade de ele estar sofrendo de estresse pós-traumático, por causa do seu serviço militar. 

As autoridades podem deter uma pessoa por até 72 horas se ela for considerada uma ameaça para si mesmo ou para outros. Mas ele foi liberado pela equipe de crise de saúde mental que o avaliou. Se ele tivesse sido colocado sob controle psiquiátrico, ele teria perdido o direito legal de possuir uma arma. 

A polícia disse que teve “vários contatos” com Long nos últimos anos, a maioria das vezes por eventos sem muita gravidade, como acidentes de trânsito. O xerife do Condado de Ventura disse que a arma usada no massacre parece ter sido comprada legalmente. 

Como se defender 

A morte de um agente de segurança e de um policial alimentou o debate sobre defesa contra atiradores. O atirador começou o massacre atirando em um segurança desarmado que estava do lado de fora do bar, segundo a polícia. Depois que ele começou a atirar nos clientes dentro da casa, um sargento entrou no prédio para confrontá-lo e acabou abatido por tiros. 

O tiroteio em Thousand Oaks tornou-se um caso emblemático para o longo debate sobre como lugares como escolas, casas noturnas e templos podem se proteger contra atiradores e como a polícia deve agir nesses casos. Este e outros massacres recentes mostram como é difícil definir uma estratégia eficaz para impedir um ataque, e o custo extremamente alto que ele pode ter para aqueles na linha de frente. 

O debate ganhou urgência no ano passado, quando o presidente Trump e outros disseram que seguranças – especificamente armados – poderiam ter evitado tiroteios do país. No começo do ano, Trump deu apoio à controversa proposta de armar professores. Ao mesmo tempo, departamentos de polícia pelo país adotaram políticas de confrontar agressivamente atiradores enquanto os incidentes acontecem, com oficiais e equipes das forças especiais entrando nos edifícios no momento do tiroteio, para tentar limitar a perda de vidas. 

As duas estratégias têm percalços. O segurança do Borderline estava entre os primeiros alvos do atirador, enquanto um segurança armado e um funcionário armado foram igualmente incapazes de parar os tiroteios do Pulse Nightclub e da Parkland High School na Flórida. 

Além da morte do sargento veterano Ron Helus na quarta-feira, quatro policiais foram alvejados por tiros enquanto atendiam o tiroteio na sinagoga de Pittsburgh, em 27 de outubro. Houve troca de tiros com o autor do massacre antes que ele fosse detido. 

“O cerne da questão é a violência por armas, e todos estamos lutando com isso”, disse Jason Villalba, um republicano da Câmara de Deputados do Texas que elaborou um programa para agentes armados nas escolas. “É importante tentar encontrar soluções para esses problemas, é importante encontrar uma maneira de remover a política”. 

Trump disse a repórteres após o massacre na sinagoga: “Se houvesse um guarda armado dentro do templo, eles teriam conseguido impedi-lo”. 

Mas vários especialistas disseram que existe pouca evidência de que seguranças armados conseguem fazer muita coisa para limitar ataques desse tipo. O Centro de Treinamento Avançado de Resposta Rápida e Aplicação da Lei da Universidade do Texas descobriu que apenas 4% de 106 tiroteios em massa analisados entre 2000 e 2015 terminaram com o atirador sendo morto antes da chegada da polícia. 

“Uma grande parte desses ataques são suicidas, às vezes quando eles são baleados e mortos, esse é o resultado que eles desejam”, disse Adam Lankford, criminologista da Universidade do Alabama. “A ideia de que ele vai se assustar por um segurança armado não faz sentido”.

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