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Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, conversa com o comandante do exército a bordo de um helicóptero | Reuters
Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, conversa com o comandante do exército a bordo de um helicóptero| Foto: Reuters

Sob uma espessa camada de fuligem e com os olhos arregalados, soldados ucranianos esperavam o transporte que finalmente os tirariam da cidade de Debaltseve, agora sob controle total de separatistas pró-russos. As tropas do governo de Kiev concluíram nesta quinta-feira a retirada do município, localizado entre as duas regiões controladas pelos rebeldes — Donetsk e Luhansk.

— Sabíamos que se ficássemos lá seria cativeiro ou morte — relatou ao jornal "The Guardian" o primeiro-tenente Yuriy Prekharia, que guiou 50 homens entre campos e florestas até saírem de Debaltseve e alcançarem posições ucranianas.

Apesar de o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, ter ordenado uma "retirada planejada e organizada" da cidade, tudo pareceu menos ordenado, destacou o jornal britânico. Prekharia disse que a decisão de recuar tinha sido tomada pelos próprios comandantes, quando perceberam que a situação estava catastrófica.

Segundo o médico do Exército Albert Sardarian, os soldados despertaram à 1h para dar início a uma retirada súbita em veículos blindados, com cerca de mil homens. As forças pró-Rússia, no entanto, emboscaram os veículos na parte da manhã. Dessa forma, os sobreviventes tiveram que continuar a pé, deixando seus mortos e feridos para trás.

— Havia um homem cuja mão tinha explodido. Eu só podia parar o seu sangue e colocá-lo em um lugar confortável, na esperança de que os veículos blindados que nos seguiam iria buscá-lo — relatou Sardarian.

A retirada de Debaltseve marca uma vitória estratégica para as forças pró-Rússia e uma dolorosa derrota para Kiev. A cidade estava há dias sob cerco dos rebeldes, que diziam que não poderiam desistir da captura por uma questão moral. Há relatos de que havia entre seis e 10 mil soldados ucranianos cercados.

'ESTÁ TUDO DESTRUÍDO' Os soldados foram levados para um hospital em Artemivsk. Do lado de fora, fumando cigarros e expressando cansaço, eles descreveram a carnificina e a destruição de Debaltseve.

— Foi como num hospício. Como a Chechênia — disse o combatente Igor Nekrasov, referindo-se aos sangrentos conflitos separatistas na região da Chechênia, na Rússia.

Outro soldado afirmou que os moradores estão escondidos, e corpos são vistos pelas ruas.

— Não há nenhuma cidade, está tudo destruído — disse. — Duas horas após o cessar-fogo, coisas terríveis começaram. Os moradores estão em porões. Muitos corpos não foram recolhidos porque os separatistas estão atirando.

As Forças Armadas informaram na quarta-feira que 22 soldados ucranianos foram mortos e mais de 150 feridos em Debaltseve nos últimos dias.

Apesar da entrada em vigor de um cessar-fogo no domingo, combates e explosões foram registrados no Leste da Ucrânia. Ambos os lados do conflito fracassaram em cumprir a retirada de armas pesada, na terça-feira, sob um dos pontos do acordo negociado em Minsk entre líderes da Ucrânia, Rússia, França e Alemanha.

O Exército de Kiev acusou os separatistas nesta quinta-feira de ainda manterem os ataques contra forças do governo ucraniano. Os rebeldes usaram foguetes, artilharia e tanques para atacar forças ucranianas em 46 ocasiões separadas, incluindo na cidade de Mariupol, na costa do mar de Azov no sul da Ucrânia, controlada pelo governo.

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