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Gazeta do Povo – Como o senhor avalia a ajuda de US$ 50 bilhões do G8 à África?

Argemiro Procópio – Sou a favor de ensinar a pescar a dar o peixe de cada dia. França, Itália e Espanha são países protecionistas que impedem a entrada de produtos africanos em seus respectivos mercados. O amendoim, algodão e o cacau produzidos na África valem muito pouco no mercado internacional. Neste sentido, a África se parece muito com o Brasil. Ambos são vítimas das relações econômicas internacionais extremamente injustas e discriminatórias. Ou seja, a ajuda do G8 não resolve nada. É como se fosse os programas brasileiros de ajuda, como Bolsa-Família e outros. A corrupção e burocracia nos países africanos também aumentam a dificuldade deste tipo de mecanismo de ajuda.

– Qual seria o mecanismo ideal?

– Defendo a justiça. Ou seja, mercados abertos aos países pobres e menos discriminação. Mecanismos para combater o contrabando de recursos naturais, como o diamante, que sustentam as grandes guerras. O perdão da dívida dos países africanos é outro ponto essencial, uma vez que temos um grande passivo histórico em relação a eles. O que afeta a África, atinge a Europa. O mundo é menor do que imaginamos. A falta de oportunidades nos países pobres alimenta o terrorismo. A África, especialmente, enfrenta uma perversa concentração de renda. Além disso, é um continente esquecido, apesar dos inúmeros conflitos políticos e étnicos, como ocorrem no Congo, Ruanda e Burundi. O mundo chorou as mais de 50 vítimas dos atentados terroristas em Londres, mas as maiores atrocidades na África são relegadas ao descaso. Os conflitos também são resultados da implantação da democracia a ferro e a fogo. Estão colhendo as cinzas deste processo em que não houve respeito pelas identidades culturais.

– Qual é a solução para o continente?

– Para combater a desigualdade seriam necessárias mudanças estruturais internas e externas. Houve um erro histórico na divisão dos estados nacionais com tribos rivais tendo de repartir o mesmo espaço. As fronteiras são injustas. Precisamos respeitar as tradições seculares dos povos da "mãe-África". (KC)

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