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Genebra - "Após 54 anos felizes juntos, eles decidiram acabar com suas próprias vidas, em vez de continuar lutando contra sérios problemas de saúde’’. Foi assim que os filhos de Edward Downes, um dos mais renomados maestros britânicos, e Joan, produtora de tevê, anunciaram ontem o suicídio dos pais.

Edward Downes começou a carreira no início dos anos 50 na Royal Opera House, em Londres, foi diretor da Filarmônica da BBC e também dirigiu a Ópera de Sidney, na Austrália.

O casal morreu após tomar barbitúricos fornecidos pela Dignitas, uma polêmica associação de assistência ao suicídio de Zurique que tem a lei a seu lado, mas divide a população. A Suíça é o único lugar do mundo onde esse ato pode ser cometido por estrangeiros.

A abertura atrai idosos e pacientes terminais de outros países para o que já foi chamado de "turismo da morte’’. A maioria é do Reino Unido, como o maestro Downes, 85 anos, e sua mulher, a coreógrafa Joan, 74 anos.

Com a morte do casal, chega a 116 o número de britânicos ajudados pela Dignitas a terminar seus dias voluntariamente desde 1998, do total de mais de mil.

Joan tinha câncer no fígado e pâncreas e os médicos haviam lhe dado poucas semanas de vida. Downes, que por 50 anos foi maestro da Royal Opera House, uma das mais importantes do mundo, se rendeu às debilidades causadas pela idade. Os filhos, que acompanharam os pais em Zurique, contaram que eles morreram de mãos dadas, dez minutos após tomarem o barbitúrico.

Os dois filhos serão interrogados quando voltarem ao Reino Unido, mas a própria polícia britânica admite que é mera formalidade. A lei britânica pune com até 14 anos de prisão o suicídio assistido, mas até hoje ninguém foi processado por ajudar a cometer o ato na Suíça.

Criticada por todos os lados em seu país, os serviços da Dignitas também provocam enorme polêmica no Reino Unido, onde a morte voluntária tem cada vez mais interessados.

A controvérsia atingiu o auge em dezembro do ano passado, quando a tevê britânica exibiu um documentário intitulado "O turista suicida’’, mostrando as últimas horas do professor universitário americano Craig Ewert, 59 anos, portador de uma grave doença neurológica, que se matou há dois anos na Suíça.

Há cerca de um mês, o jornal londrino The Guardian acrescentou pólvora ao debate, com uma reportagem mostrando que muitos pacientes britânicos que puseram fim à própria vida com a ajuda da Dignitas sofriam de doenças que não necessariamente levariam à morte, como tetraplégicos.

Protegida por uma lei de 1941, a Dignitas tem como único critério para ajudar alguém a se suicidar que a pessoa "sofra de uma doença que inevitavelmente leve à morte, ou deficiência inaceitável, e queira finalizar a vida e o sofrimento’’.

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