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Sonia e o marido Michael Peeples passeiam com os filhos no Mississipi. Relacionamentos inter-raciais têm aumentado significativamente no sul dos EUA | Nicole Bengiveno/ The New York Times
Sonia e o marido Michael Peeples passeiam com os filhos no Mississipi. Relacionamentos inter-raciais têm aumentado significativamente no sul dos EUA| Foto: Nicole Bengiveno/ The New York Times

No sul dos Estados Unidos, há várias gerações existia um grande tabu: cruzar publicamente a linha das cores do amor. Há menos de 45 anos, o casamento entre negros e brancos era ilegal, e reprovado pelas pessoas por muito tempo desde então. Assim, quando apareceu a oportunidade de um grande trabalho a uma hora de carro da Costa do Golfo, Jeffrey Norwood, técnico de basquete universitário e negro, teve suas reservas. Ele estava num relacionamento sério com uma mulher de origens branca e asiática. "Você está considerando uma vida no sul do Mississipi?", perguntou o pai, num tom cético, relembrando os dias em que um homem negro enfrentava perigo mortal apenas por ser visto com uma mulher de outra raça, independentemente de suas intenções. "Você tem certeza?". Porém, em visitas a Hattiesburg, Jeffrey Norwood, que antes morou em Louisiana, disse ter gostado do que viu: uma crescente diversidade. Sendo assim, ele se mudou, casou e, com sua esposa, teve uma menininha que foi contabilizada, no último censo, como negra, branca e asiática.

Taylor Rae Norwood, de 3 anos, é uma das milhares de crianças mestiças que transformaram este stado em lar para uma das populações multirraciais em mais rápida expansão, correspondendo a 70% entre 2000 e 2010, de acordo com novos dados do Census Bureau.

Censo

Relatórios do censo 2010, divulgado recentemente, mostram que a população mestiça do país está crescendo muito mais rapidamente do que os demógrafos haviam estimado, especialmente no sul e em partes do Meio-Oeste.

Na Carolina do Norte, a população de mestiços dobrou. Na Geórgia, ela se expandiu em mais de 80%, e quase isso no Kentucky e no Tennessee. Em Indiana, Iowa e South Dakota, a população mestiça aumentou em 70%.

"Qualquer índice acima dos 50% é impressionante", disse William H. Frey, sociólogo e demógrafo da Brookings Ins­­titution. "O fato de que mesmo Estados como Mississipi puderam presenciar uma grande explosão no número de residentes que se identificam ao mesmo tempo como brancos e negros nos diz algo sobre o que as pessoas não previam há dez ou 20 anos".

O Mississipi liderou o país no crescimento de casamentos miscigenados durante grande parte da última década, de acordo com a análise de Frey da Pesquisa Comunitária Americana. Ainda assim, pessoas mestiças correspondem a uma pequena porcentagem da população do estado: 34 mil indivíduos, ou cerca de 1,1 por cento. E muitos aqui reclamam de persistentes desigualdades raciais.

Abertura

No entanto, muitos também enxergam progressos, algo parecido com um "abridor de portas", nas palavras de um morador. "As atitudes raciais estão mudando", disse Marvin King, professor de ciência política da Universidade do Mississipi, que é negro, casado com uma mulher branca e pai de uma filha mestiça de 2 anos. "No dia a dia, certamente não existe a hostilidade que havia há alguns anos. Vemos isso no aumento dos relacionamentos inter-raciais e as pessoas não têm medo disso. Elas já não precisam mais esconder esses relacionamentos."

Norwood e sua esposa, Patty Norwood, concordam. "Tem sido muito tranquilo aqui", disse Norwood, 48 anos, que mora em Hattiesburg há 11 anos e trabalha como técnico de basquete masculino na William Carey University. "Acho que algumas pessoas que antes podiam não se sentir confortáveis com isso agora não possuem escolha. Quer dizer, sempre me diziam que, quanto mais para o sul, mais racismo. Mas isso não é verdade."

Identificação

Sonia Cherail Peeples, que é negra, conheceu o marido, Michael Peeples, branco, no prédio de ciências da University of Southern Mississippi, em 2003, quando ambos eram estudantes. Primeiro, uma amizade, depois uma paquera. "Nunca saí com uma moça negra antes", confidenciou Michael Peeples. Sua família era do "velho Mississipi", vivendo em grande parte ao redor de Jackson.

Os ancestrais de Sonia Peeples também eram velhos moradores do Mississipi, mas eram arrendatários de plantações de algodão. "Eu realmente nunca pensei duas vezes sobre isso", disse Sonia Peeples, 29 anos, sobre sair com Michael, de 30. "Todos foram abertos a isso. Eu pensei: 'Ele tem potencial. Eu poderia me casar com ele!'". E assim foi. Hoje eles têm dois filhos: Riley, 3, e Gannon, 5, que Sonia Peeples diz serem "negros, brancos e perfeitos!".

Diversificação

Em Hattiesburg, Jeffrey e Patty Norwood compraram a primeira casa construída numa rua antes que qualquer vizinho comprasse um terreno. À medida que apareciam casas, eles notavam que os vizinhos eram famílias negras, grandes e mestiças. "Entre nossa igreja e o bairro, este é o lugar mais diversificado que conheço", disse Jeffrey Norwood, nascido em Tupelo, Mississipi. "Nunca vi algo assim."

Tendo crescido em Victoria, Texas, Patty Norwood disse nunca ter muita certeza sobre que raça indicar em formulários e que quase nunca vê pessoas como ela. "Eu geralmente opto por asiática, pois só posso marcar um quadradinho", contou Patty Norwood. "A vida da nossa filha não será assim. Ela sabe o que ela é e está exposta a um pouquinho de tudo. Os tempos certamente são outros".

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