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Em Genebra, manifestantes protestaram em frente à sede da Organização das Nações Unidas, onde houve discussões sobre a violação de direitos humanos no Irã | Denis Balibouse/ Reuters
Em Genebra, manifestantes protestaram em frente à sede da Organização das Nações Unidas, onde houve discussões sobre a violação de direitos humanos no Irã| Foto: Denis Balibouse/ Reuters

Brasil adota discurso ambíguo na ONU

Em uma declaração cuidadosamente calculada na ONU, o Brasil sinalizou ontem sua preocupação com a situação dos direitos humanos no Irã. Mas evitou condenar o governo de Teerã e foi criticado por ONGs brasileiras e pela própria oposição iraniana. O Itamaraty ainda mandou um recado aos Estados Unidos de que não aceitará uma solução unilateral para a crise iraniana.

O governo de Washington alertou ontem também que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem de rever sua agenda com Mahmoud Ahmadinejad em sua visita a Teerã, em maio, e garantir que as violações aos direitos humanos serão tratadas.

O Itamaraty, como havia prometido, alertou Teerã sobre a situa-ção dos direitos humanos, em uma declaração visando também mostrar à opinião pública brasileira de que o governo estaria preocupado com violações cometidas pelo regime. Mas não propôs qualquer tipo de mecanismo para dar seguimento à situação, muito menos uma investigação, como propuseram os governos europeus.

No governo americano, a percepção é de que o Brasil precisa mudar sua agenda com o Irã. "Dialogar é bom. Mas o engajamento precisa ser feito a partir de princípios. Os direitos humanos terão de ser discutidos e há claramente uma crise de direitos humanos no Irã. É importante que líderes internacionais, como o presidente Lula, levantem o assunto da forma mais dura possível" , afirmou o vice-secretário de Estado norte-americano, Michael Posner. Antes, ele elogiou o conteúdo do discurso brasileiro na ONU. Mas diplomatas admitiram que seus comentários eram apenas para mostrar que praticamente todos os governos reconheciam a existência de problemas no Irã.

O diretor da Organização de Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, disse ontem ter recebido, na semana passada, uma nova proposta dos Estados Unidos, Rússia e França, três dos países que tentam frear o programa de enriquecimento de urânio iraniano.Uma autoridade norte-americana negou que uma nova proposta tenha sido feita pelos três países, afirmando que a única oferta continua a ser o plano da agência de monitoramento nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em outubro, pelo qual o Irã deveria enviar a maior parte de seu estoque de urânio enriquecido para fora do país. A autoridade, que trabalha na Europa, falou em condição de anonimato. O Ministério de Relações Exteriores da Rússia também negou a existência de uma nova proposta, segundo a agência de notícias Interfax.

Uma agência de notícias iraniana semioficial relevou que o diretor da agência nuclear do país, que também é vice-presidente do Irã, e outras autoridades estudam uma nova proposta conjunta. A agência cita Akbar Salehi dizendo que uma nova oferta foi feita depois de o país ter anunciado, na semana passada, que deu início ao enriquecimento de urânio em nível mais alto do que fizera antes, algo que pode acelerar a produção de material enriquecido para a fabricação de armas nucleares.

O anúncio sobre o enriquecimento do material a níveis mais altos preocupou as maiores potências do mundo que tentam se assegurar que o Irã não adquira a capacidade de produzir armas e parece ter sido calculada para impulsionar o poder do Irã nessas negociações. As últimas declarações, sobre a nova proposta, parecem ter como objetivo mostrar aos iranianos que a estratégia do governo está valendo a pena.

Ditadura

Em um sinal de que os poderes mundiais não estão voltando atrás, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse ontem que o Irã está se tornando uma ditadura militar. A afirmação reflete a elevação das tensões sobre o programa nuclear iraniano e seu combate a manifestantes contrários ao governo.

Hillary disse que "o que estamos tentado fazer é enviar uma mensagem ao Irã, uma mensagem muito clara, de que ainda estaríamos abertos a um compromisso, de que acreditamos que exista um caminho diferente para o Irã", disse Hillary. "Mas queremos o mundo unido em uma mensagem inequívoca ao Irã, a de que não ficaremos quietos enquanto eles buscam um programa nuclear que pode ser utilizado para ameaçar seus vizinhos", acrescentou. Ela fez as declarações durante um discurso para estudantes árabes no Qatar.

As informações divulgadas pelos meios de comunicação iranianos ontem não revelavam detalhes do conteúdo da suposta nova proposta.

Especialistas nucleares e autoridades norte-americanas e de outros países disseram que o Irã não possui atualmente a tecnologia para converter o material e transformá-lo nos bastões de combustível necessários para alimentar o reator de Teerã, elevando dúvidas sobre as reais intenções do Irã. A França é um dos poucos países do mundo que tem essa capacidade, embora o Irã insista que vai conseguir fabricar os bastões.

Pressão

O primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, disse ontem em Moscou que pressionou pela tomada de "sanções severas" contra o Irã por causa do programa nuclear iraniano durante sua reunião com o presidente russo Dmitry Medvedev. Netanyahu também elogiou o líder russo por demonstrar "compreensão" sobre a questão.

A reunião ocorreu poucos dias depois de o Irã ter anunciado que vai enriquecer seu urânio em níveis mais altos. "Expliquei nossa posição de que o necessário agora são sanções mais severas que sejam capazes de influenciar este regime. Sanções severas têm de incluir a importação e exportação de combustível", disse Netanyahu aos jornalistas após a reunião. "Percebi um nível considerável de compreensão do presidente russo sobre os problemas que nos dizem respeito."

Israel considera o Irã como sua maior ameaça e lembra o apoio de Teerã a militantes árabes, as ameaças do presidente Mahmoud Ahmadinejad de destruir Israel e o programa nuclear iraniano.

A Rússia tem resistido à imposição de novas sanções, mas vem mostrando crescente frustração desde a semana passada, quando o Irã revelou o enriquecimento de urânio apesar da pressão internacional. O Irã já desafiou três grupos de sanções da ONU. A China, que depende do Irã para a compra de combustível, é o único país grande contrário a novas sanções.Países se dividem em relação a sanções

Em um encontro marcado pelo abismo entre países sobre como lidar com o Irã, governos europeus pedem na ONU uma investigação internacional para determinar os responsáveis pela violência no Irã após as eleições que deram a vitória ao presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2009.

Ontem, o Irã passou por uma sabatina de sua política de direitos humanos na ONU. O evento, porém, foi marcado pela divisão profunda na comunidade internacional sobre como tratar o regime de Ahmadinejad. A reunião acabou sendo um ensaio geral do que poderia ser o debate sobre sanções que os americanos querem propor contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU, mas também uma demonstração da aliança entre países emergentes apoiando o Irã.

A proposta apresentada pelo Reino Unido é de que o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, "investigue a violência após as eleições e avalie de forma independente a situação de direitos humanos no país". O governo francês apresentou o mesmo pedido. Brasil, China e Rússia são contra a ideia.

"Precisamos ter uma avaliação sobre o que está ocorrendo", disse o vice-secretário de Estado norte-americano, Michael Posner. "Condenamos a violência e a supressão injusta de liberdade de expressão ."

Ontem, o governo iraniano rejeitou a ideia de uma investigação internacional. Seyed Rez­vani, um dos negociadores iranianos para direitos humanos, deixou claro que a ideia de uma investigação internacional "está fora de questão". Segundo ele, a Justiça iraniana irá lidar com as acusações. Teerã garante ainda que está aberto a uma visita de relatores da ONU. Mas há cinco anos nenhum representante das Nações Unidas consegue ter acesso ao país. "A ONU precisa encontrar uma forma de lidar com o problema de direitos humanos no Irã ", ressaltou.

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