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Istambul – Mehmet Altan, professor de economia da Universidade de Istambul, não tem dúvida: a crise política se explica por uma enorme batalha pelo poder entre "a caserna e a mesquita", isto é, entre militares e religiosos. Em entrevista à agência O Globo, ele explica como a elite, representada pelos militares e a burocracia do Estado, teme perder espaço num país mais democrático.

O secularismo corre risco na Turquia?

Temos duas grandes forças: a caserna e a mesquita. Entre os dois há uma guerra de poder. Estamos passando de um estágio a outro. Tivemos uma modernização feita pelo Exército, no modelo jacobino francês. Agora, se quisermos continuar com o modelo jacobino, precisamos aceitar o povo. continuamos um país de camponeses na mentalidade, mas como copiamos o modelo da consumo da Europa, temos uma modernização kemalista. Agora estamos na modernização democrática, com o seu povo.

É preciso agora incluir o povo?

Sim, mas as elites não estão satisfeitas com isso. A Turquia é muito diferente da Europa porque não temos uma classe burguesa, nem de proletariado, nem acúmulo de capital.

Vocês têm uma elite e o resto?

No Império Otomano o sistema era antiacúmulo de capital. O que nos resta? Os palácios. Com a fundação da República, o que nos restou foi a burocracia dos palácios dos sultões. E foram as elites do Estado – a burocracia – que fundaram a república. E esta burocracia não acha que o povo turco é europeu o bastante. Hoje o AKP (partido que é contestado pela elite e pelos militares, acusado de ter uma agenda islâmica escondida) está tentando integrar as favelas no sistema.

Não há risco com o AKP?

A Turquia é um país muçulmano. A burocracia, a elite, sempre foi pela Europa. Laicismo, para eles, é liberdade de consumo. E os muçulmanos, para eles, representam os pobres. Estamos falando de dois modelos completamente diferentes de vida. Os kemalistas republicanos só defendem o modelo de consumo da Europa, e não o direito dos outros, não a democracia. Esta é a contradição.

A melhor forma de garantir uma Turquia secular é ir na direção da Europa?

Sim. Mas temos um problema. Nos falta um mercado. Como ele não existe, a divisão da riqueza acontece através da política.

Como os turcos vêem a UE?

Cinqüenta e dois por cento dos turcos são favoráveis à UE. Burocratas, militares, os que vão perder com a UE fazem propaganda nacionalista.

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