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Kim Jong-Un: em troca de assistência técnica, o ditador vai enviar mais de um milhão de cartuchos de artilharia para a Rússia usar contra a Ucrânia.
Kim Jong-Un durante sua visita a uma base norte-coreana| Foto: EFE/EPA/KCNA

O ano começou com especulações cada vez mais fortes de uma iminente guerra na península coreana, região na qual se encontram as duas Coreias. Os novos movimentos militares, aliados aos discursos inflamados dos países, deram um novo tom a já deteriorada relação de Pyongyang e Seul, o que amplia a possibilidade de um conflito regional.

De um lado, a ditadura norte-coreana, liderada por Kim Jong-un, dissolveu as agências de cooperação e reunificação da península e ameaçou iniciar uma guerra, caso sua vizinha do Sul viole qualquer centímetro de seu território. Além disso, nesta semana, o líder do regime também pediu uma revisão da Constituição para definir a Coreia do Sul como o "país hostil número um", em mais um sinal de profundo desentendimento entre os lados.

Em seu longo discurso no Parlamento, Kim afirmou que as políticas de Washington, apoiadas por Seul para "acabar" com seu país, não deixam espaço de manobra a não ser a preparação para a guerra, segundo informou a agência de notícias estatal KCNA. "É importante levar em conta a questão de ocupar, suprimir e recuperar completamente a República da Coreia (nome oficial da Coreia do Sul)", disse o ditador.

Do outro lado da península, Seul também tem se mobilizado com treinamentos militares conjuntos com os EUA e Japão para conter a ameaça constante do Exército de Kim, em especial nos últimos meses, marcados pelos ataques com artilharia perto da fronteira, reuniões com o governo russo e a descoberta, pelas inteligências sul-coreana e americana, do envio de armas a partir de Pyongyang para o Oriente Médio e a Ucrânia.

Uma rígida medida anunciada pela Coreia do Sul surgiu na quarta-feira (17), quando o país impôs sanções contra 11 navios e cinco pessoas físicas e jurídicas envolvidas no transporte ilegal de petróleo e outras mercadorias por navio para a Coreia do Norte.

Essa postura contra as atividades marítimas do Norte faz parte dos esforços de governo do Sul para desencorajar o envio de recursos ao país vizinho e sua obtenção de financiamento, visando frear o desenvolvimento de seu programa nuclear e de mísseis.

A península coreana nem sempre foi divida em dois países. Até a derrota do Japão para a União Soviética, em 1945, os dois lados formavam uma única nação, seguindo os mesmos valores e cultura. Com o fim da guerra mundial, os soviéticos ocuparam metade da península, ao norte, enquanto os Estados Unidos ficaram com a metade sul, cada lado com sua própria ideologia.

Os atritos entre os dois territórios ganharam cada vez mais intensidade, levando o Norte a implementar o regime comunista em grande escala, enquanto a porção Sul seguiu com o sistema capitalista. Isso levou à criação de dois Estados autônomos.

Em 1950, a Coreia do Norte invadiu o Sul, apoiada na União Soviética e na China, com o objetivo de reunificar o país e instaurar por toda a extensão territorial o comunismo. A missão quase teve sucesso, até que a Coreia do Sul, com o apoio dos EUA e aliados, e sob o amparo da ONU, reagiu à invasão e lançou um contra-ofensiva que mudou o cenário da guerra, vindo a ocupar grande parte da península.

Em julho de 1951, os lados chegaram a um impasse que os obrigou a iniciar conversas de paz, na cidade fronteiriça de Kaesong, na Coreia do Norte. A China e a União Soviética propuseram o traçado da fronteira no paralelo 38, enquanto os EUA e seus aliados propunham sua fixação na linha de frente do conflito, a dezenas de quilômetros ao Norte.

Novamente, a falta de acordo entre as partes levou a uma estagnação das negociações até 1953, quando foi assinado um cessar-fogo temporário. O armistício também foi responsável pela criação de uma zona desmilitarizada ao longo do paralelo 38.

Por ser temporário, tecnicamente os dois países seguem em guerra, mesmo com a interrupção dos confrontos diretos por décadas. Em 2018, o então presidente sul-coreano, Moon Jae-in se encontrou com o ditador Kim Jong-un, em Pyongyang, no entanto o encontro foi marcado por pouco diálogo, sem soluções finais para o conflito.

No ano passado, os países aumentaram os desentendimentos e abriram espaço para novas especulações sobre o retorno da guerra, depois de 70 anos.

À agência AFP, o analista do Instituto Coreano para a Reunificação Nacional, Hong Min, afirmou que o principal indício de que o Norte quer o retorno do conflito armado é a mudança legislativa proposta no Parlamento. “A classificação do Sul como o ‘principal inimigo’ do Norte não é apenas retórica: as palavras podem levar à ação”, alertou.

Outro especialista, Choi Gi-il, professor de Estudos Militares na Universidade Sangji, na Coreia do Sul, considera que os dois países estão agora “na maior possibilidade de serem arrastados para um conflito armado”.

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