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Curitiba – Mais do que temer o ditador norte-coreano Kim Jong-Il armado com bombas nucleares – ainda que isso não seja nada bom – o que deve realmente preocupar a chamada "comunidade internacional" é a proliferação da tecnologia nuclear para fins militares, seja ela fabricada ou adquirida.

A ousadia da Coréia do Norte, que testou uma bomba atômica no dia 9 de outubro, foi duramente criticada mas, na prática, foi castigada com penas leves.

Apoiados nesse exemplo, outros países podem bater à porta do clube nuclear, teme o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei. Os candidados mais sérios são os regimes fechados e até nações suspeitas de financiar redes terroristas. Está armado o cenário para uma segunda era nuclear.

Sem citar nomes, ElBaradei falou, na semana passada, sobre o risco de 20 ou 30 Estados desenvolverem armas nucleares a curto prazo. Mas, se ElBaredei e sua agência dividiram o Nobel da Paz de 2005, o que está errado?

A AIEA basicamente limita sua atividade ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), criado em 1968 e atualmente ratificado por 188 países. O espírito do tratado é baseado num acordo: em troca do gradual desarmamento dos cinco Estados declaradamente nucleares – China, EUA, França, Reino Unido e Rússia – os outros países se comprometem a não desenvolver ou adquirir qualquer tipo de arma nuclear. O TNP permite, porém, sob inspeção e com a colaboração de monitores da AIEA, o desenvolvimento de um programa nuclear para fins civis.

Esse último ponto é um dos grandes problemas do tratado. Com o avanço tecnológico, ficou praticamente impossível monitorar o enriquecimento de urânio em laboratório. A linha que divide os programas nucleares civis e militares é tênue. A qualquer momento, um país que detenha a, paradoxalmente, ajuda da AIEA pode abandonar o tratado, desde que avise os demais países membros com três meses de antecedência, como fez a Coréia do Norte em 2003.

ElBardei defende uma série de atualizações no TNP, mas as reformas dependem da vontade política de todos os signatários, especialmente dos que integram o Conselho de Segurança da ONU. Para os especialistas, o fracasso no cumprimento do TNP se deve em boa parte à ausência do assunto na agenda das cinco potências nucleares. "Esses países fingem não saber dos programas de Israel, Paquistão e Índia. Isso abriu precedentes", afirma Geraldo Lesbat Cavagnari, coronel da reserva e integrante do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. Índia e Paquistão não escondem o fato de que mantêm um arsenal nuclear. Já Israel, não admite nem nega. Os três, mais a Coréia do Norte, formam o grupo de países nucleares que não fazem parte do TNP.

Em viagem à Ásia, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, tenta impedir que a ação norte-coreana tenha um efeito dominó na vizinhança. Taiwan, Coréia do Sul e Japão são países que poderiam se armar em pouco tempo.

É quase consenso a análise de que os atos do ditador norte-coreano são mais uma tentativa de manter seu regime do que de atacar outros países, mas o mesmo não se pode dizer da ameaça vinda do Irã. O desejo de liquidar Israel, repetidamente expresso pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, poderia ficar mais próximo da realidade caso o país persa consiga fabricar bombas atômicas.

Ainda que não tente destruir Israel, um governo xiita armado com bombas atômicas incitaria os regimes onde prevalece a corrente islâmica sunita – Egito e Arábia Saudita. Estes também tenderiam a entrar na corrida nuclear. Além disso, a proximidade dos iranianos e da Síria, que apóia o programa nuclear iraniano, com redes terroristas justificam o temor de que essas armas possam cair em mãos – ainda mais – erradas.

"Não é que a Coréia seja um problema sério, mas teme-se o que poderá vir daí se não houver um entendimento por toda a comunidade internacional", afirma Cavagnari.

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