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Juan Manuel Santos durante comício de campanha | EFE/Mauricio Dueñas Castañeda
Juan Manuel Santos durante comício de campanha| Foto: EFE/Mauricio Dueñas Castañeda

Pouco durou a trégua entre o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e seu antecessor, Álvaro Uribe, que de cabo eleitoral em 2010 passou a ser a grande voz crítica ao governo, sustentado por uma aliança com quase todos os partidos e inclusive a esquerda, graças ao diálogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Santos tomou as rédeas de um país confrontado com seus vizinhos, a Venezuela de Hugo Chávez e o Equador de Rafael Correa, pelo respaldo que Uribe acreditava que esses governos davam às Farc.

Aquele que antes tinha se colocado como afilhado político de Uribe desconstruiu essa posição desde o primeiro dia após sua vitória nas urnas, ao convidar Correa e o então chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, para a cerimônia de posse, e falou sem rodeios da necessidade da paz em seu discurso inicial como presidente.

Três dias depois, em 10 de agosto de 2010, Santos recebeu na Quinta de Bolívar, na cidade caribenha de Santa Marta, ninguém menos que Hugo Chávez, e o chamou de seu "novo melhor amigo", o que fez Uribe se revirar de desgosto. Assim começou uma disputa sem tréguas, que se traduziu em uma grande oposição durante quatro anos.

Santos formou o chamado governo de União Nacional com o apoio do Partido do U, do Partido Liberal, do Partido Conservador, do Mudança Radical e do Partido Verde.

Só ficou de fora o esquerdista e minoritário Polo Democrático Alternativo, mas com o qual mais adiante também se aproximou no caminho da paz.

Foi exatamente o diálogo com as Farc, anunciado por Santos em agosto de 2012, a gota d'água para Uribe, que deixou de ser um incômodo crítico no Twitter e tomou a decisão de criar seu próprio partido, o Centro Democrático, mais à direita no espectro político.

Uribe usou o processo de paz como munição, pôs as Forças Armadas contra Santos e o rotulou de "amigo" da guerrilha e do "castro-chavismo", um discurso que pegou para uma parte dos colombianos.

Ao desgaste do processo de paz se somaram os protestos sociais e especialmente a longa greve agrária de 2013, na qual os camponeses protestaram contra as políticas neoliberais de Santos, o que deixou a popularidade do presidente no fundo do poço.

Depois o governo perdeu dois de seus cinco aliados, já que os partidos Verde e Conservador retiraram o apoio para entrar na corrida presidencial com Enrique Peñalosa e Marta Lucía Ramírez, respectivamente, concorrentes de Santos.

No Centro Democrático foi flagrada uma batalha interna para liderar a candidatura à presidência entre o próprio primo do presidente, Francisco Santos, e o ex-ministro da Fazenda Óscar Iván Zuluaga, que foi o escolhido por Uribe e hoje é o mais bem posicionado na disputa com o presidente.

As pesquisas colocam Santos e Zuluaga em empate técnico tanto no primeiro turno, em 25 de maio, como em um eventual segundo turno, em 15 de junho.

O processo de paz, rejeitado por muitos colombianos, esteve no ponto de mira de Zuluaga, que promete submeter as Farc a tantas condições que conseguiria acabar com os diálogos.

E as eleições legislativas de 9 de março, nas quais a coalizão que apoia Santos não alcançou maioria absoluta e o Centro Democrático ficou como segunda força, são o melhor indicativo do estado de saúde do governo.

Pela esquerda, o outro golpe a Santos veio do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, antigo guerrilheiro do M-19 e que, à frente do governo local, manteve uma cruzada contra a corrupção e os grupos de poder político e econômico, o que o deixou às portas da cassação.

Durante a disputa pela prefeitura de Bogotá, Petro formou um movimento popular de oposição contra o ultradireitista procurador-geral e que terminou respingando em Santos, já que suas contradições voltaram ao debate, o que o fez perder o apoio da esquerda que tinha conquistado graças ao processo de paz.

"Sem dúvida alguma teve um custo político", reconheceu Santos em recente entrevista à Agência Efe sobre o polêmico "caso Petro".

No entanto, uma vez restituído em seu cargo, o prefeito voltou a apoiar Santos ao observar como o candidato de Uribe subia nas pesquisas, certamente avaliando que esta seria a pior opção para a esquerda.

Com Álvaro Uribe como seu mais ferrenho inimigo e a fragmentação da oposição, Santos encarará as urnas em 25 de maio com o apoio incondicional dos liberais, o que significa um retorno do líder ao partido em que surgiu.

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