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Curitiba – O comércio do mundo ocidental tomou nova distância das referências religiosas nas promoções de Natal deste ano. Cartões, vitrines e campanhas publicitárias raramente citam o dia 25 de dezembro como a data de nascimento de Jesus Cristo. Nos Estados Unidos, onde surgiu a figura do Papai Noel contemporâneo, de roupas vermelhas, a palavra "Christmas", relativa a Cristo, vem sendo banida inclusive dos sites das lojas de departamentos mais procuradas nesta época do ano. O apelo à troca de presentes se sustenta na figura do Papai Noel, ou mesmo na simples exibição dos produtos à venda. Para os especialistas, esse fenômeno chegou a um ponto decisivo, em que seria necessário separar em datas diferentes a troca de presentes e a festa religiosa para se preservar a essência da tradição cristã.

Em 74 anos, a figura do Papai Noel transformou o Natal em todo o mundo. No berço do Papai Noel, os EUA (veja quadro), os comerciantes usam a palavra Christmas apenas em situações inevitáveis. Mesmo a rede Macy’s – conhecida internacionalmente pela Macy’s Parade, desfile do Dia de Ação de Graças (sempre na quarta quinta-feira de novembro) realizado desde 1929 em Nova Iorque – prefere deixar a figura de Cristo de lado. Nos espaços dedicados ao lado espiritual do Natal, apresentam-se imagens de anjos. O nome Christmas aparece associado a enfeites para a árvore de Natal, como bolas coloridas com desenhos de Noel.

Feriado

Na publicidade da Bloomingdale’s, outra grande loja de Nova Iorque, até a exposição de artigos religiosos é seletiva, dando preferência a castiçais e excluindo cruzes ou referências diretas a qualquer crença. Os eventos de dezembro organizados pela rede fazem alusão ao Natal, mas no lugar de "Christmas", usa-se a palavra holiday (feriado). O mesmo ocorre em outras lojas. As livrarias norte-americanas Barnes & Nobles deseja a seus clientes "Happy Holidays" em vez de Merry Christmas. Os cartões oferecidos no site da rede não fogem à regra.

O fenômeno é mundial, afirma o psicólogo e teólogo Calvino Camargo, professor do Centro Universitário de Maringá (Cesumar). Para ele, se o planeta inteiro separasse a data festejada pelo comércio do Natal – a exemplo de países como a Alemanha, Espanha, Holanda e Portugal, onde a população troca presentes no Dia de São Nicolau (5 de dezembro) – seria mais fácil "preservar a memória de um acontecimento importante como o nascimento de Jesus Cristo, que traz novidade para a vida das pessoas".

Além disso, ele acredita que as lojas teriam menos dificuldade para estimular os não-cristãos a irem às compras. Camargo observa que o Natal acaba envolvendo pessoas de crenças distintas em celebrações cristãs por força do apelo comercial. A troca de presentes estaria baseada no culto à amizade.

O teólogo destaca que a celebração do Natal já teve um sentido de solidariedade mais forte. A festa religiosa é celebrada desde o século 4. No entanto, na última quinta-feira, só um pequeno grupo de turistas assistiu ao acender das luzes da árvore de Natal em Belém (Cisjordânia), cidade onde, segundo a tradição cristã, nasceu Jesus.

Para a psicóloga social Mariane Lemos, de Curitiba, o esquecimento do sentido religioso do Natal "está ligado à tendência consumista". Além do nascimento de Jesus representar, para os cristãos, a data em que Deus se revela em uma pessoa, ela considera que a humanidade sempre relacionava a celebração "ao amor, à humildade, à simplicidade, ao sacrifício pelo outro". A tradução da mudança pode ser a degradação desses valores, aponta.

Mariane afirma que ultimamente as pessoas vão às compras mais para satisfazer seus desejos e menos para presentear amigos e parentes. "São desejos materiais, como uma tevê de tela plana, um aparelho de DVD, mesmo que em dez ou quinze prestações." Em sua avaliação, sentimentos como amor e consideração ficam em desvantagem nessa competição.

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