
O confronto mais sangrento no Egito desde a queda do ditador Hosni Mubarak, há um ano, não começou nas ruas do Cairo, mas acabou reunindo milhares novamente na emblemática Praça Tahrir. E o que, aparentemente, começou como uma briga entre torcidas, logo ganhou contornos políticos.
Ontem, manifestantes se reuniram para protestar próximo ao Ministério do Interior contra a morte de ao menos 74 pessoas após uma partida de futebol no dia anterior, em Port Said, próximo ao Canal do Suez.
A polícia usou gás lacrimogêneo contra a multidão. Além de torcedores, que carregavam bandeiras dos dois times envolvidos no banho de sangue o Al Ahly, do Cairo, e o Al Masry, de Port Said , uniram-se ao protesto manifestantes que já pediam a saída da junta militar do poder.
Os militares são acusados de negligência antes e durante o confronto, permitindo a violência e até a incentivando. Para muitos, o fraco controle de entrada no estádio permitiu que os "ultras", como são conhecidos os torcedores mais radicais, levassem para dentro facas e porretes. Vídeos feitos no estádio também mostram seguranças parados em meio à confusão.
O episódio motivou duras declarações da Irmandade Muçulmana contra os militares as duas principais forças políticas hoje no país. "A razão para essa tragédia é a negligência deliberada e a ausência dos militares e da polícia", disse Essam el Erian, um dos líderes do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade.
Ele acusou as forças de segurança de arquitetar contra a "transição democrática" e preparar uma "vingança" contra os que tentam acabar com a lei de emergência.
O chefe da Junta Miliar, Mohamed Hussein Tantawi, prometeu punir os responsáveis 47 já foram presos. "Temos um roteiro para transferir o poder a civis eleitos. Se alguém está plantando instabilidade no Egito, não vai ter sucesso", disse a uma tevê.
As suspeitas recaem sobre as forças de segurança também por seu constante atrito com os torcedores do Al Ahly presença obrigatória nas manifestações que levaram à queda de Mubarak.



