Trata-se de um “grande poder” inconvencional

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Do ponto de vista das relações internacionais, qual é a importância do papa e qual o papel que ele pode desempenhar?

O papa Francisco disse, recentemente, que a perda dos Estados Pontifícios foi uma bênção para a Igreja porque limitou o seu poder ao poder espiritual. Trata-se, de qualquer modo, de um grande poder. O papa não é um chefe de Estado convencional, mas tem uma audiência de mais de 1 bilhão de pessoas. Sua influência não é direta e imediata, como a dos demais líderes mundiais, mas ele pode exercer influência no jogo político internacional, como se verifica na atuação do papa João Paulo II, ao qual normalmente se atribuí elevado protagonismo da desarticulação do chamado socialismo real.

Embora não possa criar políticas, a Igreja tem poder para moldá-las de um jeito que nenhuma outra instituição consegue. Essa é uma afirmação publicada pela revista Foreign Affairs. Poderia, por favor, dar sua opinião a respeito dela?

A Igreja Católica, como seu nome diz, é universal. Logo, observados parâmetros doutrinários que a fundamentam, é bastante heterogênea. Assim, há reacionários, conservadores, liberais, social-democratas e até mesmo uma esquerda católica. Existem disputa e diversidade internas mesmo nas formações nacionais da Igreja. Dos líderes da Igreja espera-se muita habilidade e sabedoria para promover uma orquestração que seja, ao mesmo tempo, eficiente para não perder o rebanho e não enfraquecer a doutrina.

Poderia citar outro exemplo um exemplo da influência papal?

A política de aggiornamento (colocar a Igreja em dia com o mundo) patrocinada pelo papa João XXIII certamente teve bastante repercussão em âmbito internacional. Da mesma forma que existem debates sobre o ativismo, também são discutidas eventuais omissões. Há uma polêmica, por exemplo, sobre o papel desempenhado pelo papa Pio XII na conjuntura da Segunda Guerra Mundial, em face do Holocausto promovido pelo nazismo.