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O presidente Donald Trump criticou o almirante aposentado William H. McRaven como “fã de Hillary Clinton” e “apoiador de Obama” e sugeriu que o ex-chefe do Comando de Operações Especiais dos EUA deveria ter capturado Osama Bin Laden mais rápido.

Os comentários foram feitos pelo presidente em uma entrevista com Chris Wallace no programa de TV “Fox News Sunday”, no domingo (18), e representam o mais recente ponto de tensão entre Trump e um grupo de oficiais aposentados que criticaram publicamente o presidente por sua condução de questões militares e de segurança. 

McRaven, um membro aposentado do Navy SEAL (força de operações especiais da Marinha dos EUA), supervisionou a operação de 2011 que matou Bin Laden em um complexo em Abbottabad, no Paquistão. Depois que Trump revogou as credenciais de segurança do ex-diretor da CIA John Brennan, McRaven escreveu um artigo no Washington Post defendendo Brennan como um homem de integridade inigualável e pediu ao presidente que revogasse suas credenciais também, em solidariedade. McRaven também criticou Trump mais amplamente.

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“Como a maioria dos americanos, eu esperava que quando você se tornasse presidente, você chegaria à altura da ocasião e se tornaria o líder que esta grande nação precisa”, escreveu McRaven. “Um bom líder tenta incorporar as melhores qualidades de sua organização. Um bom líder dá o exemplo para os outros seguirem. Um bom líder sempre coloca o bem-estar dos outros antes de si mesmo.” 

“Sua liderança, no entanto, tem mostrado poucas dessas qualidades”, acrescentou McRaven. “Através de suas ações, você nos envergonhou aos olhos de nossos filhos, nos humilhou no cenário mundial e, pior do que tudo, nos dividiu como nação.” 

O comentário significou uma rara reprimenda pública por um ex-militar, a maioria deles costuma não opinar em questões políticas depois de se aposentar, e resultou em pedidos para que McRaven concorresse a um cargo público. 

No domingo, cerca de três meses depois, Trump deu o troco ao almirante aposentado quando Wallace o convocou na entrevista. 

“Bill McRaven, almirante aposentado, Navy SEAL, 37 anos, ex-chefe de Operações Especiais dos EUA, que liderou as operações, comandou as operações que derrubaram Saddam Hussein e que matou Osama Bin Laden, diz que seu sentimento é a maior ameaça à democracia em toda a sua vida”, disse Wallace, quando Trump o interrompeu para chamar o ex-comandante de um “fã de Hillary Clinton”. 

Trump então acusou McRaven de não encontrar Bin Laden rápido o suficiente. 

“Não teria sido bom se tivéssemos encontrado Osama Bin Laden muito mais cedo do que isso, não teria sido bom?”, o presidente disse. “Você sabe, vivendo – pense nisso – vivendo no Paquistão, formosamente no Paquistão, no que eu acho que eles consideravam uma bela mansão, eu não sei, eu já vi melhores. Mas vivendo no Paquistão ao lado da academia militar, todos no Paquistão sabiam que ele estava lá”. 

McRaven não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário no domingo.

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Previsão

Nesta segunda-feira, o presidente Donald Trump reforçou a afirmação de que os EUA deveriam ter capturado Osama Bin Laden mais rapidamente, alegando em um tweet que ele havia avisado sobre o líder da Al Qaeda em seu livro antes dos ataques de 11 de setembro de 2001.

Trump fez uma única referência passageira a Bin Laden em seu livro de 2000, “The America We Deserve”. Mas essa referência fica aquém de suas repetidas alegações, desde 2015, de que ele previu que Bin Laden iria atacar os Estados Unidos. 

“É claro que deveríamos ter capturado Osama Bin Laden muito antes do que fizemos”, Trump twittou segunda-feira de manhã. “Eu apontei para ele no meu livro ANTES do ataque ao World Trade Center. É notório que o presidente Clinton perdeu a chance. Nós pagamos ao Paquistão bilhões de dólares e eles nunca nos disseram que ele estava morando lá. Tolos!” 

Em outro tweet, ele disse que o Paquistão e o Afeganistão estavam entre “muitos países que tomam dos Estados Unidos sem dar nada em troca”. 

“Isso está acabando!”, ele disse. 

Trump “repetidamente e falsamente alegou” que ele previu que Bin Laden iria atacar os Estados Unidos e que os Estados Unidos precisavam “apanhá-lo”, a checagem de fatos do Washington Post escreveu em 2015. 

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Os tweets de Trump vieram um dia depois da entrevista ao “Fox News Sunday”, na qual o presidente intensificou uma briga com o almirante William McRaven. 

McRaven havia criticado Trump por descrever a mídia como o “inimigo do povo”. 

Ajuda suspensa

Trump suspendeu a ajuda de segurança ao Paquistão no início deste ano e acusou os líderes do país de “mentiras e enganos”. As últimas críticas do presidente ao antigo aliado militar dos EUA provocaram uma repreensão do primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, que disse no Twitter na segunda-feira de manhã que os Estados Unidos procuravam fazer do Paquistão “um bode expiatório para seus fracassos”. 

As críticas de Trump a McRaven também provocaram indignação entre alguns atuais e antigos oficiais militares e de inteligência. Na noite de domingo, o ex-vice-diretor da CIA, Michael Morell, apontou que foram as forças da CIA, e não as de McRaven, as responsáveis por “encontrar” Bin Laden. 

Stanley McChrystal, general reformado do Exército, defendeu McRaven em uma entrevista à CNN na segunda-feira, na qual ele disse que Trump estava “simplesmente errado” e que ataques pessoais a qualquer pessoa são injustificados. 

“Conheço Bill McRaven e tive a honra de servir ao lado dele”, disse McChrystal, chamando os comentários de Trump de “sintomáticos” da crise de liderança do país.

Críticas

Esta não é a primeira vez que a tensão entre Trump e oficiais militares aposentados se torna pública. 

No início deste mês, Martin Dempsey, um ex-presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, juntou-se a outros oficiais militares aposentados para atacar o envio de milhares de tropas de Trump à fronteira com o México na semana das eleições de meio de mandato. Dempsey chamou a operação, uma demonstração de força contra as caravanas de migrantes da América Central que viajavam para o norte até a fronteira dos EUA, de uma “mobilização supérflua de soldados e fuzileiros navais sobrecarregados”. 

Durante a campanha de 2016, Trump atacou o general aposentado dos Fuzileiros Navais John Allen por apoiar Clinton, descrevendo o ex-comandante da missão liderada pela Otan no Afeganistão como um “general fracassado”. 

McRaven serviu como reitor da Universidade do Texas depois de deixar o exército, mas renunciou este ano devido a problemas de saúde. Ele tem leucemia linfocítica crônica, um tipo de câncer de sangue de crescimento lento que foi diagnosticado em 2010, enquanto estava no Afeganistão.

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