• Carregando...
 | NICHOLAS KAMMAFP
| Foto: NICHOLAS KAMMAFP

Nos últimos anos, campanhas contra o bullying têm se tornado um padrão no ensino médio e na faculdade. Nossa sociedade decidiu, corretamente, que os valentões que fazem bullying não devem mais ser tolerados porque seus ataques dolorosos podem deixar cicatrizes para toda a vida e, em casos extremos, ao suicídio das vítimas.

Da mesma forma, Donald Trump, tanto como candidato quanto como presidente, tem sido acusado de praticar bullying, e seus críticos o atacam por sua fúria e insensibilidade. 

Parece que as únicas pessoas que praticam bullying e permanecem fora do alcance – aos olhos dos críticos da mídia, inúmeros políticos e muitos outros americanos – são ditadores traidores da nação e organizações terroristas. Devemos tratar esses agressores com delicadeza, muitos dizem. 

O último exemplo desta crença de apaziguamento voltou à tona na primeira semana do ano, quando o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, alardeou: “eu tenho um botão nuclear na mesa do meu escritório. Todo a área continental dos Estados Unidos está dentro do alcance de um ataque nuclear”. 

Por muitas décadas, e com vários ocupantes da Casa Branca, a resposta dos EUA a provocações como essa foi algo que poderia ser generosamente chamada de “coibição”, mas mais precisamente chamada de “falta de coragem”. 

Em vez disso, Trump publicou no Twitter: “O líder norte-coreano Kim Jong Un acabou de afirmar que ‘o Botão Nuclear está em sua mesa todo o tempo’. Alguém de seu regime esgotado e morto de fome poderia, por favor, informá-lo de que eu também tenho um Botão Nuclear, mas que o meu é muito maior e mais poderoso que o dele, e que o meu Botão funciona!” 

Uma rodada típica de ofensas se seguiu, direcionada não apenas ao ditador da Coreia do Norte, mas ao presidente dos Estados Unidos. Como ele se atreve a responder de uma maneira tão pouco cuidadosa, juvenil e irresponsável? 

“Falou como um garoto petulante de 10 anos de idade”, Eliot Cohen, ex-conselheiro de Condoleezza Rice, escreveu no Twitter, somando-se à reação geral de muitas pessoas. “Mas um [garoto] com armas nucleares – de verdade – à sua disposição. A forma com que as pessoas que o cercam, ou o apoiam, podem negar isso ou rir disso vai além de mim.” 

Na verdade, a forma como exitosamente se lida com ameaças estrangeiras tem ido além de muitas administrações passadas. Viver com medo de perturbar nossos inimigos parece, há muito, ser uma política dos EUA. 

A abordagem de Trump – uma pela qual milhões de americanos têm esperado – é tratá-los como agressores choramingões que são. Da descrição que fez de Kim de o “Pequeno Homem Foguete” às suas retaliações a ameaças nucleares de ditadores, Trump se recusa a fingir respeito. 

Trump tem sido admiravelmente consistente em sua abordagem aos inimigos americanos, e suas críticas têm sido fiéis em expressar o alerta. Durante a campanha de 2016, Hillary Clinton e muitos outros reclamaram que a retórica brusca de Trump sobre o extremismo islâmico estava ajudando o Estado Islâmico a recrutar novos membros. 

Em maio de 2016, Clinton ecoou o que muitos outros haviam dito e continuavam a alegar: “eu disse, meses atrás, que o que Donald Trump falou está sendo usado para recrutar terroristas pelo ISIS… Agora, acabamos de ter evidências absolutas de que sim, está. Eles estão pegando suas palavras, direto da sua boca, denegrindo muçulmanos e as colocando em vídeos de propaganda. Por que estamos tornando o mundo mais perigoso para americanos?” 

Em outras palavras, não enfureça os líderes do Estado Islâmico. Não os insulte – eles irão nos odiar ainda mais! 

Os terroristas podem ter usado as palavras de Trump como uma ferramenta de recrutamento – e sim, ele teria feito melhor se tivesse diferenciado a religião muçulmana do terrorismo islâmico – mas nos últimos meses, de acordo com múltiplas narrativas, o Estado Islâmico tem sido efetivamente derrotado em suas antigas fortalezas no Iraque e na Síria. A afirmação de que a retórica de Trump fortaleceria o grupo estava fora de jogo. 

Enquanto muitas pessoas acusam o presidente de se envolver em provocações de playground, Trump fala com ditadores e terroristas em uma linguagem que eles entendem. Ele demonstra uma mudança forte na política americana, daquela de medo e apaziguamento para a que trata tais valentões da maneira que eles merecem – com desprezo e escárnio. 

Os críticos de Trump vão se perguntar por que o presidente parece ter uma abordagem mais suave com o presidente russo Vladimir Putin, mas Putin não diz que seu objetivo é destruir os EUA militarmente ou por meio de ataques terroristas. A resposta que os EUA têm empregado por anos àqueles que – e a que é preferida pelos críticos de Trump – conduziram a um longínquo Estado Islâmico, uma Coreia do Norte que é armada com mísseis de longo alcance e um mundo mais perigoso em geral. Uma resposta radicalmente diferente foi adiada por muito tempo. 

Dizemos que queremos que nossas crianças entendam que os valentões não devem ser tolerados ou respeitados. Essa filosofia não deve abrir exceção para ditadores e terroristas. 

- - - 

Abernathy, colunista colaborador do Washington Post, é editor de Times-Gazette de Hillsboro (Ohio).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]