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Trump comentou que os EUA não tem interesse de tirar Kim Jong-un do poder caso um acordo de desnuclearização seja assinado | Jabin BotsfordThe Washington Post
Trump comentou que os EUA não tem interesse de tirar Kim Jong-un do poder caso um acordo de desnuclearização seja assinado| Foto: Jabin BotsfordThe Washington Post

Na quinta-feira (17), o presidente dos EUA, Donald Trump, assegurou ao ditador norte-coreano Kim Jong-un que ele continuaria no poder se um acordo nuclear com os EUA for assinado, enfatizando que seu governo não está buscando mudança de regime. Nesta semana, a Coreia do Norte ameaçou cancelar o encontro histórico entre Kim e Trump marcado para o mês que vem. 

Em declarações improvisadas na Casa Branca, Trump contradisse o conselheiro de segurança nacional John Bolton, que havia falado que o acordo com a Coreia do Norte seria semelhante ao "modelo da Líbia", de 2003, no qual o regime de Muamar Kadafi renunciou totalmente ao seu programa nuclear. Um importante assessor de Kim criticou Bolton nesta semana, culpando o acordo com a Líbia pela queda de kadafi em uma revolta popular apoiada internacionalmente em 2011. 

 "O modelo da Líbia não é o modelo que temos quando estamos pensando na Coreia do Norte", disse Trump. "Na Líbia, nós dizimamos aquele país". 

Em contraste, Trump acrescentou que um acordo com a Coreia do Norte "seria um acordo com Kim Jong-un, algo em que ele estaria lá, ele estaria em seu país, ele estaria governando seu país, que seu país poderia ser muito rico e muito industrializado”. 

Os antecessores de Trump, incluindo os presidentes Barack Obama e George W. Bush, também mantiveram as políticas da Coreia do Norte que não exigiam mudanças de regime. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que se reuniu com Kim duas vezes em Pyongyang nos últimos dois meses, disse a ele diretamente que os Estados Unidos não estão buscando sua saída do poder.

Ameaça velada

As declarações de Trump representaram uma notável garantia pública destinada a tentar acalmar os norte-coreanos e garantir que eles não desistam da cúpula, marcada para 12 de junho em Cingapura. 

"Se fizermos um acordo, acredito que Kim Jong-un seria muito, muito feliz", disse Trump.

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Trump e seus assessores continuam insistindo que o regime de Kim deve concordar em desistir de seu programa nuclear como parte de qualquer acordo, mas o governo não especificou um cronograma ou o que os Estados Unidos estão dispostos a oferecer em troca. Diz-se que Kim está buscando uma flexibilização das sanções econômicas internacionais, bem como outros benefícios potenciais, como um tratado de paz com os Estados Unidos para encerrar formalmente a Guerra da Coreia e uma redução das tropas norte-americanas na Coreia do Sul. 

Mas alguns especialistas em segurança nuclear disseram que Trump solapou sua meta de tranquilizar Kim ao confundir o significado de Bolton sobre a Líbia e, ao fazê-lo, lançar uma ameaça velada contra Pyongyang. 

Bolton disse, nas últimas semanas, que o modelo da Líbia exigiria que a Coreia do Norte abandonasse totalmente seu programa nuclear antes que os Estados Unidos oferecessem benefícios recíprocos, como ocorreu no acordo de 2003. 

Mas Trump parecia focado na derrubada de Kadafi anos depois, um resultado que levou a um vácuo de poder e um caos generalizado na Líbia. Perto do final de suas declarações, que foram feitas no Salão Oval ao lado do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, Trump sugeriu que Bolton queria dizer que a quebra da Líbia depois de 2011 seria o que aconteceria à Coreia do Norte se Kim não fizesse um acordo. 

"A melhor coisa que ele pode fazer é fazer um acordo", disse Trump sobre Kim. O modelo da Líbia "é o que acontecerá se não fizermos um acordo". 

Kingston Reif, especialista em desarmamento da Associação de Controle de Armas, previu que as declarações de Trump seriam interpretadas como uma ameaça em Pyongyang e usadas pelos radicais no regime de Kim como prova de que não deve tomar medidas para reduzir seu arsenal. 

"Isso corre o risco de reforçar a crença da Coreia do Norte de que precisa se apegar a armas nucleares para tentar evitar esse tipo de resultado", disse Reif, referindo-se à derrubada de Kadafi. "Foi incrivelmente imprudente e perigoso. A Coreia do Norte vai absolutamente tomar nota disso. Acho que isso coloca a cúpula em risco." 

Bolton, que serviu no Departamento de Estado e foi embaixador da ONU no governo Bush, substituiu o tenente-general H.R. McMaster em abril. Antes de assumir o cargo, Bolton defendeu a possibilidade de uma primeira opção militar contra a Coreia do Norte em uma coluna de jornal, e expressou profundo ceticismo sobre conversações diplomáticas com Pyongyang porque o regime de Kim quebrou promessas no passado. 

Em uma declaração dada na terça-feira (15), o primeiro vice-ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Kim Gye Gwan, disse sobre Bolton: "Não escondemos nosso sentimento de repugnância para com ele". 

Isso levou a Casa Branca a recuar os comentários de Bolton. Na quarta-feira (16), a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse que o modelo de desarmamento da Líbia não está sendo discutido. 

"Quando você discorda abertamente do seu conselheiro de segurança nacional sobre os objetivos de uma grande negociação, isso vai confundir nossos amigos e aliados e talvez encorajar os norte-coreanos", disse Michael Green, que atuou como diretor sênior no Conselho Nacional de Segurança na Ásia durante a administração Bush.

Green afirmou que a sugestão de Bolton de um acordo semelhante à abordagem da Líbia não é realista porque o programa nuclear da Coreia do Norte é muito mais massivo. Porém ele disse que Bolton estava "tentando estabelecer alguns marcadores para uma desnuclearização verificável".

Cúpula

O destino da cúpula foi posto em dúvida esta semana após as declarações expressivas do regime de Kim e sua decisão de suspender as negociações planejadas com autoridades sul-coreanas, opondo-se à rotina de exercícios militares conjuntos entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos.

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Os analistas disseram que as ações se encaixam com o comportamento passado da Coreia do Norte, que muitas vezes adiou ou cancelou as negociações em um esforço para ganhar vantagem.

Trump disse que seu governo continua a negociar com Pyongyang sobre o local específico para o encontro em Cingapura. Ele notou que Kim se encontrou duas vezes com o presidente chinês Xi Jinping e que os chineses poderiam estar influenciando a posição da Coreia do Norte.

Trump estava definido para se reunir com o chefe de uma delegação do governo chinês que está em Washington para negociar com o governo questões comerciais.

“Nada mudou em relação a Coreia do Norte", disse o presidente. "Não nos disseram nada".

Os assessores da Casa Branca rejeitaram as sugestões dos repórteres de que Kim está no comando das negociações da cúpula. Sanders enfatizou que foi Kim quem convidou Trump para o encontro, que o presidente aceitou em março. Ela acrescentou que, se a Coreia do Norte cancelar a cúpula, o governo continuará com sua política de "pressão máxima", baseada em sanções econômicas e isolamento diplomático de Pyongyang.

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Mas analistas de política externa disseram que a política está fraquejando em meio ao trabalho diplomático de Kim com a Coreia do Sul e China. O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, que se reuniu com Kim no mês passado na zona desmilitarizada que divide os países, deve se reunir com Trump na Casa Branca na terça-feira (22). "Se a cúpula acontecer, acontecerá", disse Trump sobre a reunião com Kim. "Se não acontecer, vamos dar o próximo passo”.

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