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Curitiba – a cena política israelense fervilhava um ano atrás. Na esquerda, o sindicalista Amir Peretz surpreendera o ex-primeiro-ministro de Israel Shimon Peres vencendo a eleição pela liderança do Partido Trabalhista e dando novo ânimo aos defensores da agenda social. Na direita, Ariel Sharon se desligava do partido que ajudara a fundar 30 anos antes, o Likud, e formava uma nova base política, o Kadima (em hebraico, avante), posicionando-se ao centro do espectro político do país e apresentando-se como uma terceira via. Desde 1968, pela primeira vez Israel não estava sendo comandado por um premier do Likud ou do Partido Trabalhista.

Um ano depois, o balanço: deu tudo errado. Pouco mais de um mês após a criação do Kadima, Sharon, o homem que muitos acreditavam ser capaz de finalmente levar a paz ao Oriente Médio, sofrera um forte derrame cerebral, dando início a uma série de erros e infortúnios que abalaram a política israelense durante este ano.

O então vice-primeiro-ministro, Ehud Olmert, que também havia migrado do Likud para o Kadima, assumiu o governo. Nas eleições para o Knesset – o parlamento israelense -, em março deste ano, Olmert encabeçou a lista dos candidatos do Kadima (no sistema político israelense, o primeiro na lista de cada partido é normalmente o indicado ao cargo de premier, caso o partido vença as eleições) e ganhou o direito de ficar mais quatro anos no cargo. Sem a maioria absoluta, o Kadima montou uma coalizão com o Partido Trabalhista, o segundo colocado na eleição, oferecendo a Peretz uma das cadeiras mais importantes do ministério israelense, a Defesa. Essa era particularmente a grande questão que a opinião pública israelense colocava ao Kadima. Tanto Olmert quanto a número dois do partido, a atual Ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, fizeram suas carreiras políticas sem qualquer destaque na área militar, um fato bastante incomum no currículo dos ex-primeiros-ministros do país.

Quando o Kadima, Olmert e Peretz finalmente tiveram a oportunidade de responder à questão, a resposta foi uma desastrosa tentativa de influenciar a política libanesa, ainda que muitos a considerem legítima, num conflito que ficou notabilizado pelos erros de comunicação e de inteligência do Exército israelense. "Se a guerra tivesse começado como acabou", diz Samuel Feldberg, pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais (Nupri) da Universidade de São Paulo, "quem sabe a história teria sido diferente". "Depois que os líderes israelenses se deram conta de que apenas com bombardeios não seria possível vencer o conflito, eles começaram a introduzir tropas na fronteira, mas já era tarde, porque os israelenses não estavam mais dispostos a aceitar um conflito dessa intensidade", afirma Feldberg.

Junto com Olmert, a agenda social de Peretz perdeu força após a campanha contra o Hezbollah. No outro front israelense, tanto o Kadima quanto os trabalhistas afirmam querer negociar com os palestinos, mas não enquanto o grupo terrorista Hamas continuar a fazer parte do governo vizinho. E enquanto isso não acontece, a briga entre as duas partes continua.

"Ainda que os ataques de foguetes de pequeno porte de palestinos estejam justificando uma ação israelense para se contrapor a esses ataques, do ponto de vista militar, a situação não está bem resolvida. O conflito armado entre os dois lados continua muito ativo, particularmente muito ativo nesse momento. É o principal foco de tensão na região", diz o professor de Relações Internacionais da Unesp, Tullo Vigevani.

Além do problema com o Hezbollah, que ficou sem solução e enfraqueceu Israel perante os outros Estados árabes, a política israelense se vê envolta em vários escândalos de corrupção e o presidente do país, Moshe Katzav, é acusado por assédio sexual.

Para Vigevani, a prioridade deve ser a resolução do conflito com os palestinos. "Nesta semana, voltou-se a discutir um governo de conciliação palestina. Sempre há algumas pequenas possibilidades, se não de resolução do conflito, de uma confrontação política."

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