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Paris – Um segundo ônibus foi incendiado na noite de ontem na periferia norte de Paris, em meio ao temor de uma nova onda de violência nos subúrbios pobres da França, no primeiro aniversário dos distúrbios que abalaram o país no ano passado. O novo incidente ocorreu em Blanc-Mesnil, no departamento de Seine-Saint-Denis, onde havia começado o tumulto de 2005, e não deixou feridos. Jovens encapuzados quebraram os vidros do ônibus e atiraram para dentro projéteis incendiários. Os passageiros foram retirados, assim como o motorista, que ficou "em estado de choque".

Mais cedo, indivíduos armados tinham feito um ataque semelhante, diante da estação de Blanc-Mesnil. Depois do segundo incidente, os ônibus foram progressivamente tirados de circulação. Ao menos seis veículos foram incendiados desde quarta-feira, sendo cinco na região de Paris. Quatro mil policiais foram mobilizados para garantir a segurança dos cidadãos nos bairros potencialmente conflitivos.

Estopim

A revolta de um ano atrás começou quando dois jovens que viviam em Clichy-sous-Bois, perto da capital francesa, morreram eletrocutados quando fugiam da polícia. Seguiram-se três semanas de violência com o registro de mais de 10 mil automóveis incendiados e dezenas de edifícios públicos vandalizados. As perdas totais foram estimadas em 160 milhões de euros.

Para lembrar o episódio, cerca de 600 pessoas desfilaram em silêncio, ontem de manhã, pelas ruas do bairro. "Um ano depois, devemos mostrar nossa emoção com dignidade e tranqüilidade. A França e o mundo nos estão olhando. Mostremos quem somos", pediu o prefeito de Clichy-sous-Bois, Claude Dilain, do Partido Socialista.

Segundo uma pesquisa publicada ontem, 59% dos prefeitos franceses consideram provável que os tumultos se repitam nos próximos meses. A situação nas cidades mais pobres tornou-se um tema obrigatório para a campanha da próxima eleição presidencial, tanto na direita quanto na esquerda.

Há anos e quase que diariamente, os subúrbios das principais cidades francesas são cenário de atos de vandalismo, confrontos com as forças da ordem e ajustes de contas entre bandos rivais. De janeiro a setembro deste ano, 3.016 pessoas foram detidas nestes bairros conflitivos, segundo a polícia.

A revolta de 2005 expôs as deficiências do modelo social francês e mostrou ao mundo a exclusão e o esquecimento sofrido pelos habitantes destes bairros, habitados em grande parte por imigrantes do Magreb e da África subsaariana. Na França, 15% da população é de origem estrangeira. Nos últimos meses, o governo francês tentou demonstrar que a questão social era uma de suas prioridades e destinou à periferia recursos financeiros extraordinários. A violência trouxe à tona problemas de integração dos jovens franceses de origem estrangeira, vítimas de discriminações e de uma taxa de desemprego elevada, que chega, em alguns bairros, a 40%. No mínimo, não será mais possível tratar a questão com indiferença", afirmou ontem o jornal Libération.

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