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Os chavistas precisaram se acostumar à ausência da palavra "morte" em suas manifestações e a gritar o lema "Viveremos e venceremos", proposto há um ano pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, durante a expressão de seu compromisso com o socialismo.

Do Balcão do Povo, no Palácio de Miraflores, em 28 de julho do ano passado, um Chávez recém-chegado de Cuba, onde passou por uma quimioterapia em sua luta contra o câncer, saudava a multidão ao gritar "Pátria socialista".

O público, acostumado ao grito de guerra, continuou mecanicamente: "Ou morte", de forma a completar o lema herdado do "Pátria ou morte" cubano. Desta vez, porém, Chávez fez uma ressalva.

"Não, também peço que pensemos sobre essa palavra: morte", disse o presidente, antes de acrescentar: "Proponho outros lemas, porque aqui não há morte, aqui há vida. Pátria socialista e vitória! Viveremos e venceremos!", exclamou.

Esta foi a última vez em que a palavra "morte" frequentou a cartilha do socialismo venezuelano, e, um ano depois, o novo ditado se impõe com total normalidade, embora alguns grupos chavistas ainda continuem abraçados ao velho lema.

"Há alguns setores revolucionários que ainda continuam dizendo 'Pátria socialista ou morte'", disse à Agência Efe o analista político Nícmer Evans, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV).

Para Evans, "a mudança do lema foi um marco dentro do processo revolucionário".

"As poderosas circunstâncias de vida, a doença e o sofrimento do presidente Chávez geraram uma ativação em sua psique pessoal que provocou a proposta da mudança", assinalou.

Mas, além de mera formalidade, há os que, como Evans, veem na formulação de um compromisso menos "bélico" uma versão mais amável da proposta revolucionária liderada por Chávez.

De fato, o presidente venezuelano continuou fazendo mudanças no ditado e em 29 de julho do ano passado acrescentou a palavra "independência", formando então "Independência e pátria socialista; viveremos e venceremos!".

Até a cor vermelha foi questionada em seu pedido para "extirpar" o "sectarismo" e o "dogmatismo".

"Por que temos que andar o tempo todo de camisa vermelha?", perguntou o presidente em um pronunciamento transmitido pela emissora estatal.

Para Evans, "o vermelho, que não deixa de ser um elemento simbólico, talvez não tenha deixado de ser a cor oficial, a cor de identificação do processo revolucionário, mas neste caso houve uma matização relacionada à exacerbação da utilização do vermelho" como um elemento que podia desvirtuar o sentido dos ideais socialistas.

A pouco tempo das eleições de 7 de outubro e com a vantagem de Chávez sobre seu principal adversário, Henrique Capriles, na maioria das pesquisas, Evans não acredita que haja menos camisas vermelhas nas manifestações do líder venezuelano.

"O que eu acho que aumentou foi o povo que não utilizava vermelho e que agora se identifica mais claramente com o processo revolucionário", avaliou.

O analista político e também professor da UCV Carlos Romero viu como "natural" a mudança do ditado "Pátria socialista ou morte" devido à "situação tão complexa e sobretudo tão inesperada" que vivia o presidente com sua doença.

No entanto, o convite feito a setores não tradicionais para que acompanhassem o processo revolucionário em um momento de reflexão, "dentro do marco do perdão e do que significa refletir sobre a vida", avaliou, não se traduziu em uma mensagem de conciliação posterior.

"O que ele fez depois foi justamente o contrário: dividiu o país mais do que nunca, utilizou epítetos dividindo o país entre patriotas e antipatriotas, se dedicou principalmente a desqualificar o candidato da oposição, ou seja, fez exatamente o contrário", assinalou.

Nesse sentido, Romero não avalia que a mudança de lema e apelos ao relaxamento da ortodoxia tenham se traduzido em "um ato de contrição, um ato de humildade frente ao que significa ter a possibilidade de perder a vida dessa maneira".

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