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A então presidente argentina Cristina Kirchner (hoje vice) cumprimenta o então ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro (atualmente ditador do país), em encontro em Buenos Aires em 2011
A então presidente argentina Cristina Kirchner (hoje vice) cumprimenta o então ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro (atualmente ditador do país), em encontro em Buenos Aires em 2011| Foto: EFE/Emiliano Lasalvia

O caos econômico, político e social gerado pelo chavismo fez cerca de 6,5 milhões de pessoas deixarem a Venezuela desde 1999, fluxo comparável ao de países em guerra.

Superar algum índice de migração venezuelano denuncia o quão grave a situação de um país está, e a Argentina, onde a inflação descontrolada corrói a renda e a instabilidade econômica empurra os trabalhadores para a informalidade, conseguiu: no ano passado, a chegada de argentinos à Espanha superou a de venezuelanos.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) espanhol, 32.933 argentinos migraram para o país europeu em 2021, um aumento de 65,8% em relação a 2020.

No ano passado, 27.875 venezuelanos chegaram à Espanha. Tanto o país de Nicolás Maduro quanto a Colômbia, o país sul-americano com maior migração para o território espanhol, mantiveram tendência de queda, enquanto a Argentina (veja gráfico) teve redução expressiva em 2020 (19.857 argentinos migraram para a Espanha), primeiro ano da pandemia, mas depois apresentou em 2021 patamar superior ao de 2019 (quando haviam sido registrados 31.306 migrantes).

O número argentino de 2021 é o mais alto do país desde 2008, ano em que o INE começou a divulgar estatísticas de imigração. Desde 2009 a saída de argentinos para a Espanha não superava a de venezuelanos.

No ano passado, Colômbia e Argentina ficaram em segundo e quarto lugares, respectivamente, na lista de países em todo o mundo que mais enviaram migrantes para a Espanha – o Marrocos, com 60.436 pessoas, e o Reino Unido, com 34.642, ficaram em primeiro e terceiro.

Entretanto, o historiador Xosé Manoel Núñez Seixas, professor da Universidade de Santiago de Compostela, alertou em entrevista ao jornal Clarín que os números da migração argentina podem ser ainda maiores, porque muitos cidadãos com dupla cidadania do país governado por Alberto Fernández ingressam em território espanhol com passaportes europeus – espanhol ou italiano, principalmente.

Apesar desse fluxo sem paralelo na história recente, Seixas destacou que a instabilidade política e econômica que a Argentina enfrenta há décadas já gerou outros momentos de grande migração para a Espanha, o que permitiu a criação de uma forte rede de apoio para os recém-chegados.

“[Tivemos] Aqueles que chegaram fugindo da ditadura [entre 1976 e 83]; os que chegaram fugindo da grande inflação [década de 1980]; os que chegaram em 2001, 2002, 2003. Eles estão aqui há 20 anos, estão bem estabelecidos. É um gotejamento contínuo. Isso gera ‘camadas’ de imigrantes estabelecidos que servem de ponte para que outros cheguem”, explicou o professor.

Leandro Lázaro, um dos fundadores do grupo de acolhida Argentinos pela Espanha, emigrou há 21 anos. Em entrevista ao site espanhol Vozpópuli, ele lamentou que a crise sem fim na Argentina siga levando milhares de compatriotas a escolher o mesmo caminho – e projetou que os números devem continuar crescendo.

“Temos pouco a dizer sobre a economia, já se sabe tudo. Uma inflação sem precedentes e insustentável, que está levando nosso país à ruína. E isso, por sua vez, acaba levando à insegurança, que antes era característica de apenas alguns bairros específicos, [mas agora] se tornou algo generalizado em todo o país, porque a pobreza está nas ruas”, criticou Lázaro. “Quem quer viver em um país prestes a explodir?”

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