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“Quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado.”Trecho do livro Cyberphunks, de Julian Assange |
“Quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado.”Trecho do livro Cyberphunks, de Julian Assange| Foto:

A admissão do presidente Obama confirma oficialmente o que Julian Assange, fundador e conselheiro do WikiLeaks – o site que ficou famoso ao expor segredos por trás de guerras e acordos entre nações, principalmente os Estados Unidos –, já denunciava no livro Cyberphunks – Liberdade e o Futuro da Internet, lançado no começo do ano.

Escrita durante seu exílio político na embaixada do Equador no Reino Unido, a obra traz conversas do autor com outros ativistas nas quais debatem temas como, justamente, o acesso das informações pessoais de usuários da internet por parte de governos e grandes corporações. Entre outras coisas, ele afirma que o Facebook, por exemplo, tem cerca tem 800 MB de informações guardadas sobre cada um de seus usuários cadastrados.

Ele detalha: "Quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado. Mas todos nós a utilizamos para nos comunicar uns com os outros, com nossa família, com o núcleo mais íntimo de nossa vida privada. Então, na prática, nossa vida privada entrou em uma zona militarizada. É como ter um soldado embaixo da cama".

Obviamente, cada cidadão deve ficar preocupado ao saber que todo o rastro de seu histórico na internet está em poder de algum organismo de segurança.

Mas se levarmos em conta que os dados de cada um, somados, representam informações de toda uma nação, a situação ganha dimensões catastróficas.

Em seu prefácio especial para a América Latina, Assange toca nesse ponto e alerta para a ameaça que a vigilância norte-americana pode representar para a região, já que a grande maioria do tráfego que entra e sai da América do Sul passa por linhas de fibra óptica que cruzam fisicamente as fronteiras dos EUA. "A vigilância de uma população inteira por uma potência estrangeira ameaça a soberania. O governo norte-americano tem violado sem escrúpulos as suas próprias leis para espionar seus cidadãos. E não há nenhuma lei contra espionar cidadãos estrangeiros."

Diariamente, acusa Assange, centenas de milhões de mensagens saídas de todo o continente latino-americano seriam devoradas por órgãos de espionagem norte-americanos e armazenadas em depósitos gigantescos.

Em resumo, o livro mostra como a internet, sempre tida como a grande ferramenta de emancipação e de liberdade de expressão, está sendo transformada rapidamente em instrumento antagônico, de controle, a serviço do poder político e econômico.

Se as previsões de Assange e seus cypherpunks pareciam ser bastante exageradas, a admissão do governo americano mostra que na verdade elas estão mais próximas da realidade do que poderíamos supor.

Resta saber agora como o mundo vai reagir.

As pessoas, se continuarão dispostas a conviver com um soldado sob a cama.

E os governos, se permanecerão inertes ao ver que todas as informações de sua população estão indo parar nas mãos de órgãos estrangeiros.

Ao ver, enfim, sua soberania ir para o espaço.

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