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Por dentro o vulcão Mayon é uma câmara enorme, onde reviram rochas derretidas e gases tóxicos. Mas ele é também motivo de orgulho para muitos moradores da região | JES AZNAR/NYT
Por dentro o vulcão Mayon é uma câmara enorme, onde reviram rochas derretidas e gases tóxicos. Mas ele é também motivo de orgulho para muitos moradores da região| Foto: JES AZNAR/NYT

O Mayon, um dos vulcões mais ativos das Filipinas, é tão famoso por sua beleza como temido por seu poder de destruição.  

Admirado pela simetria de sua forma cônica clássica, ele ganhou o nome de uma fada mitológica, mas as encostas suaves e o nome engraçadinho escondem sua natureza mortal: por dentro é uma câmara enorme, onde reviram rochas derretidas e gases tóxicos.  

E está pronto para entrar em erupção.  

Há semanas o Mayon vem rugindo, soltando nuvens de cinzas e fumaça e iluminando o céu noturno com um brilho alaranjado assustador.  

"É complicado pegar no sono quando você começa a ouvir as explosões. Parece que tem pelo menos uns cinco aviões grandes sobrevoando a cidade", conta Ed Esquivel, policial aposentado de 60 anos do vilarejo de Bogna, a oito quilômetros da cratera.  

Motivo de orgulho para os moradores da província de Albay, na ilha de Luzon, que se beneficiam do solo fértil e dos dólares dos turistas, ultimamente o vulcão vem causando mais transtornos que qualquer outra coisa: mais de 70 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas, em uma das maiores evacuações em massa na região dos últimos anos.  

Esquivel é um entre dezenas de nativos a ignorar os alertas do governo, não dando a mínima atenção para os soldados cuja missão é levá-lo, junto com os vizinhos, a abrigos distantes. Preferiu ficar em casa, de olho na propriedade e nos animais.  

E não é por ignorância que ele decidiu permanecer, pois conhece a força fatal do Mayon muito bem.  

"Jamais vou me esquecer do dia em que meu pai morreu, dois de fevereiro de 1993. Ele foi uma das 73 vítimas da erupção; estava cultivando a terra no sopé do vulcão."  

Probabilidade de erupção

Segundo o Instituto Filipino de Vulcanologia e Sismologia, fluxos desse tipo, tremores e rios de lava já foram detectados diversas vezes. As medições feitas por satélite indicaram que a superfície da montanha está inchada, aumentando a probabilidade de uma grande erupção.  

As autoridades pedem à população que permaneça dentro de casa e use máscara – e penaram para montar mais de 60 abrigos para o número cada vez maior de desabrigados. Inúmeros voos foram cancelados e as escolas fora da zona de perigo improvisaram salas de aula para as crianças desalojadas.  

"É um pesadelo logístico", admite Claudio Yucot, diretor regional da Defesa Civil, para a imprensa.  

Na base da montanha, entretanto, a vida segue em um ritmo estranhamente normal, tranquilo até.  

Henry Adra, 57 anos, está sentado do lado de fora de sua choupana, na aldeia de Matnog, a seis quilômetros do pico do monte, cercado pelas árvores de seu pomar. A cantoria dos pássaros e o sussurrar da folhagem só são interrompidos pelos resmungos da montanha.  

Adra explica que não tem intenção de sair de casa. Já sobreviveu a oito erupções desde 1968 – e está tão acostumado com as mudanças de humor do vulcão que, durante a última erupção, correu para dar uma boa espiada nas pedras que rolavam pela encosta.  

"Eu já disse para os vizinhos aí, o negócio é continuar trabalhando e evacuar só quando vir o fluxo de lava vindo na nossa direção", aconselha.  

O Mayon já entrou em erupção pelo menos 50 vezes nos últimos 500 anos, matando centenas de pessoas. Em 2013, cinco montanhistas morreram asfixiados pelas cinzas perto do cume.  

Apesar do medo causado pela nuvem de gás e a lava quente, Adra confessa que há outras coisas que o apavoram mais que a montanha que nutre os campos da propriedade da família e as árvores da região há incontáveis gerações.  

"Que erupção do Mayon, que nada. Tenho medo é da minha mulher", diz ele, sorrindo.  

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