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Confesso não ser exatamente uma apreciadora incondicional do calor. Sol a pino só me faz bem se estiver de férias, pés à vontade, com muita sombra e alguma brisa para espalhar minha preguiça. Mas, eis que me vejo no mais inclemente verão europeu dos últimos tempos, em viagem de duas semanas pela Alemanha, e a trabalho. Sapatos nos pés inchados, roupa formal e pendurado no ombro um notebook que tem o estranho dom de terminar o dia dez vezes mais pesado.

E vejo que julho, entre os alemães, é quase uma celebração pagã ao deus sol, resquício da adoração dedicada pelos antigos aos solstícios de verão. Os longos dias começam às 4 horas da madrugada e só escurecem às 22 horas. As cidades lindas, limpas e planas encorajam as caminhadas. Os parques e rios viram praias em que vale de tudo, do biquíni grandão ao nu total. E ainda há a cerveja, que é servida quase gelada, e não morna, como diz a lenda. Em torno dela, milhares de alemães festejam o calor nos "biergarten", sob o céu.

Com oito meses de frio intenso e poucas horas de luz, era de se esperar que os europeus exagerassem. Pois foi o que vi na Alemanha, onde quase não se usa ar-condicionado, nem desodorante (um berlinense me explicou que o suor ao natural é mais saudável).

Os alemães dedicam todos os seus esforços ao aquecimento dos ambientes e até no banheiro público do museu do muro de Berlim encontra-se um vistoso aquecedor a vapor. Pouquíssimo interesse há na refrigeração. Não há condicionadores de ar nem ventiladores nos escritórios das empresas, nas fábricas, nos refeitórios, nos prédios públicos, nos restaurantes... Há janelas, por certo, mas permanecem fechadas, encerrando alemães satisfeitos com o calor que sentem e desesperando brasileiros que anseiam por algum ar fresco. (E tente convencer um alemão de que há inverno no Brasil!)

É quase uma visão romântica da vida ao ar livre. Imagine-se a mesa de almoço enfeitada por flores do campo no jardim de uma pousada rural...a grama, as árvores, cercas vivas, canteiros floridos, grandes guarda-sóis... e 35 graus de temperatura que aferventam a cabeça e o corpo. Nesse dia, diante da alegria dos anfitriões, na zona rural de Ingolstadt, perto de Munique, percebi quanto vale uma saudade. E jurei nunca mais reclamar dos modestos verões de Curitiba, que às vezes caem na tarde de uma quinta-feira de trabalho, ali por fevereiro. Ou em julho, como neste ano.

Marisa Abrantes Boroni Valério - A jornalista viajou a convite da Câmara de Comércio Brasil–Alemanha

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