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Praça Tahrir, um dos locais de resistência e concentração da população na capital egípcia. | /
Praça Tahrir, um dos locais de resistência e concentração da população na capital egípcia.| Foto: /

No espaço de pouco mais de quatro anos, o Egito passou por dois levantes populares e teve três presidentes no poder. Após a rápida derrubada de Hosni Mubarak, forçada pela Primavera Árabe da Praça Tahrir, experimentou a sensação de democracia: elegeu o primeiro presidente após mais de 30 anos de ditadura, o islamista Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana. Veio então uma onda de sectarismo religioso. Ela levou a uma nova revolta, que desembocou no retorno dos militares ao poder. Mais do que isso: o novo governo, comandado pelo ex-general Abdel Fattah el-Sisi, mostra-se disposto a barrar qualquer tentativa de discordância ou oposição ao atual regime, utilizando para isso desde o cerceamento à liberdade de imprensa e restrição ao trabalho de ONGs até a proibição de manifestações populares sem prévia autorização, mesmo que, para isso, vá contra a Constituição do país. O resultado é um estado de medo permanente, onde pessoas temem falar, ou se identificar, quando são solicitadas a comentar sobre o país onde vivem.

Foi o caso de um professor da Universidade Americana do Cairo (AUC), que, com entrevista ao jornal O Globo já marcada, desistiu na hora, explicando que, por conta da perseguição do governo, não desejava mais se expressar. Acrescentou ainda que deu até mesmo instrução aos alunos para que evitassem fazer pesquisas de campo, já que havia informações de que eles poderiam ser detidos caso o objeto de estudo fosse considerado nocivo à nação. A própria reportagem sentiu o clima de intimidação ao perguntar para o policial que fazia a segurança do Museu do Cairo o que era o edifício incendiado ao lado: “Por que você quer saber? Qual a sua profissão?”

“Está pior agora do que na época de Mubarak”, afirma a veterana jornalista Deena Ahmed Gamil, que aceitou falar, mas pediu para não identificar o veículo em que trabalha. “É muito assustador. Muitas pessoas simplesmente desapareceram.”

Ahmed Khalaf, graduando em Ciência Política pela Universidade do Cairo (UC), e último presidente do diretório acadêmico – já que o governo também proibiu novas eleições universitárias–reforça o discurso do medo, lembrando também que atentados a bomba, cometidos nos últimos meses, deixaram 21 mortos em instituições universitárias do país.

“ Todos aqui têm amigos presos. Todos conhecem alguém que foi ferido, ou mesmo morto. Infelizmente, esta geração está se sentindo reprimida, com um alto porcentual de frustração e opressão. As pessoas estão novamente voltando a ter medo da política.”

Sem Parlamento, a população egípicia não tem representação política. E o governo Sisi se aproveita deste vácuo para embarcar numa onda ufanista que promove a imagem do presidente como o comandante de uma nação em desenvolvimento, com forte propaganda nas ruas, bandeiras nacionais penduradas nos postes e estendidas em prédios. O presidente-general também se arvora como defensor da nação contra o extremismo e o terrorismo. O problema é que todos os “inimigos da pátria” acabam tornando-se os “terroristas” da vez, sejam os manifestantes que clamam por democracia, chamados de sabotadores do país, ou a Irmandade Muçulmana, o mais bem organizado partido egípcio, que está banida, classificada como organização terrorista, com seus líderes presos e condenados à morte.

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