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As pinturas feitas logo após queda do muro tornaram-se atração turística de Berlim | Timur Emek/AFP
As pinturas feitas logo após queda do muro tornaram-se atração turística de Berlim| Foto: Timur Emek/AFP

Pincelada a pincelada, Gerhard Kriedner aplicava tinta acrílica rosa com um pequeno pincel, em uma faixa de 13 metros do Muro de Berlim. A pintura recria outra, realizada por ele meses após a queda do muro, ocorrida em 9 de novembro de 1989.

Kriedner e outros 90 artistas de todo o mundo se uniram para repintar suas criações originais nas placas de concreto, trazendo nova vida a imagens carcomidas pelas intempéries ao longo de duas décadas, na maior área remanescente do muro que antes dividia a capital alemã.

"Isso é algo muito emocionante para mim", diz Kriedner, hoje com 69 anos. Ele conta que escapou da República Democrática Alemã comunista para a Repú­blica Federal Alemã, a oeste, quando ainda era jovem. "O Mu­­ro de Berlim representa a total falta de liberdade que tínhamos naquela época."

Enquanto os berlinenses inicialmente estavam ansiosos para derrubar a estrutura, nos últimos meses tem havido um grande esforço para restaurar a Galeria do Lado Leste do muro, com ex­­tensão de 1,3 km. O local tornou-se um ponto turístico, com 106 diferentes pinturas e artistas.

"O muro estava podre de lado a lado", nota Kriedner, em um frio dia de outono, enquanto realiza as últimas pinceladas em sua obra – uma paisagem escura, árida, interrompida por bolas de sabão coloridas em rosa e azul-claro. O trabalho do artista é sua interpretação da promessa socialista, em oposição à realidade que vivenciou.

"Para restaurar o muro, todo o trabalho artístico (anterior) foi removido, o concreto foi raspado até as estruturas de aço e então tudo foi reaplicado, mas dessa vez com tintas acrílicas à prova d’água", explica o artista bávaro. Kriedner revela que trabalha com uma foto da obra original, para garantir fidelidade à primeira proposta.

Kani Alavi, o chefe da Asso­­ciação das Galerias de Artistas do Lado Leste, tem sido um importante agente por trás da restauração do muro, iniciada em outubro de 2008. Alavi realizou du­­rante anos uma campanha para coletar 2,5 milhões de euros (R$ 6,4 milhões) dos governos municipal, estadual e federal para a restauração. O projeto inclui uma sala e um pagamento para os artistas, que de outro modo precisariam trabalhar de graça.

Do grupo inicial de artistas, apenas cinco não quiseram participar do projeto de renovação. Seis outros morreram e seus murais foram restaurados por outras pessoas.

"Nós acreditávamos que era realmente importante recriar as pinturas porque, agora, há toda uma nova geração que não se lembra do Muro de Berlim original e dos eventos históricos que levaram à reunificação alemã", diz Alavi, artista nascido no Irã, que já restaurou seu próprio mural na famosa passagem do Checkpoint Charlie, um posto militar de controle da Guerra Fria. Ele fez sua intervenção inicial logo na primeira noite da abertura da fronteira.

Todos os dias, a Galeria do Lado Leste, no bairro de Frie­drichshain, atrai milhares de turistas, registrando suas fotos diante dos murais.

O lado ocidental do muro foi coberto com grafite durante décadas, desde que a barreira foi erigida, em 13 de agosto de 1961. A porção oriental permaneceu desolada e fortemente protegida por guardas de fronteira durante décadas. Apenas depois do fim do muro um grupo de artistas decidiu decorar os escombros – foi o primeiro projeto artístico conjunto, na capital outrora di­­vidida.

Eles convocaram artistas de todo o mundo, para se unirem a eles e expressar seus sentimentos em desenhos e cores, naquele que no passado era o intocável muro do lado oriental.

"Nós não tínhamos nada, a não ser tinta e pinceis baratos, mas estávamos tão eufóricos sobre todas as mudanças históricas e queríamos expressá-las em nossas pinturas", afirma Alavi. O iraniano acrescenta que os mu­­rais mostram a alegria e a esperança da superação da injustiça, um sentimento comum entre as pessoas da época.

Imagens

Desde então, a poluição, o clima e o tempo tornaram-se imagens famosas – como o fraternal beijo comunista entre o líder da RDA, Erich Honecker, e o ex-líder soviético Leonid Brejnev, ou o carro modelo Trabant da Ale­­manha Oriental, que parece quebrar o muro – em uma vi­­são triste.

Havia problemas com longas rachaduras no concreto e grandes trechos de pintura aparentes. Os caçadores de souvenirs pegaram pedaços de pedras ou rabiscaram seus nomes e mensagens no topo das pinturas.A Galeria do Lado Leste recebeu o status de monumento histórico em 1991. Apesar dos novos sinais pedindo aos visitantes que não mexam com as novas pinturas, não está claro se a nova arte estará livre dos grafites, do vandalismo ou dos caçadores de souvenirs.

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