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Curitiba – Mais uma jogada como se fosse um jogo de xadrez. É assim que Gilberto Sarfati, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, de São Paulo, define o anúncio do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, sobre a escala industrial do programa nuclear de seu país. Em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, Sarfati comenta este novo capítulo do impasse nuclear.

Gazeta do Povo – O que significa neste momento do impasse nuclear o anúncio do governo iraniano de ter ativado 3 mil centrífugas para o enriquecimento de urânio, em suposta escala industrial?

Gilberto Sarfati – O anúncio ocorre em um momento estratégico, alguns dias após a libertação dos 15 marinheiros britânicos. É uma mensagem dizendo que os iranianos tiveram um gesto de boa vontade com os britânicos apesar do erro deles. Agora seria a hora de o Ocidente mostrar a sua boa vontade.

O fato de haver uma festa para se comemorar o programa nuclear mostra o grau de coesão interna, e externamente vale como um reforço da soberania iraniana.

Qual decisão se espera do Conselho de Segurança (CS) da ONU a partir de agora?

É difícil que haja outra decisão além das resoluções já adotadas e provavelmente não haverá aprofundamento das sanções. Podem ocorrer debates no Conselho de Segurança, mas não será produto para outra sanção. O anúncio iraniano da escala industrial em seu programa nuclear é um ato político, mas tecnicamente não muda nada. É mais um lance ou jogada que aprofunda uma crise de longo prazo.

Até que ponto o Irã vai usar como barganha a invasão de seu espaço marítimo e aéreo por EUA e Reino Unido?

Isso faz parte do jogo diplomático. O próprio programa nuclear é uma forma de reafirmar a soberania no ocidente. O Irã mostra que quer viver de forma independente e está disposto a usar de qualquer meio para garantir essa independência. Tudo será usado como motivo de reclamação – invasão de espaço aéreo, marítimo.

Qual é a possibilidade de os EUA invadirem o Irã?

Essa alternativa está na mesa, mas a probabilidade é muito baixa. A aprovação iraniana sobre o programa nuclear é alto e o Exército de Teerã não é esfacelado como o do Iraque. Os EUA já têm duas frentes de combates em aberto, Iraque e Afeganistão, e no caso do Irã não há urgência. No longo prazo é possível buscar outras saídas. Outro impedimento para uma sanção mais rígida ainda ao Irã é que China e Rússia (membros do CS) não têm interesse em pôr mais lenha na fogueira.

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