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As citações ofensivas do Papa Bento XVI sobre o Islã e o Profeta Mohamad foram totalmente infelizes, desastrosas e desnecessárias. Para se criticar, primeiramente, deve-se ter um conhecimento profundo do assunto, além do mais, ser justo e respeitoso, já que ofender não é razoável, porque esta atitude é uma forma de violência também. Não podemos esquecer que as Cruzadas iniciaram-se assim, com incitações, acusações falsas e ofensas aos muçulmanos no interior da França pelo então Papa Urbano II. A agressão e a violência não se resumem somente à questão física, mas as palavras têm um peso muito grande, já que tudo se inicia por elas, tanto a paz quanto a guerra.

O Papa Bento XVI, lamentavelmente, esqueceu do bom relacionamento, tanto hoje como no passado, entre os muçulmanos e cristãos, que seguem religiões monoteístas, que têm a mesma fonte que é Deus, que têm os mesmos princípios, esqueceu de ler o Alcorão antes de falar, pois nele Deus disse: "... e não debatam com o povo do Livro a não ser da melhor forma...", "...não há imposição quanto à religião...", "...quem tirar uma vida inocente é como se tivesse assassinado toda a humanidade e quem salvar uma vida inocente é como se tivesse salvo toda a humanidade...", "...se eles se inclinarem à paz, inclina-te, também, a ela, e confia em Deus. Por certo Ele é o Oniouvinte, o Onisciente...". O Papa esqueceu de conhecer a biografia do Profeta Mohamad antes de acusá-lo de mau e violento, esqueceu que os muçulmanos estão presentes em todos os lugares do mundo, que são mais de um 1,4 bilhão de adeptos, que grande parte deles é ocidental, são americanos, franceses, alemães, holandeses, espanhóis, portugueses, brasileiros, chilenos, canadenses, e outros, que ajudam a construir todas as sociedades nas quais estão presentes.

Ele esqueceu que os líderes religiosos têm a sagrada missão de promover a palavra de Deus e não de incitarem à discriminação, esqueceu que suas palavras não são de uma pessoa comum, elas têm um grande peso e têm conseqüências.

Os muçulmanos em todo o mundo receberam as acusações com grande pesar, já que estão sendo vítimas de preconceitos, discriminação e ofensas em vários lugares, não da sociedade, mas de alguns governantes que têm interesses em apresentar o Islã e os muçulmanos como inimigos, bem como uma parte da mídia que é parceira deles. Basta verificar a guerra contra o Afeganistão, a invasão do Iraque, a questão Palestina, a agressão de Israel contra o Líbano, tudo isso sendo movido por interesses econômicos, um novo tipo de colonização do Oriente Médio por parte do Ocidente.

A visão que os muçulmanos têm do Ocidente é exatamente esta, que ele só quer suas riquezas, quer colonizá-los, impor suas leis, sua cultura, seu pensamento, quer subordiná-los totalmente, se eles reagirem, então são apontados como terroristas, violentos, fanáticos...

Lamentavelmente, o Papa Bento XVI, ao falar mal do Islã, não levou em conta, que pouco tempo atrás houve outras ofensas contra o Islã por parte da mesma Europa que alegou ser moderna, justa, pacífica e pluralista no episódio das charges ofensivas ao Profeta Mohamad. Também se não levou em conta que a França, no mesmo ritmo de agressão e discriminação contra os muçulmanos, proibiu que estes usassem seus véus em repartições públicas, mesmo as de origem francesa, incluindo as escolas. A indignação causada por suas palavras não são sem motivo, há um histórico de agressões aos muçulmanos e ao Islã, isso sem voltarmos mais na história, com muitos mais casos.

Queremos viver juntos um presente de amizade, respeitoso e justo e construir um futuro pacífico e harmonioso. Para isso procuramos não buscar no passado os conflitos, mas sim onde acertamos. Condenamos os ataques às igrejas cristãs e reafirmamos que isso não condiz com os ensinamentos do Islã.

Esperávamos do Papa um pedido de desculpas claro e sincero. Porém, em vez disso, lamentavelmente, ele culpou os muçulmanos, acusando-os de não entenderem o que ele disse, dizendo que a citação feita não reflete sua opinião. Então, por que citou? Por que não condenou a colocação do imperador após a citação? Por que não citou todo o diálogo? Por que não citou a resposta do sábio muçulmano ao imperador bizantino? Por que o Papa não explicou que o diálogo foi realizado em um momento de guerra entre o imperador e os muçulmanos?

Princípios

Para entender os muçulmanos é necessário conhecer os conceitos básicos de sua religião. Por isso cito, em poucas palavras, quais são esses princípios, para que todos possam ter uma noção que seja um início de um diálogo construtivo em nossa sociedade. Para a pessoa se tornar muçulmana ela deve crer em seis pontos: crer em Deus único, nos seus anjos, em todas os livros divinos, em todos os seus profetas, no dia do juízo-final (Paraíso e Inferno) e no destino.

As pessoas estão buscando entender mais sobre os preceitos do Islã, o que faz diminuir as distâncias entre elas e a religião, já que se dialoga não somente pela fé, mas também com as mentes, fazendo as pessoas pensarem, compararem e se convencerem. Portanto, é uma religião de fé e razão – diferentemente do que declarou o Papa Bento XVI no seu discurso –, pois é aí que está o equilíbrio na vida, e o equilíbrio vem de Deus. A primeira ordem de Deus revelada ao profeta Mohamad no Alcorão sagrado foi: "Lê. Lê em nome do teu Senhor que criou, criou o ser humano de algo que se agarra..."

A busca das pessoas por maior conhecimento sobre o Islã, as fez descobrir que entre os preceitos básicos desta religião, está o de condenar a violência e a injustiça praticadas por quem quer que seja, muçulmanos, cristãos, judeus, etc. e defender a justiça e os injustiçados. Para isso há a legítima defesa, direito de todas as pessoas e nações.

Apesar de estarmos ainda esperando um pedido de desculpas por parte do Papa, já que o único que não erra é Deus, continuamos convivendo, trabalhando e construindo uma sociedade mais justa e pacífica, com muito respeito, amor e harmonia, através do diálogo franco e aberto, que é uma das características da sociedade brasileira.

Que Deus guie a todos para a justiça e para a paz!

Xeque Jihad Hassan Hammadeh, vice-Presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica – América Latina e vice-representante da Comunidade Islâmica no Brasil.

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