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O papa Francisco fará a abertura do Sínodo nesta quarta-feira (4), no Vaticano
O papa Francisco fará a abertura do Sínodo nesta quarta-feira (4), no Vaticano| Foto: EFE/MARIO RUIZ

O papa Francisco abrirá nesta quarta-feira (4), no Vaticano, a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, um encontro que reúne lideranças católicas de todo o mundo com o objetivo de trocar informações e buscar soluções universais para demandas que surgem no âmbito da Igreja Católica.

Nesta edição, o Sínodo discutirá a chamada “sinodalidade”, que poderia ser definida como a maneira pela qual as decisões são tomadas na Igreja. A definição ampla, no entanto, permite que entrem na pauta temas sensíveis como o celibato sacerdotal, a bênção a uniões homoafetivas, a extensão dos sacramentos aos divorciados em nova união civil e a ordenação de mulheres ao diaconato ou mesmo ao sacerdócio. A Igreja consultou milhares de fiéis ao longo de dois anos para entender o posicionamento da maioria dos católicos sobre esses assuntos.

Serão quatro semanas de reuniões diárias, com 464 participantes, sendo que apenas 365 terão direito a voto nas decisões. Pela primeira vez desde a criação do órgão, em 1965, haverá participação de mulheres e leigos nas deliberações. Após os debates entre os participantes, as conclusões serão entregues ao papa Francisco.

Segundo a agência portuguesa Ecclesia, especializada em notícias da Igreja Católica, o encontro começa com uma missa presidida pelo papa nesta quarta-feira (4), e inclui uma peregrinação no dia 12. As discussões sobre os temas do Sínodo serão desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico, constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.

Aos 365 votantes somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs, chamados de “delegados fraternos”; oito convidados especiais; e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo. Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritas, ou “facilitadoras”, que são “pessoas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases dos debates”, sem direito a voto.

Esta é a primeira sessão da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, dividida em duas partes por Francisco. Uma segunda reunião ocorrerá em 2024. O tema do encontro é “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”.

Após os dois momentos, fica a critério do papa emitir um documento (chamado “exortação pós-sinodal”) endossando ou rejeitando as recomendações discutidas.

Reportagem do jornal norte-americano The New York Times mostrou que houve uma frustração de certos setores no Sínodo anterior, ocorrido em 2019 sobre a Amazônia, quando o papa se recusou a permitir a ordenação de homens casados como padres e de mulheres como diaconisas, mesmo havendo uma maioria dos votos favoráveis a essas mudanças.

Cardeais enviam perguntas a Francisco e criticam falta de clareza

Por meio de uma carta publicada às vésperas do Sínodo, cinco cardeais pediram ao papa que esclareça sua posição sobre bênçãos a uniões homoafetivas e a possibilidade de ordenar mulheres. O documento, divulgado pelo jornal italiano L’Espresso, é assinado pelos cardeais Raymond Leo Burke, norte-americano; Walter Brandmüller, alemão; Juan Sandoval Íñiguez, mexicano; Robert Sarah, guineense; e Joseph Zen Ze-kiun, de Hong Kong.

Os cardeais já tinham apresentado algumas dúvidas ao papa em julho, mas consideraram suas respostas “insuficientes”, razão pela qual enviaram-lhe em agosto outra carta que, segundo afirmam, não foi respondida.

“Diante de diversas declarações de alguns altos prelados inerentes à celebração do próximo Sínodo de Bispos, obviamente contrárias à constante doutrina e disciplina da Igreja, que geraram grande confusão e queda no erro entre os fiéis e outras pessoas de boa vontade, expressamos nossa profunda preocupação ao Romano Pontífice”, afirmaram os cardeais no documento.

A primeira dúvida levantada foi sobre a possibilidade “de que a Igreja ensine hoje doutrinas contrárias às que ensinava antes em questões de fé e moral”, seguindo teólogos e pastores que acreditam que é preciso adaptar-se às “mudanças culturais e antropológicas do nosso tempo”.

Os cardeais também destacaram “preocupação” porque Francisco disse que a questão da ordenação sacerdotal das mulheres pode ser “aprofundada”, embora o pontífice argentino apoie a carta apostólica Ordenatio Sacerdotalis, com a qual João Paulo II fechou essa possibilidade em 1994.

“Poderá a Igreja no futuro ter o poder de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, contrariando que a reserva exclusiva deste sacramento aos batizados do sexo masculino pertence à própria substância do Sacramento, que a Igreja não pode mudar?”, questionaram na carta.

Não é a primeira vez que o papa recebe uma carta com “dúvidas” de alguns cardeais: sua exortação apostólica sobre a família Amoris laetitia , de 2016, provocou a reação negativa de Burke e Brandmüller, além do italiano Carlo Caffarra e do alemão Joachim Meisner, ambos já falecidos. Ao contrário do que fez em julho, Francisco não havia respondido às perguntas dos quatro cardeais em 2016. Além disso, cerca de 60 historiadores, teólogos e padres acusaram o papa de publicar sete “heresias” em Amoris laetitia.

No último dia 30, Francisco afirmou que deseja ver o Sínodo aprovado “sem murmúrios, ideologias e polarizações”.

Resposta do papa

Em sua resposta de julho, o papa disse que “não podemos nos tornar juízes que apenas negam essas questões”. O texto só foi divulgado dias atrás, por iniciativa do novo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández.

Em uma das dúvidas, os cardeais haviam perguntado se a Igreja poderia aceitar situações como “as uniões entre pessoas do mesmo sexo”.

Francisco esclareceu que “a Igreja tem uma concepção muito clara do casamento”, que é “uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta a gerar filhos”, razão pela qual “evita qualquer tipo de rito ou sacramento que poderia contradizer esta convicção e dar a entender que se reconhece como matrimônio algo que não o é”.

No entanto, Francisco ressaltou que “no trato com as pessoas, não devemos perder a caridade pastoral, que deve passar por todas as nossas decisões e atitudes. (...) A defesa da verdade objetiva não é a única expressão dessa caridade, que também é feita de amabilidade, paciência, compreensão, ternura, encorajamento. Portanto, não podemos nos tornar juízes que apenas negam, rejeitam, excluem”, disse.

“Embora existam situações que do ponto de vista objetivo não são moralmente aceitáveis, a mesma caridade pastoral exige que não tratemos simplesmente as outras pessoas como ‘pecadores’ cuja culpa ou responsabilidade podem estar atenuadas por vários fatores que influenciam a imputabilidade subjetiva”, afirmou.

Os cardeais também questionaram se a carta apostólica Ordenatio sacerdotalis, de 1994, em que João Paulo II negava a ordenação sacerdotal às mulheres, ainda é válida.

Francisco respondeu que, quando o santo polonês defendeu a impossibilidade de ordenar sacerdotisas, “não estava menosprezando as mulheres e concedendo o poder supremo aos homens”, e acrescentou que João Paulo II também sustentou, em sua exortação apostólica Christifideles laici (1988), “que embora apenas o sacerdote presida a Eucaristia, as tarefas ‘não dão origem à superioridade de uns sobre outros’. (...) Se isto não for compreendido e não atentarmos às consequências práticas destas distinções, será difícil aceitar que o sacerdócio está reservado apenas aos homens e não seremos capazes de reconhecer os direitos das mulheres ou a necessidade de elas participarem, de diversas formas, na condução da Igreja”, disse Francisco.

Em entrevista à France-Presse, uma fonte do Vaticano afirmou que “mesmo que o Sínodo não encontre uma resposta concreta para as questões discutidas, já é um grande passo levá-las a debate, visto que eram temas proibidos no passado, sendo atualmente levados à atenção da Igreja. Já é um enorme passo em questões delicadas”, disse. “Antes, não podíamos pronunciar a palavra ‘homossexual’. Agora temos sobre a mesa questões que dizem respeito à homossexualidade”, afirmou, anonimamente.

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