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O Vaticano tentou alistar judeus romanos nas suas forças de segurança em 1943, a fim de salvá-los dos nazistas, disse na terça-feira o segundo homem na hierarquia da Igreja, refutando acusações de que o papa Pio 12, que dirigiu a Igreja durante a Segunda Guerra seria anti-semita.

O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, segundo cargo mais importante da Santa Sé, fez essa revelação na apresentação de um livro do italiano Andrea Tornielli sobre Pio 12.

Bertone chamou de "lenda negra" as acusações de que aquele pontífice teria feito vista grossa ao Holocausto e reafirmou a tese de que o Vaticano atuou nos bastidores para salvar judeus.

Segundo ele, em outubro de 1943 o Vaticano pediu aos ocupantes alemães permissão para recrutar 1.425 homens a mais para a hoje extinta Guarda Palatina, que patrulhava o Vaticano e prédios da Igreja em Roma.

Segurando documentos ainda sigilosos do Vaticano, Bertone disse que isso era uma tentativa de atrair judeus para a força e assim protegê-los. Mas os ocupantes alemães e seus aliados fascistas quiseram os nomes, datas de nascimento e raça dos homens chamados. "Nossa gente disse que não", afirmou o cardeal, sem dar mais detalhes.

Naquele mesmo mês, as forças nazistas prenderam judeus do gueto de Roma, dos quais mais de mil foram mandados para a morte no campo de concentração em Auschwitz, enquanto centenas de outros conseguiram se esconder em casas de famílias católicas.

Um historiador judeu se disse intrigado com a história contada por Bertone. "Se o Vaticano tem os documentos, vamos vê-los", disse Marcello Pezzetti, especialista na história judaica de Roma. "Esses são tópicos muito importantes, que precisam de uma linguagem mais precisa. A linguagem vaga não ajuda ninguém."

Alguns judeus acusam Pio 12, que governou a Igreja entre 1939 e 1958, de ter sido indiferente ao Holocausto, mas seus simparizantes afirmam que o pontífice não se pronunciou mais incisivamente contra o nazismo porque temia que isso provocasse represálias, piorando a situação de judeus e católicos.

"É deslocado acusá-lo de 'silêncio"', disse Bertone, para quem Pio 12 escolheu "um perfil discreto" e agiu "dentro dos limites das circunstâncias impostas a ele".

O cardeal considerou "incompreensíveis" as afirmações de que o papa da época deveria ter se empenhado mais em proteger os judeus. Simpatizantes dizem que Pio 12 ordenou que igrejas e conventos romanos recebessem judeus depois da ocupação nazista na cidade.

Neste mês, um departamento do Vaticano aprovou um decreto reconhecendo as "virtudes heróicas" de Pio 12.

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