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Quatro bispos chineses envolvidos em uma polêmica entre Pequim e o Vaticano podem ser excomungados, mas a Igreja não quer tirar conclusões precipitadas, disse o porta-voz do Papa Bento XVI nesta quinta-feira.

Joaquín Navarro-Valls disse em comunicado que a nomeação de dois bispos da Igreja Católica, que é controlada pelo governo chinês, foi feita sem a aprovação do Papa e que isso é "uma grave violação da liberdade religiosa".

O porta-voz lembrou que há graves sanções previstas aos clérigos que participem desses atos não-autorizados, referindo-se a uma lei canônica segundo a qual o bispo responsável e o padre elevado ao nível episcopal são automaticamente excomungados.

Porém, a excomunhão é a punição mais grave que a Igreja pode impor, e o Vaticano não a usa levianamente. Excomunhões que no passado se tornaram célebres, com a do arcebispo rebelde Marcel Lefebvre, em 1988, só ocorreram após repetidos alertas.

Questionado pela Reuters se os clérigos chineses envolvidos nas ordenações estão fora da Igreja, Navarro-Valls disse que "isso é algo que vamos pensar mais tarde, não neste momento".

- Ainda não temos todas as informações - acrescentou.

O porta-voz não entrou em detalhes, mas sua declaração deixa claro que o Vaticano considera que as autoridades chinesas obrigaram Liu Xinhong e Ma Yingling a aceitar a ordenação não-autorizada.

A nota diz que o Vaticano recebeu informações de que os bispos e padres envolvidos passaram por "forte pressão e ameaças" para participar, "contrários à sua consciência", na ordenação, que foi qualificada de "ilegítima".

Pela doutrina moral católica, alguém que não concorde livremente com algo não pode ser considerado responsável por esse ato.

A excomunhão de Marcel Lefebvre, ocorrida após anos de tensão entre o rebelde ultratradicionalista e o Vaticano, tornou-se oficial quando ele sagrou quatro bispos na Suíça, num claro desafio à autoridade do Papa João Paulo II.

As ordenações na China provocaram surpresa, especialmente porque as relações bilaterais, rompidas em 1951, parecem ter melhorado nos últimos anos, desde que Pequim passou a permitir que os clérigos buscassem aprovação do Vaticano antes de assumir postos na Igreja local, que é controlada pelo regime comunista.

Navarro-Valls disse que o Vaticano continuará buscando o diálogo com as autoridades chinesas, apesar de as ordenações parecerem uma volta ao passado, quando Pequim promovia o catolicismo local contra o de Roma.

- Para nossa surpresa, pensávamos que atos como esses pertenciam ao passado, e infelizmente pertencem ao presente - disse Navarro-Valls. - Mas, a nossa disposição é continuar com um verdadeiro diálogo e tentaremos dar o melhor por uma solução.

- Este é mais um obstáculo, mas nosso estilo é o de melhorar o diálogo - acrescentou.

Ele disse ainda que a Santa Sé tem informações de que mais ordenações como esta estão a caminho.

- Soubemos que há outras planejadas para o futuro - afirmou. - Consideramos isso um ato sério contra a liberdade de religião e a liberdade de consciência.

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