
O Vaticano vai abrir uma investigação para averiguar se a própria polícia maltratou na prisão o mordomo Paolo Gabriele, que servia ao Papa Bento XVI. Segundo Gabriele, que é acusado de roubar e vazar documentos secretos da Igreja Católica para a imprensa italiana, policiais o prenderam em um quarto pequeno com a luz acesa constantemente nas primeiras semanas em que esteve detido.
O julgamento, que começou no último sábado (29), foi retomado nesta terça-feira (2), quando Gabriele e seus advogados entraram com a queixa contra a polícia do Vaticano. O mordomo também depôs nesta manhã, em seu primeiro interrogatório público sobre o escândalo. Ele, que já tinha confessado o crime, alegou inocência na acusação de roubo agravado, mas se declarou culpado por trair a confiança de Bento XVI, quem ele disse amar como a um pai.
Perguntado por sua advogada, Cristiana Arru, se era verdade ter passado as primeiras semanas num quarto tão pequeno que não poderia esticar os braços, Gabriele respondeu "sim". Para a advogada, houve pressão psicológica.
"Nos primeiros 15 a 20 dias, a luz ficava acesa 24 horas por dia. Minha visão ficou prejudicada por isso", declarou o réu.
O mordomo foi detido no final de maio depois de a polícia encontrar documentos do Papa em sua casa. Segundo a Promotoria, Gabriele confessou ter vazado informações porque queria expor e extirpar "o mal e a corrupção" dentro da Igreja.
"Vendo o mal e a corrupção por todas as partes da Igreja, estava convencido de que um choque midiático poderia ser bom para levar a Igreja de volta ao caminho certo", teria dito o mordomo a promotores na época da prisão.
Gabriele sugeriu ainda que algumas informações importantes não estavam sendo passadas para o Papa.
O juiz Giuseppe Della Torre espera um julgamento rápido, com mais quatro audiências e término ainda nesta semana. Para analistas, o Vaticano tem interesse em um processo rápido para não fazer mais alarde para as disputas internas dentro do alto escalão da Santa Sé, algo que veio à tona após a publicações dos documentos vazados, no início deste ano.
Além de Gabriele, o secretário particular de Bento XVI, o sacerdote alemão George Ganswein, cujo despacho Gabriele roubava os documentos secretos, também depôs nesta manhã. Ganswein disse que começou a suspeitar do mordomo depois que ele percebeu que três documentos publicados nos jornais italianos só poderiam ter vindo do escritório que dividia com Gabriele.
O mordomo, de 46 anos, pode ser condenado a até quatro anos de prisão. Apesar de já ter se declarado culpado, a promotoria quer investigar se o mordomo está protegendo outro envolvido no caso.



