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Este é um trunfo para os Estados Unidos

Ross Douthat, colunista do jornal The New York Times

Durante meses após o atentado de 11/09, as pessoas temeram aviões. Elas ficaram de olho em arranha-céus. Todo mundo olhava por cima do ombro em ambientes lotados – jogos de futebol, formaturas, festas de fim de ano.

Agora este homem está morto. Este é um trunfo para os Estados Unidos, dos soldados e membros da inteligência americana, e também para o presidente Obama. Entretanto, este trunfo não é tão poderoso como poderia ter sido se Bin Laden fosse preso há uma década. Esses 10 anos de espera nos ensinaram que não precisamos temê-lo tanto como temíamos nas semanas em que as ruínas das torres gêmeas ainda expeliam fumaça.

Eles nos ensinaram, ao invés, que não importa que erro cometamos (e cometemos vários), apesar das vantagens que desperdiçamos (e houve muitos desperdícios), e em quais lamaçais possamos nos encontrar, que nossa civilização é fundamentalmente ameaçada por políticas fantasiosas e utópicas incorporadas por grupos como a Al-Qaeda, ou bandos de criminosos, tolos e pseudo-intelectuais que se escondem por trás de sua propaganda.

Eles podem atingir, ferir e matar os americanos. Eles podem levar nossos governos a cometer erros táticos e falhas estratégicas. Mas eles não são, nem jamais serão, uma ameaça existencial.

Isso não ficou claro imediatamente após o 11 de setembro. Naquele dia, eles nos pegaram de surpresa. Eles tiraram proveito da grande força da sociedade americana – da sua abertura e liberdade e das boas-vindas que ela dá aos imigrantes. Quando fomos atacados pelos terroristas, não sabíamos do que eram capazes.

Agora nós sabemos. E sabemos disso por que Bin Laden finalmente se foi.

Aprendemos a lição em todos os dias que se seguiram sem ataques, em cada ano que passou, e na forma que nossos olhos, gradualmente, deixaram de cuidar dos céus para cuidar do arranha-céu, e deixaram de olhar para eles para cuidar das coisas comuns da vida.

Descobrimos isso quando os aviões pousaram em segurança, quando os shoppings se mantiveram abertos.

Dia após dia, hora após hora, aprendemos que nós éramos fortes e eles eram fracos.

Uma das frases mais famosas de Bin Laden (e não são muitas que ele deixou) comparava os EUA e a Al-Qaeda a cavalos de corrida. "Quando as pessoas veem cavalos fortes e cavalos fracos é natural que elas apostem nos fortes", disse o terrorista aos seus comparsas.

Em sua visão doentia, os EUA eram um pangaré fraco e a Al-Qaeda um forte alazão.

Todavia, os últimos 10 anos nos deram uma lição diferente: Na vida, assim como na morte, Osama bin Laden foi sempre o cavalo fraco.

Depois de Osama bin Laden...

Nicholas Kristof, colunista do jornal The New York Times

Primeiramente, eliminar Osama foi bom para a reputação, poder e influência dos Estados Unidos. A habilidade de Bin Laden para escapar dos norte-americanos e sua aparente impunidade, passou para alguns grupos islâmicos a imagem de que os EUA não passam de um tigre de papel, o que encorajou extremistas. O próprio Bin Laden disse certa feita que as pessoas apostam no cavalo forte, o cavalo que irá vencer, e a morte dele sugere que os EUA são o cavalo em que se deve apostar.

Dito isto, matar Bin Laden não representa eliminar a Al-Qaeda. Ayman al-Zawahri, o egípcio número 2 da organização e possível sucessor de Osama, tem sido crucial para as operações da organização. A Al-Qaeda é uma rede desconexa e não uma estrutura organizada, e isto ficou mais evidente nos últimos anos.

A morte de Bin Laden teria mais impacto em 2002 ou 2003. Na época, muitas pessoas em países como o Paquistão tinham uma grande estima pelo terrorista e não acreditavam que ele estivesse diretamente ligado aos ataques do 11 de Setembro.

Tal percepção mudou com o passar do tempo: a opinião popular se voltou contra o terrorista saudita, e camisetas a favor do terrorista não são mais vistas nos mercados. Algumas pessoas ainda possuem certo respeito por ele por ter sido mais esperto que os EUA, e outras são tão antiamericanas que irão apoiar qualquer pessoa desprezada pelos americanos, mas mesmo assim Bin Laden acabou sendo marginalizado com o passar do tempo.

A imagem decadente de Osama bin Laden também atesta que ele não será um mártir em vários círculos. Muitos cidadãos comuns paquistaneses, iemenitas e afegãos irão simplesmente dar de ombros e seguir adiante com suas vidas. A morte de Osama não será capaz de inspirar as pessoas como faria em 2002. Além disto, a Al-Qaeda já está tendo dificuldades para realizar suas operações desde o início da Primavera Árabe; perder seu principal líder nesta altura do campeonato foi um golpe doloroso.

Será fascinante observar qual será a reação paquistanesa a uma intervenção militar americana. Parecia-me que Obama estava se esforçando para demonstrar respeito ao Paquistão – e para enfatizar que Osama era um inimigo do Paquistão assim como era dos EUA – precisamente por estar preocupado que os paquistaneses recebessem a intervenção americana como uma ofensa.

Uma dúvida é saber se a morte de Osama irá trazer dados que possam nos ajudar a localizar Zawahri e outros líderes ou membros da Al Qaeda, quer seja no Paquistão ou qualquer outro lugar do mundo.

Finalmente, o que isto representa para os prospectos políticos de Obama? Creio que não representa muita coisa. As eleições de novembro de 2012 ainda estão muito longe e o maior problema político deve ser a economia. Afinal de contas, George W. Bush se tornou herói após a vitória na Guerra do Golfo, no início de 1991, mas perdeu as eleições para Bill Clinton em novembro de 1992 devido ao recesso econômico da época.

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