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Profundas divisões regionais estão complicando um ambicioso plano do presidente Evo Morales para reescrever em um ano a Constituição boliviana, especialmente para dar mais poderes à maioria indígena.

Conforme se aproxima o fim do prazo da Constituinte, a profunda rivalidade entre as partes baixas do país (mais ricas) e a área andina se acirra, sem uma solução à vista.

"Há diversidade demais na Bolívia, e infelizmente não ouvimos uns aos outros", disse Rolando Quispe, 32 anos, supervisor de um escritório na cidade de La Paz.

Insultos e até socos foram trocados durante quase um ano de debate na Constituinte, e por causa de discordâncias sobre o sistema de votação não houve avanços durante os primeiros seis meses.

A tensão aumentou nesta semana por causa da autonomia a ser concedida ou não aos nove governos regionais e às comunidades indígenas. O governo esquerdista e a oposição de direita se acusam mutuamente de sabotar as reformas.

As últimas propostas devem ser apresentadas até quinta-feira, para que a nova Constituição seja promulgada em 6 de agosto, Dia da Independência. Mas há obstáculos.

Nesta semana, líderes dos quatro Departamentos que lutam por mais autonomia, entre eles a rica região de Santa Cruz (leste), convocaram manifestações nas ruas e bloqueios rodoviários contra a idéia de Morales de conceder a grupos indígenas poderes como os de punir criminosos e decidir sobre o uso de recursos naturais.

Morales diz que a elite econômica do país se opõe às reformas por temerem a perda de séculos de privilégios. Mas nos últimos dias ele atenuou o tom.

"A Assembléia Constituinte é para unir os bolivianos", disse ele a uma rádio. "Temos de trabalhar juntos por um país unificado. A questão da independência e do separatismo me preocupa."

A exemplo do venezuelano Hugo Chávez, Morales convocou a Constituinte assim que tomou posse. O equatoriano Rafael Correa recentemente fez o mesmo.

A questão das autonomias não é o único entrave na Constituinte boliviana.

Manifestantes diversos -- de universitários a mineiros agitando bananas de dinamite -- foram nos últimos dias à Constituinte, que funciona na cidade de Sucre, para expor reivindicações. Na noite de terça-feira, a polícia entrou em choque com estudantes.

Além disso, os constituintes de La Paz, capital administrativa, ameaçaram abandonar a Constituinte em protesto contra uma proposta para transferir os poderes Executivo e Legislativo para Sucre, sede do Judiciário.

Apesar dos conflitos, muitos bolivianos estão otimistas com a reforma constitucional. "Seria ótimo ter um país unificado", disse Patrício Kusicanqui, 40 anos, num ponto de ônibus de La Paz.

"Espero que esta Constituição signifique que sejamos menos divididos. Se não, onde isso vai parar?"

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