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Cristina Kirchner entre Maradona e o presidente da Bolívia, Evo Morales, na despedida ao marido: desafio de governar sozinha | Presidência da Argentina/AFP
Cristina Kirchner entre Maradona e o presidente da Bolívia, Evo Morales, na despedida ao marido: desafio de governar sozinha| Foto: Presidência da Argentina/AFP

Futuro

Morte do marido põe à prova governo de Cristina

A morte do ex-presidente Néstor Kirchner deixou sua viúva e chefe de Estado, Cristina, no centro da cena política e põe à prova sua capacidade de liderar o governo até as eleições de 2011, avaliam especialistas. Presidente entre 2003 e 2007, Kirchner exercia um papel crucial como artífice do tecido político que dava sustentabilidade ao governo da esposa.

"Agora não resta dúvida alguma de que a única figura do cenário político é a presidente Cristina Kirchner", diz o sociólogo Ricardo Rouvier, descartando inconvenientes na governabilidade, embora tenha questionado a capacidade da presidente de cumprir o papel do marido.

Já o cientista político e professor da Universidade de Buenos Aires, Edgardo Mocca, rejeita que a morte de Kirchner deixe o governo em meio à incerteza. "Obviamente são enormes as repercussões políticas, mas não é que estejamos em uma situação de incerteza nem de crise institucional", diz Mocca.

No entanto, ele adverte que a situação pode ser aproveitada por setores da oposição para gerar desestabilização. "Não se deve esquecer o ódio particular de setores que não se viram beneficiados pelo kirchnerismo", reforça.

Críticos do governo, principais jornais noticiam morte com sobriedade

Buenos Aires - Apesar dos constantes embates entre a imprensa e o governo de Cristina Kirchner, a mídia argentina adotou um tom sóbrio ao noticiar a morte de Néstor Kirchner.

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Entrevista

Gerardo Strada Sáenz, professor de Relações Internacionais e Ciências Políticas na Universidade Nacional de Lanus

Com a morte de Kirchner o partido Justicialista (governista, fundado por Perón) fica mais fraco?

Não, mas existe uma interrogação importante porque Kirchner, além de fundar o "kirchnerismo", também foi um líder que manejou toda a estrutura do que nós chamamos de "armação política", o que gera expectativa sobre quem vai encarar agora a construção política.

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  • Veja alguns personagens centrais que devem movimentar a era pós-Kirchner

Buenos Aires - O ex-presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007) foi velado ontem por uma multidão de militantes que tomou o centro de Bue­­nos Aires e transformou a morte do líder em uma demonstração de força popular da coalizão governista.

Kirchner morreu ontem, aos 60 anos, vítima de um duplo infarto enquanto descansava na Pro­­víncia de Santa Cruz, no extremo sul, junto da mulher e atual presidente, Cristina Kirchner.

Ele foi velado na Casa Rosada, sede do Executivo, com o caixão fechado e coberto pela bandeira argentina.

Não foram divulgadas as razões para a quebra de protocolo, que sugere o velório de ex-presidentes com o caixão aberto, no Congresso.

A cerimônia está prevista para terminar na manhã de hoje, quando o corpo deve ser trasladado pa­­ra enterro em Río Gallegos, capital de Santa Cruz, onde está enterrado o pai e mora a mãe de Kirchner.

Cristina esteve ao lado do caixão a maior parte do dia, com os filhos Máximo, 32 anos, e Florên­­cia, 19 anos. De óculos escuros, a presidente chorou intensamente pela manhã e, à tarde, expressava alguns sorrisos e retribuía acenos de quem passava pelo salão para se despedir de Kirchner.

Segundo o chanceler do país, Héctor Timerman, a presidente "está destruída com a perda, mas continuará governando pelo mesmo caminho’’.

Além dos milhares de militantes e autoridades, estiveram na Casa Rosada os presidentes da Bolívia, Chile, Equador, Uruguai, Colômbia, Paraguai e Venezuela. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha a chegada prevista para a noite.

O ídolo do futebol argentino Diego Maradona e opositores políticos de Kirchner também foram ao velório e lamentaram publicamente a morte do ex-presidente.

Para Maradona, Kirchner era um "gladiador’’, que "tinha muito do [militante esquerdista argentino Ernesto] Che Guevara’’.

Três horas andando

A concentração de militantes e admiradores políticos de Kirchner na praça de Maio – em frente à sede do Executivo – começou lo­­go após sua morte. Ontem a multidão já ocupava uma área de dez quadras.

As ruas de Buenos Aires amanheceram tomadas por cartazes que diziam "Néstor para sempre’’ e "Força Cristina’’ sobre uma foto do casal presidencial abraçado.

A Casa Rosada ficou quase en­­coberta pelas faixas e mensagens penduradas nas grades que circundam a sede do Executivo.

O metrô funcionou gratuitamente e os maiores canais de tevê cancelaram a programação normal para transmitir o velório.

A população pôde se despedir de Kirchner passando ao lado do caixão depois de enfrentar uma fila que, na tarde de ontem, se es­­tendia por 13 quadras.

Quando chegavam perto do caixão, muitos aplaudiam e gritavam palavras de força para a presidente.

Norma Mendez, 39 anos, caminhou por três horas desde Avella­­neda, na região metropolitana da capital, até a praça. Teve de esperar sete horas para deixar flores e uma bandeira ao lado do caixão.

Pia Paz, 49 anos, veio de ônibus desde a Província de Santiago del Estero, a mais de 1.000 km. "Nunca o povo pobre teve tanto como agora e não queremos retrocesso’’, disse.

Último da fila por volta das 15 h, o advogado Claudio Frai, 45 anos, não tinha ideia de quanto tempo levaria para entrar na Casa Rosada.

"Para a minha geração, não há uma referência maior que Kirch­­ner. Ele transformou a economia e a sociedade desse país. Não saio daqui até me despedir, e a multidão não me desestimula’’.

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