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A polícia de choque enfrenta manifestantes durante protesto contra o regime do ditador Nicolás Maduro, 23 de janeiro, em Caracas | YURI CORTEZ / AFP
A polícia de choque enfrenta manifestantes durante protesto contra o regime do ditador Nicolás Maduro, 23 de janeiro, em Caracas| Foto: YURI CORTEZ / AFP

Esta quarta-feira, 23 de janeiro, foi um dia de convulsão na Venezuela. Centenas de milhares de pessoas foram às ruas no país – e fora dele – para exigir a saída do ditador Nicolás Maduro do poder. As manifestações foram convocadas pela oposição para esta data que marca 61 anos do fim da ditadura do general Marcos Pérez Jiménez, que ficou no poder por dez anos. 

Durante a tarde, o líder oposicionista Juan Guaidó, atual presidente da Assembleia Nacional, se declarou presidente interino da Venezuela e recebeu o apoio de vários países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Canadá e diversos países da América Latina.

“Sabemos que isso vai ter consequências. Mas não vamos permitir que se desinfle esse movimento de esperança, que seguirá ainda por dias, semanas ou meses, e por isso peço a todos os venezuelanos que juremos como irmãos que não descansaremos até alcançar a liberdade”, afirmou Guaidó.

Esse passo inicia uma nova etapa na Venezuela, que conta agora com um presidente que tem o apoio da maioria da população e da comunidade internacional, e outro que detém o poder sobre as instituições do Estado, embora esteja cada vez mais isolado internacionalmente. 

Guaidó anunciou que serão apresentados, no fim de semana, o plano de anistia e o programa para a transição caso seja possível possível remover Nicolás Maduro do cargo.

Leia também: A Venezuela reage (Editorial da Gazeta do Povo de 23 de janeiro)

Houve tensão e repressão do regime bolivariano contra os manifestantes. A imprensa local relata que nove pessoas morreram durante os protestos entre os dias 22 e 23. Os primeiros registros são de casos em Caracas, às 23h da terça-feira e na madrugada desta quarta. 

Segundo o jornal venezuelano Efecto Cocuyo, na cidade de Catia, um homem e uma mulher de 19 e 20 anos de idade, respectivamente, foram levados ao hospital com feridas de bala e depois morreram. Na madrugada do dia 23, em Ciudad Bolívar e Ciudad Guayana, várias pessoas saquearam o comércio. Em meio à confusão, quatro pessoas teriam morrido. 

Por volta do meio-dia, horário local, outras duas pessoas teriam sido mortas por armas de fogo após terem sido reprimidas por funcionários de segurança em Puerto Ayacucho.

Cidadãos denunciaram que funcionários da Guarda Nacional Bolivariana lançaram bombas de gás lacrimogêneo em uma estação de metrô de Caracas, em direção a pessoas que haviam se abrigado no local.

As comunicações também ficaram prejudicadas. Segundo o site Netblocks, que monitora cybersegurança, a internet na Venezuela teve grandes interrupções durante os protestos. Essas falhas detectadas pelo observatório da internet do Netblocks afetaram YouTube, Google, servidores para plataforma Android e outros serviços. As redes sociais foram especialmente prejudicadas, com Facebook e Instagram caindo repetidamente.

Outro infortúnio para Maduro nesta quarta-feira foi a retirada do selo de verificação da sua conta oficial no Instagram, enquanto Juan Guaidó teve a sua conta verificada na mesma rede social.

Manifestante mostra ferimentos causados por balas de borracha durante confronto com a polícia de choqueFEDERICO PARRA / AFP

Reação internacional

Imediatamente após Guaidó se declarar presidente interino, líderes internacionais começaram a manifestar apoio à decisão. O presidente americano Donald Trump foi o primeiro a declarar o reconhecimento à legitimidade da presidência interina de Juan Guaidó. Logo em seguida, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro reafirmou apoio ao processo de transição democrática na Venezuela, em vídeo gravado em Davos, na Suíça, ao lado de representantes do Canadá, Peru e Colômbia.

Além de Brasil e Estados Unidos, também manifestaram apoio a Juan Guaidó Colômbia, Paraguai, Argentina, Chile, Equador, Guatemala, Canadá, o Conselho Europeu, a Organização dos Estados Americanos, entre outros.

Dos 14 países que compõem o Grupo de Lima, criado para buscar uma solução para a crise venezuelana, apenas Guiana, Santa Lúcia e o México de Andrés Manuel López Obrador não apoiaram Guaidó.

Entre os que mantiveram o reconhecimento de Maduro como presidente da Venezuela estão também Turquia, Rússia, Bolívia e Cuba.

Em reação, Maduro anunciou o fim das relações diplomáticas e políticas com os Estados Unidos, e determinou que diplomatas americanos deixem o país em 48 horas.

Resposta de Maduro

Durante discurso para apoiadores no Palácio de Miraflores, em Caracas, Maduro qualificou como uma "tentativa de golpe", orquestrada pelos Estados Unidos, a declaração de mais cedo de Juan Guaidó. Segundo Maduro, o "governo imperialista" dos EUA busca impor um "golpe de Estado", o que ele diz que evitará.

Foto distribuída pela presidência da Venezuela mostra Maduro durante ato com apoiadores, no Palácio de Miraflores, em Caracas MARCELO GARCIA / AFP

"Um qualquer não pode se autointitular presidente, só o povo", ressaltou Maduro. Segundo ele, houve "eleições livres" na Venezuela em 15 de outubro, apesar das críticas ao processo de parte da comunidade internacional, inclusive do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia, bem como de vários países, como os EUA. Por outro lado, o processo eleitoral foi apoiado por China, Irã, Rússia e Turquia, por exemplo. Em sua fala hoje, Maduro disse que falou recentemente por telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que renovou seu apoio.

Em mais uma indicação de que as Forças Armadas permanecerão ao lado de Maduro,  o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, afirmou na tarde de quarta que “os soldados da pátria não aceitamos um presidente imposto a sombra de interesses obscuros, nem autoproclamado à margem da Lei”.

“A FANB [Força Armada Nacional Bolivariana] defende nossa constituição e é a garantia da soberania nacional”, acrescentou Padrino López.

Na segunda-feira, membros de uma unidade da Guarda Nacional Bolivariana em Caracas se rebelaram, convocando outros militares a se levantar contra o regime chavista, e foram presos horas depois.

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