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| Foto: FEDERICO PARRA/AFP

A Venezuela viveu uma semana turbulenta e a que está começando não promete ser menos intensa. Como já havia sido previsto por observadores internacionais, o suposto atentado contra o ditador Nicolás Maduro serviu como pretexto para o regime aumentar a repressão contra a oposição, que, por sua vez, o acusa de violação de direitos. 

Além das seis pessoas que foram presas por participação no suposto atentado, no domingo passado (5), também foi detido o deputado federal Juan Requesens, sob a mesma acusação. Segundo o partido de oposição Primero Justicia, ele foi capturado na terça-feira (7) por 14 agentes do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência). O Supremo Tribunal de Justiça do país havia solicitado à Assembleia Nacional Constituinte a retirada da imunidade parlamentar de Requesens, mas a sessão que aprovou essa manobra foi realizada somente no dia seguinte à sua prisão. 

Seu paradeiro, família e advogado disseram que não sabiam. Foi apontado pela Assembleia Nacional do país, de maioria oposicionista, como desaparecido. Somente na sexta-feira (10) à tarde foi anunciada sua transferência da sede do Sebin para o Palácio da Justiça. 

Neste mesmo dia, dois vídeos de Requesens vieram à público e colocaram mais dúvidas sobre a ação da polícia bolivariana nas investigações sobre o suposto atentado. Um deles foi divulgado pelo jornalista Alberto Rodríguez, em que o deputado está, segundo ele, "drogado e com as roupas cheias de fezes", o que, de acordo com seu relato, teria causado indignação até das autoridades. 

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Maduro foi à público apresentar sua versão. O vídeo “escatológico”, segundo ele, pode ser explicado pelo fato de que Requesens “ficou nervoso quando foi capturado e teve que ser atendido pelos médicos do Sebin”. Acrescentou ainda que vai abrir uma investigação para saber como o vídeo foi parar nas redes sociais. 

O segundo vídeo foi publicado pelo próprio governo. O ministro de Comunicações, Jorge Rodríguez, transmitiu um vídeo do interrogatório de Requesens, em que o parlamentar confessa que fez o contato para ajudar Juan Monasterio, que também protagoniza um vídeo confessando que organizou o suposto atentado, a passar da Venezuela para a Colômbia. 

“Várias semanas atrás, fui contatado por Julio Borges, que me pediu o favor de passar uma pessoa da Venezuela para a Colômbia. Se tratava de Juan Monasterio. Entrei em contato com ele através de mensagens. Escrevi para Mauricio Jiménez, supervisor de imigração. Fiz o pedido e ele imediatamente contactou Juan Monasterio para fazer a passagem de San Antonio (Venezuela) para Cúcuta (Colômbia). Eu estava em San Cristóbal, não tive contato físico com Juan Monasterio, só através das mensagens solicitadas”, declara Requesens no vídeo. 

A confissão também foi usada pelo regime chavista para emitir uma ordem de prisão contra o ex-presidente da Assembleia Nacional Julio Borges, exilado na Colômbia. 

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“Juan Requesens confessa sua cumplicidade e denuncia que o fez sob as ordens de Julio Borges. O que vão dizer agora, que Requesens está mentindo? Convido Borges a desmentir Requesens”, disse Rodríguez em coletiva de imprensa ao apresentar o vídeo. 

Violação de direitos

A reação da oposição foi a esperada. A procuradora-geral Luisa Ortega Días afirmou que o vídeo é consequência de tortura psicológica e física ao qual foi submetido. “Não sabemos o que disseram a ele, como o pressionaram para afirmar esses fatos incriminadores, sem a presença de advogados, o que viola todos os padrões internacionais e nacionais em relação ao devido processo”, afirmou. 

O jornal El Nacional publicou um texto em que o psicólogo Alberto Barradas analisa o vídeo da confissão e afirma que a linguagem corporal de Requesens dá a entender que ele estava drogado, espancado e ameaçado.

No sábado, o governo revelou um novo vídeo do deputado. Desta vez ele aparece falando que Rayder Alexander Russo, conhecido como Sargento Pico, é autor intelectual do suposto atentado contra Maduro. Russo foi apontado pelo regime como um dos mentores do “ataque” e, segundo Maduro, se encontra “protegido pelo governo da Colômbia”.

A família de Requesens ainda não pode vê-lo. Somente na manhã deste domingo (12) puderam conversar com ele, por telefone. Na chamada, o deputado falou sobre seu estado de saúde e pediu alguns itens de higiene pessoal, segundo uma nota publicada pela família. 

“Queremos enfatizar que desconhecemos baixo a quais condições Juan realizou esta chamada, já que nos parece estranho que há mais de 120 horas de seu sequestro por parte do Sebin nos foi negado qualquer possibilidade de vê-lo, constatar seu estado físico ou que ele possa contatar seus advogados. Pelo contrário, a única coisa que sabemos sobre o estado físico de Juan Requesens é o vídeo que o país e o mundo inteiro conheceu pelas redes sociais, situação que nos mantém sumamente preocupados pela sua integridade física e psicológica”, declarou a família.

Uma audiência sobre o caso de Requesens deve ocorrer na segunda-feira (13). 

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A comunidade internacional, além de não reconhecer as explosões como atentado – solicita investigações transparentes por parte do regime – começa a questionar a prisão de Requesens. Francisco Palmieri, secretário adjunto do Estado americano para a América Latina, afirmou, pelo Twitter, que considera ilegal a prisão do deputado. 

“Maduro e sua polícia secreta continuam a desconsiderar o estado de direito em sua mais recente detenção ilegal do membro da Assembleia Nacional, eleito constitucionalmente, Juan Requesens. Último exemplo em uma longa lista de abusos de direitos humanos”. 

Borges

Outro deputado também é alvo do regime madurista: o ex-presidente da Assembleia Nacional e coordenador nacional do partido de oposição Primero Justicia, Julio Borges. A Assembleia Nacional Constituinte também revogou sua imunidade parlamentar e há um mandado de prisão emitido contra ele por participação no suposto atentado. O político está exilado na Colômbia desde fevereiro. Na quinta-feira à noite ele relatou pelas redes sociais que sua casa havia sido “invadida” pelo Sebin, já que a polícia de Maduro, segundo ele, não tinha mandado de busca e apreensão. O deputado viu o ato como uma tentativa de implantar em sua casa provas que o ligassem ao suposto atentado.

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